O Sporting de Jorge Silas volta hoje ao campo, jogando em Alverca uma partida da Taça de Portugal que pode tornar-se muito mais complicada do que o facto do adversário jogar no terceiro escalão pode fazer prever, e tudo indica que o treinador vai dar o necessário passo atrás para depois poder dar dois em frente. Depois do quase suicídio, que foi a alteração súbita de modelo e sistema contra o Lask Linz, em jogo da Liga Europa, Silas já teve tempo para, como disse o seu adjunto, Emanuel Ferro, “trabalhar dinâmicas”, mas o mais provável é que a equipa volte hoje à linha de quatro atrás. Porque para já é assim que se sente mais confortável, porque Coates só hoje chega a Lisboa, depois de ter ido à seleção do Uruguai, e sobretudo porque a equipa precisa de tranquilidade que só se ganha com algum espírito mais conservador, que a deixe ao abrigo dos analistas.
O próprio Silas trabalhou no sentido dos ganhos de tranquilidade, ao desmistificar a questão do sistema na entrevista à Sporting TV. “Para já, temos de nos consolidar num sistema e, quando o dominarmos e automatizarmos alguns movimentos que estamos a trabalhar, até podemos meter-lhe variantes”, afirmou o treinador. Ferro introduziu outra nuance, quando recordou na conferência de imprensa que “o sistema é uma das componentes que suportam o modelo de jogo”. “Muitas vezes temos de alterar coisas por questões estratégicas e nem mexemos no sistema, mas sim nas dinâmicas”, reforçou. Ora, nesse jogo com o Lask Linz, o Sporting apareceu com uma nova ideia de jogo, a tentar construir curto desde trás, e um novo sistema, o tal 3x4x2x1, que até me parece o mais indicado para os jogadores do onze-tipo (ainda que não de um plantel inflacionado em termos de extremos). E, apesar da vitória, a mudança redundou num falhanço total: a equipa somou perdas de bola em primeira fase de construção e só virou o jogo porque o adversário foi incrivelmente perdulário e porque, ao intervalo, o treinador voltou à linha de quatro atrás.
Hoje, por isso mesmo, o mais provável é que a equipa técnica mexa no sistema, para tentar salvar as dinâmicas. Aquilo que leio nas declarações de Silas e Ferro é que a ideia, o modelo, tem prevalência. E que terá sido sobretudo isso que a equipa técnica esteve a trabalhar durante a pausa que hoje termina. Mesmo sem jogadores fundamentais, terá havido tempo para aprfeiçoar tudo o que tem a ver com posicionamentos e fornecimento de linhas de passe em organização ofensiva, mas também pressão e reação à perda e, mais uma vez, questão fundamental, todos os posicionamentos em organização defensiva. E é aqui, no entanto, que volta a entrar o sistema – porque, como é evidente, todos os posicionamentos dependem dele. Portanto, pergunta fundamental: qual foi o sistema que a equipa esteve a trabalhar? Porque uma coisa é sair a jogar curto e elaborado desde trás e outra bem diferente é fazê-lo com os três defesas. Tal como outra, na saída a três em sistemas com quatro atrás, é fazê-lo com os dois centrais a abrir na largura, dando projeção ofensiva aos laterais, baixando um médio para presidir a esta primeira fase de organização.
Por todas as razões, continuo a achar que o melhor para este Sporting é jogar com três atrás – até por não ter esse médio capaz de presidir à primeira fase de construção – e dois criativos no apoio ao ponta-de-lança (Vietto e Bruno Fernandes). No entanto, a perceção pública que ficou do jogo com o Lask Linz foi a de que o Sporting não é capaz de se adaptar a esta nova ideia – e isso levará todas as equipas, incluindo certamente o FC Alverca, já hoje, a pressionar a saída de bola leonina, aumentando a intranquilidade verde-e-branca caso consigam motivar perdas nessa fase. A resposta, por isso, só pode ser trazer a equipa para a sua zona de conforto. Mas, acreditem, será um passo atrás para depois poder dar dois em frente.