Vincent Koziello é reforço do Nacional. As palavras ecoam com estranheza na cabeça de todos aqueles que há menos de uma década viram Koziello chegar pela porta da frente de um OGC Nice que encantou e por pouco não terminou a liga francesa na segunda posição. Se em 2015 ousássemos dizer que cinco anos mais tarde Koziello seria apresentado num recém-promovido clube português, chamar-nos-iam loucos. Mas aí está ele. Com tudo para provar depois de temporadas em sub-rendimento em Colónia e em Paris. A pérola perdeu o brilho.
Nascido em França e de ascendência polaca por via do avô que emigrou para terras de Gália, Koziello chegou cedo à equipa principal do Nice. Tinha 19 anos quando se estreou pelo conjunto de Claude Puel, em outubro de 2014, num jogo relativo aos dezasseis-avos de final da Taça de França perante o FC Metz. Koziello não tinha ainda assinado contrato profissional com o Nice, sequer, mas ainda nessa temporada fez sete jogos pela equipa principal na Ligue 1. Assinou que o assinou, tornou-se peça fundamental. Aos 20 anos guiou o Nice a duas das suas melhores posições na história recente do clube. Em 2015/16 a equipa de Puel foi quarta e, no ano seguinte, já com Lucien Favre, terceira.
Em duas temporadas, Koziello assumiu-se como um dos médios mais promissores do futebol europeu. Peça central de uma das melhores equipas de um dos melhores campeonatos do Mundo. Setenta jogos e quatro golos pela equipa da Côte D’Azur entre 2015 e 2017 abriram os olhos dos tubarões europeus. Falou-se em transferências na casa das dezenas de milhões para clubes como o Milan, por exemplo. O príncipe de Nice tinha o trono do futebol aos seus pés. Nem internacionalizações pelos Sub-19, 20 e 21 de França faltaram. No final da temporada de estreia, em 2015/16, Koziello foi nomeado o melhor jovem da Liga, mas acabou por perder a distinção para Ousmane Dembélé.
Do alto do seu metro e sessenta e oito e cabelo loiro ao vento, Koziello transpirou classe e confiança desde cedo. Se Seri foi sempre apelidado de Xavi marfinês, certamente Koziello recordava o parceiro de sempre do médio espanhol. Mesmo com a bola nos pés, sempre confortável, o futebol de Koziello falava catalão. Um dínamo de meio campo, um criativo que pensava o jogo mais rápido do que os adversários, raramente tocando a bola mais de duas vezes ou recolhendo-a para si mais do que o tempo necessário. Em época de estreia fez três golos e seis assistências.
Apesar de se ter estabelecido como peça fundamental no Nice de Puel e Favre numa etapa inicial, a terceira temporada completa na equipa francesa, ainda com Favre, marcou o início do declínio de Koziello. A perder espaço na equipa para nomes como Seri, Lees-Melou ou Waln Cyprien, foi em Colónia que o Jack Wilshere francês encontrou casa, mas se em tempos se falou em transferências na casa dos vinte milhões de Euros, foi por apenas três que Koziello rumou à Alemanha.
“O meu tempo de jogo em Nice começou a diminuir e eu preciso jogar com regularidade. É a altura certa para mim para deixar o ninho. Preciso sair para continuar a evoluir como jogador. Ainda que não sinta que tenha deixado de evoluir, porque o treinador e os seus assistentes sabem tudo de futebol, o tempo de jogo começou a faltar-me. No final do dia, sempre que ia a jogo, não conseguia ser eu mesmo. Há muitos jogadores no clube que jogam na minha posição, e também isso me foi explicado. São várias as razões que me fazem querer sair”, explicou na altura Koziello ao site do Nice.
Na Alemanha, porém, o pequeno príncipe encontrou um clube em crise. O crónico gigante adormecido Colónia não conseguia sair dos últimos lugares da classificação, e foi aí que terminou a temporada acabando despromovido à segunda Bundesliga. O contexto não podia ter sido pior para Koziello que, dentro de campo, raramente conseguiu impor a sua qualidade. Foi suplente não utilizado em quatro jogos e apenas titular em oito dos doze jogos que disputou na Bundesliga em 2017/18.
Ainda piores foram as temporadas seguintes. Entre lesões e presenças constantes no banco, Koziello fez apenas 560 minutos distribuídos por 14 jogos na segunda divisão alemã, tendo sido titular em apenas seis deles não conseguindo, por isso, exercer a sua influência numa temporada de domínio da equipa de Colónia na competição, a qual terminou como campeã. As expetativas não podiam ter sido mais defraudadas. As dele próprio, e as de todos aqueles que o viram nascer para o futebol em Nice.
“Deixo França para jogar. Acredito que poderei fazê-lo na Alemanha. A Bundesliga é uma competição com a qual sonhamos enquanto jogadores e da qual gosto muito. Uma competição repleta de grandes jogadores e de grandes clubes. Jogar numa competição dessas é sempre bom para o teu progresso como jogador. O Colónia quis ter-me e acolheu-me muito bem. Ainda que o clube esteja em dificuldades desportivas farei tudo para ajudá-los a recuperar”, dizia o pequeno Koziello esperançoso. O destino não o quis assim, porém.
Sem espaço na equipa alemã no regresso do Colónia à Bundesliga na temporada que agora findou, Koziello regressou a casa para representar o Paris FC da segunda divisão francesa. Chegado no final do mercado de janeiro, a pandemia retirou tempo de jogo a Koziello quando este recuperava a sua forma, assumindo a titularidade no conjunto da capital francesa em todos os seis jogos que a Covid-19 deixou disputar. Um mal menor depois de durante a primeira metade da temporada não ter tido um minuto que fosse na equipa do Colónia na Bundesliga. Sentou-se no banco em nove ocasiões, mas nunca dele saiu.
É também como emprestado do Colónia que Vincent Koziello chega agora a Portugal. O príncipe de Nice já não tem o Mundo a seus pés e há muito que a pérola da Côte D’Azur perdeu o brilho. Aos 24 anos procura reabilitar a carreira no recém-promovido Nacional que, com Luís Freire ao leme, faz sonhar. Um perfil de aposta que é cada vez mais comum, mas que nem por isso resultou, naquele mesmo estádio, com Giorgi Arabidze, por exemplo. O “anão mágico” de Colónia teve os gigantes de Milão, o Arsenal e o FC Barcelona atrás de si. Agora? É apenas Vicnent Koziello.
Também poderá interessar-lhe:
Um mercado repleto de surpresas, por João Pedro Cordeiro
Os dois CSKA Sofia com Balakov no centro do trubilhão, por João Pedro Cordeiro
Ayestarán, os sucessos como adjunto e as dificuldades de treinador, por Fernando Gamito
Comentários 5