O futebol português está a regressar de uma pausa de Natal e Ano Novo que faz pouco ou nenhum sentido, porque o jogo pára precisamente quando os seus potenciais consumidores têm mais tempo e dinheiro para gastar. E regressa sob o signo dos editoriais. Frederico Varandas até já tinha deixado que o seu texto na edição desta semana do jornal “Sporting” visse a luz do dia na véspera, e hoje foi a vez de Jorge Nuno Pinto da Costa libertar o editorial da revista “Dragões”, também assinado pelo presidente. O Benfica gosta de parecer diferente e aproveitou o dia para lançar o “Benfica Play”, a plataforma que os encarnados tinham apresentado durante o WebSummit como sendo uma espécie de Netflix do clube, e na cerimónia apareceu Domingos Soares Oliveira, o CEO da SAD, a justificar a contratação de Julian Weigl.
Weigl já assinou contrato até 2024, depois de o Benfica ter assegurado a sua aquisição por 20 milhões de euros ao Borussia Dortmund. Os encarnados confirmaram o negócio à CMVM ao final da tarde, comunicando ainda que o alemão fica com uma cláusula de rescisão de 100 milhões de euros. A apresentação deve ficar para amanhã, mas o jogador até já falou aos canais do clube, dizendo que “o Benfica é um grande clube, com uma grande história” e que tinha recolhido informações junto dos ex-colegas Witsel e Guerreiro. De manhã, eu já tinha escrito sobre a contratação do médio internacional alemão, considerando-a uma mensagem de Luís Filipe Vieira para Bruno Lage no sentido de este tornar a equipa competitiva no plano europeu. À hora de almoço, no Futebol de Verdade, comecei a desenhar aquilo que acho que pode vir a ser o meio-campo do Benfica com ele. Pouco depois, na apresentação da plataforma Benfica Play, Domingos Soares Oliveira, CEO da SAD do Benfica, alargou-se acerca da política desportiva que leva os encarnados a investir tanto em jogadores, pois só em Weigl, Vinicius e De Tomás foram gastos 57 milhões de euros. “Há uma mudança que tem muito a ver com a nossa capacidade financeira, que hoje é completamente diferente daquilo que foi no passado”, disse Soares Oliveira, juntando a sua voz à da newsletter diária do clube, onde pode ler-se uma tentativa de “desconstruir a visão infantil [de] que estas aquisições põem em causa a aposta no Seixal”. O assunto não é pacífico e talvez num dos próximos dias me debruce sobre ele.
Varandas e Pinto da Costa
Por falar em newsletters, já tinha dito acima que Frederico Varandas e Jorge Nuno Pinto da Costa escolheram os editoriais das publicações oficiais dos seus clubes para comunicar com os adeptos. Varandas continua a debater com a oposição interna, que aproveitou o erro ortográfico na primeira versão do seu editorial (“consórcios”?) para fazer uma festa no Twitter, enquanto que Pinto da Costa tem o clube controlado e por isso pode centrar-se mais no exterior, apontando baterias ao Benfica.
O presidente do Sporting fez um balanço de 2019, valorizando mais o sucesso na “salvação financeira do clube” do que as vitórias no campo, que em bom rigor não foram assim tantas ou tão importantes, sobretudo se nos cingirmos ao futebol. E falou do investimento nas infra-estruturas para a formação, passando ao lado daquilo que eu, também na edição de hoje do Futebol de Verdade, considerei mais importante na construção do futuro, que é o recrutamento e a capacidade para dar competição aos jovens mais promissores.
Por sua vez, o líder do FC Porto, no balanço que fez de 2019, preferiu disparar no sentido do Benfica, assumindo “a frustração” de voltar “a constatar que o futebol português ainda é muito condicionado por fatores que são alheios ao mérito dos seus principais intervenientes, que devem ser os jogadores e os treinadores”. Pinto da Costa ainda escreve que não pode “ter a certeza de que os imponderáveis” não continuem “a ser decisivos, sempre em prejuízo dos mesmos e a favor dos do costume”, pelo que a resposta não deve tardar, voltando o futebol português a assumir-se como um palco de guerras e condicionamentos que pouco têm a ver com mérito ou capacidade para mostrar valor em campo.
Futebol e mercado
Em campo, precisamente, começou a preparar-se o clássico de domingo, um Sporting–FC Porto que, por ser jogado um dia depois de um igualmente quente Vitória SC–Benfica, pode animar a Liga. Jorge Silas não teve Renan e Neto no treino de hoje, enquanto que no FC Porto Sérgio Conceição teve Danilo condicionado, com problemas no joelho direito. Ainda assim, sem bocas nem jogos, o destaque do dia vai para o mercado, que já abriu. É certo que, como o Fernando Gamito explica numa reportagem que hoje publicámos, o mercado de Janeiro perdeu fulgor desde que o futebol chinês deixou de ser tão pujante nas compras, mas ainda assim houve novidades importantes além da chegada de Weigl a Lisboa. No Sporting foi finalmente inscrito Pedro Mendes, o avançado que fez 14 golos em 18 jogos pelos sub23 e que tinha sido inexplicavelmente deixado de parte na lista de jogadores em condições de atuar pela equipa principal. Quer dizer que Luís Phellype tem finalmente um concorrente – e falta saber se chega outro. E ao FC Paços de Ferreira chegou João Amaral, atacante que brilhara no Vitória FC antes de rumar ao futebol polaco, onde representava o Lech Poznan.


A animação não foi tanta como no estrangeiro, porém, com a chegada de Zlatan Ibrahimovic a Itália, onde vai passar a representar o Milan. Recebido em euforia pelos adeptos rossoneri, o sueco vai ser o número 21, espécie de transformação em algarismos das suas iniciais: ZI.


E foi também em Itália que se soube que Perín, esse mesmo, o tal guarda-redes que chegou a estar em Lisboa para assinar pelo Benfica mas depois foi recambiado para a Juventus por causa dos testes médicos, vai seguir para o Génova, por empréstimo. Jogos feitos pela Juventus desde a viagem a Lisboa: zero. A ver se agora arrebita e justifica a aposta que o Benfica quase fez nele, seguramente fruto da tal capacidade financeira fora do vulgar.