Além de ser uma excelente notícia para a Liga portuguesa, a contratação de Julian Weigl pelo Benfica é uma forma de Luís Filipe Vieira voltar a dizer que quer partilhar os focos de luz com os grandes do futebol europeu. Mas, ainda que entenda que Bruno Lage geriu mal a utilização dos jogadores entre provas internas e externas, levando à queda da equipa da Champions para a Liga Europa, não acho que seja ao mesmo tempo um puxão de orelhas ao treinador, a lembrar-lhe como é importante ter dimensão internacional. Será, antes, uma forma de a SAD aceitar a política de rotação de jogadores professada pelo treinador, dando-lhe mais opções de peso para formar e alterar as equipas.
É verdade que, na época passada, com Lucien Favre à frente do Borussia Dortmund, Weigl perdeu grande parte do fulgor que mostrara com Thomas Tuchel e que levara à sua entrada no lote restrito dos três ou quatro médios-centro mais promissores do futebol europeu e à sua convocação para a seleção alemã. Esta época, ainda assim, o médio fez 20 dos 26 jogos oficiais da sua equipa, apenas um deles como suplente utilizado e todos os outros como titular. Chega a espantar, por isso, que a equipa alemã aceite agora separar-se dele por 20 milhões de euros, mas também não é isso que interessa por cá. Aqui, é mais interessante verificar que esta é a segunda aquisição de 20 milhões que o Benfica faz esta época – depois de Raul de Tomás. E, como disse Lage há dias, a propósito do incómodo que será ter os 20 milhões de De Tomás no banco ou até na bancada, a diferença para a hipótese de lá ter Vinicius, que custou 17 milhões, vindo do Nápoles, não é assim tanta. O que prenuncia um Benfica mais forte, com mais profundidade de plantel, e por isso em linha com aquilo que Vieira quer, que é voltar a ser relevante em termos europeus, mas também com aquilo que Lage defende, que é a rotação de titulares.
O que é curioso nesta atuação do Benfica no mercado é que a política parece ter mudado. Se há uns anos, em alinhamento com um departamento de scouting mais agressivo e explorador, o Benfica ia buscar jovens talentos emergentes à América do Sul para depois os rentabilizar em futuras transferências (mas com necessidade de tempos de adaptação pouco ágeis), neste momento a SAD aponta à Europa – De Tomás chegou de Espanha, Vinicius de Itália, com passagem por Massamá e por França, e Weigl vem da Alemanha. Não é preciso ser um génio do scouting para recomendar a aquisição de Weigl, mas é preciso ter músculo financeiro e capacidade de persuasão para convencer jogadores como ele ou De Tomás, que sabem o que é ser-se adorado em campeonatos dos “Big Five”, a mudarem-se para o exílio português. A partir daqui, quer se assista a mais ou menos retoques no plantel, Bruno Lage sabe na prática aquilo que o presidente quer. Vieira quer sucesso na Liga Europa. E ao mesmo tempo que o “diz”, está a dar ao treinador os meios para o atingir: com Weigl, Gabriel, Florentino, Taarabt, Fejsa, Samaris e Gedson, há sete candidatos a dois lugares de meio-campo e muita margem para rodar.