A grande revelação do fim-de-semana futebolístico não foi a forma paupérrima como o Sporting se apresentou em Barcelos, desbaratando o capital-confiança que os 4-0 ao PSV Eindhoven tinham garantido. Foram as palavras cruas, realistas e oportunas de Vítor Oliveira, treinador do Gil Vicente, depois de a sua equipa ter ganho por 3-1 aos leões. “[O Sporting] tem alguns bons jogadores, mas não tem muitos bons jogadores. E sem grandes jogadores não dá”, afirmou Oliveira, que até já tinha ganho ali ao FC Porto, na abertura da Liga. Ora, quem quer que tenha visto o desafio sem ideias pré-concebidas chegaria à mesma conclusão: há ali muita mediania, que se nota mais quando a equipa quer assumir comportamentos de grandiosidade.
Vítor Oliveira até podia ter sido cínico e recordado que, ao dizer o que disse, corria riscos de espicaçar o orgulho dos leões, com quem vai voltar a jogar já na quarta-feira, para a Taça da Liga. De ver o feitiço virar-se contra o feiticeiro, portanto. Mas, das duas uma: ou deixou que a euforia tomasse conta dele, o que me parece altamente improvável num homem da sua experiência e com tantas vitórias acumuladas sobre os três grandes, ou está de tal forma convicto do que disse que não acredita que Jorge Silas consiga dar a volta ao texto daqui até lá e que o mais provável é que as palavras de ontem tenham zero significado no jogo de quarta-feira. Porque ao ver a forma como, sempre com meio-campo oferecido pelo opositor, o Sporting se limitou a uma circulação estéril, sem causar perigo, e mesmo assim conseguia falhar passes sem pressão, fora do bloco adversário, não se vê maneira de mudar grande coisa em três dias, num jogo lançado nas mesmas bases estratégicas.
Mas o treinador do Gil Vicente não se ficou por aqui – e foi o que disse além da constatação de uma evidência que poderia valer-lhe um Prémio Stromp, o mais alto galardão leonino. “O que se passou na Academia foi muito grave e o Sporting vai demorar alguns anos a recompor-se. Não é simpático de se dizer, mas é a opinião de um homem do futebol. Podem trocar de presidente e de treinador, mas sem grandes jogadores não dá”, acrescentou Vítor Oliveira. A questão é que os sportinguistas ainda não chegaram ali. Continuam separados por um rasgão que os leva a forcarem-se nos aspetos errados da questão.
Para uns o que se passou em Alcochete foi culpa do ex-presidente, a partir do momento em que ele tornou o discurso hostil aos jogadores. Para outros a culpa foi dos jogadores, que não se esforçaram e portanto até mereceram o aperto – e alguns até acham que não se passou nada e que foi tudo encenado. Para os primeiros, sempre que a equipa perde, a culpa é da herança. Para os segundos, é “o Varandas” que está a mais. A “reação” olha para a eliminação da equipa de futsal da “final four” da Champions League e culpa a atual direção. A “situação” argumenta com o segundo apuramento consecutivo da equipa de andebol para os 16 avos de final da Liga dos Campeões e diz que o trabalho está a ser bem feito. E é preciso aparecer Vítor Oliveira para lhes explicar que nada disso importa. Que o problema está a montante e a jusante.
Agora só falta o mais difícil, que é, de tão focados no próprio umbigo e convencidos da própria razão, eles perceberem.
Tema do tópico: post