A venda de Bas Dost é uma confissão de incapacidade. Incapacidade para pagar o salário, provavelmente absurdo para a realidade nacional, que o Sporting aceitou pagar ao holandês, de forma a resgatá-lo depois do ataque a Alcochete. Incapacidade para conversar com ele e com os seus agentes de forma a encontrar uma solução que não passasse por uma saída abaixo do valor de mercado do jogador. E incapacidade de o rentabilizar em campo, onde ele já mostrara ser um ponta-de-lança de eleição. É difícil encontrar, por isso, um cenário em que o Sporting possa regozijar-se com o negócio que deve oficializar ainda hoje, com o Eintracht Frankfurt.
Este somatório de incapacidades tem pelo menos uma vantagem. Nas querelas internas que têm assolado Alvalade, não haverá quem, com um pingo de razoabilidade, tenha moral para acusar quem quer que seja do estado a que as coisas chegaram. Não podem elevar a voz os saudosos de Bruno de Carvalho, pois afinal foi o clima de terror popular instituído durante o mandato do ex-presidente a abrir a ferida que agora é cauterizada. Não podem falar muito os que só viram mérito nas recuperações de desertores feitas por Sousa Cintra, porque este cenário mostra a que custo estas recuperações foram feitas – 5,8 milhões de euros de custo anual com um jogador é um custo que a realidade portuguesa não suporta, a não ser que ele a ganhe sozinho. E não podem os apoiantes do elenco de Frederico Varandas gritar muito alto, porque um avançado que marca mais de 30 golos por época valerá sempre mais do que os oito a dez milhões de euros de que se tem falado pela sua transferência: o site alemão Transfermarkt cotava-o em 17 milhões.
Há, além do mais, um par de situações que, do meu ponto de vista, carecem de explicação na situação que envolve Bas Dost. E uma realidade a avaliar se se quer olhar para o que aí vem. A primeira tem a ver com a quebra de rendimento do jogador nos últimos meses, uma quebra que tem razões puramente estratégicas (ou de treino) e à qual já me referi em artigo anterior. Os números estão aí para o mostrar: depois de um início fulgurante da parceria entre os dois, o recuo da equipa de Keizer em busca de uma solidez defensiva que não conseguia a jogar tão à frente no campo assassinara todas as hipóteses de sucesso de Dost de verde e branco. E a segunda prende-se com o que disse o treinador umas horas antes de o clube comunicar que tinha um princípio de acordo para a venda do ponta-de-lança: quem é que, em plena posse das suas capacidades de gestão, permite que um quadro superior, como é Keizer, se mostre, à hora de almoço, tão desconhecedor da realidade, a ponto de dizer que precisa de “todos os jogadores” que tem e prefere que Bas Dost fique, para à hora do lanche emitir um comunicado a dizer que o jogador deve seguir para Frankfurt?
Finalmente, há que encarar o futuro, que será sem Bas Dost. Seria uma idiotice dizer que o Sporting fica mais forte sem o holandês e por isso mesmo as páginas dos jornais e as mesas dos programas televisivos de mercado já se enchem de nomes de potenciais substitutos. No final do jogo com o SC Braga, Keizer aludiu a Luís Phellype, dizendo na flash-interview que o brasileiro terá “a hipótese de agarrar o lugar de Bas Dost” e o que se viu durante 20 minutos do jogo de ontem foi que, sim, isso até pode suceder. Enquanto o Sporting foi uma equipa pressionante e jogou no meio-campo adversário, Luís Phellype foi um peão útil à equipa. Mas depois de a equipa chegar à vantagem e ceder o controlo do jogo aos minhotos, o brasileiro esteve tão desligado do jogo como Dost costuma estar. Keizer até pode receber um jogador a precisar de recuperação, como Slimani, ou um jovem talento sequioso de afirmação, mas tendo ele sido contratado em nome daquilo que é a escola holandesa, vale a pena ver como atacava o Ajax na extraordinária campanha na última Liga dos Campeões. O Ajax alinhava na frente com Tadic, Ziyech e Neres, todos eles elementos móveis, às vezes com Dolberg em vez de um deles, mas com Huntelaar, sempre, sempre no banco. É por isso que vale a pena pensar em tornar útil a contratação de Vietto, que seguramente não custou o que custou para sair do banco a seis minutos do fim, como no desafio frente ao SC Braga.
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