Uma das muitas dúvidas que já devem ter desaparecido da cabeça de Sérgio Conceição com vista ao clássico com o Benfica, na Luz, sábado, é a composição do ataque. Se o poderio do adversário ainda poderia contribuir para que o treinador do FC Porto optasse por um 4x3x3 mais clássico, com Marega ao meio e um extremo capaz de cobrir defensivamente o corredor direito, os três golos de Zé Luís ao Vitória FC terão inviabilizado essa ideia mais conservadora: além de ser a melhor opção que o treinador tem para o lugar de ponta-de-lança, o avançado cabo-verdiano é um dos 67 jogadores em toda a história do clube a ostentar no ombro a insígnia do hat-trick.
O próprio Zé Luís não fazia um hat-trick desde Abril de 2015, quando assinou os três golos do SC Braga de um certo Sérgio Conceição na vitória por 3-0 sobre o Rio Ave, na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Depois, lesionou-se na segunda mão e acabou por não estar disponível para a final, último jogo do treinador em Braga, saldada por uma derrota nos penaltis com o Sporting. Na Liga, porém, este foi o primeiro hat-trick de Zé Luís, jogador que chegou a Portugal vindo do Batuque para alinhar nos juniores do Gil Vicente, em 2009, e que depois, a nível sénior, representou a equipa de Barcelos, o SC Braga, os húngaros do Videoton e os russos do Spartak Moscovo.
Além disso, os três golos de Zé Luís ao Vitória FC foram o primeiro hat-trick de um jogador do FC Porto na Liga desde que, a 18 de Janeiro deste ano, o agora caído em desgraça Soares abriu com três tentos em nome pessoal uma vitória por 4-1 sobre o GD Chaves, em Trás-os-Montes. Zé Luís foi o 67º jogador portista a assinar um hat-trick na Liga, intrometendo-se numa lista onde faltam alguns dos mais notáveis avançados que o clube teve nos últimos anos, como Hulk, Falcao, Lisandro López, Farias, Pena ou Hélder Postiga. Nenhum destes foi alguma vez além do bis, servindo como atenuante o facto de marcar três golos num só jogo já não ser tão fácil como era nos primórdios do futebol: só 13 dos 198 hat-tricks da história do FC Porto na Liga (6,6%) ocorreram nas 19 épocas deste século, ao passo que 74 (37,4%) foram obtidos nos primeiros 19 campeonatos.
O bi-Bota de Ouro, Fernando Gomes, é o líder destacado desta lista de “hat-tricks” com a camisola portista, tendo marcado 29 nas 13 temporadas em que vestiu de azul e branco. Fez o primeiro (que, aliás, até foi um póquer) a 30 de Março de 1975, num 6-1 ao Farense, no São Luís, em Faro, e o último mais de 13 anos depois, a 29 de Maio de 1988, num 4-0 ao mesmo adversário, mas desta vez nas Antas. Depois da saída de Gomes, rumo ao Sporting, a lista de hat-tricks pelo FC Porto já não é assim tão concorrida. Nela figuram jogadores incontornáveis, como Rui Águas (dois, em 1989), Domingos (três, de 1989 a 91), Kostadinov (dois, em 1994), Edmilson (um, em 1996), Jardel (dez, de 1996 a 2000), Deco (um, em 2001), McCarthy (três, de 2002 a 2004), Derlei (um, em 2003) ou Jackson (um, em 2013), mas também passageiros de ocasião, como Mihtarski (um, em 1991), Kléber (um, em 2012), Tello (um, em 2015), Jota (um, em 2016), Aboubakar (um, em 2017) ou o já referido Soares.
Mesmo tendo assinado um hat-trick puro (três golos consecutivos), num aspeto Zé Luís ficou bem longe do recorde do clube: o seu hat-trick levou 52 minutos a ser consumado. Foi esse o tempo que mediou entre o primeiro golo, aos 11’, e o terceiro, aos 63’. O recorde do clube foi estabelecido e nunca batido por Correia Dias, a 31 de Maio de 1942, quando o atacante marcou seis dois nove golos com que o FC Porto despachou o Olhanense, estando três deles concentrados num período de cinco minutos: aos 46’, 48’ e 50’. Gomes, por exemplo, fez por duas vezes hat-tricks concentrados em oito minutos (das duas vezes ao Farense, também), mas este foi um recorde que não conseguiu superar.
Fica aqui o Top10 dos autores de hat-tricks com a camisola do FC Porto na Liga:

