Para lhe contar esta história, do início ao fim, é preciso recuar muitos anos. Décadas, na verdade. Até ali por volta dos anos 30 do século XX quando o futebol, bom, começou realmente a ser futebol. Foi por essa altura que, bem no centro da Europa, um país se definiu como potência deste jogo. Quase um século depois, a Áustria volta a ser epicentro do que de melhor se faz no futebol. Quer estruturalmente, quer, principalmente, do ponto de vista tático. A ponto de o raio de influência do futebol austríaco se alastrar ao futebol alemão e, por consequência, a todo o Mundo onde a bola rola. Mas como é que chegamos até aqui?
“As condições de trabalho na Áustria ou na Alemanha, país onde me encontro de momento, são fenomenais. Clubes pequenos, nomeadamente clubes da distrital austríaca ou alemã, têm todos campos/estádios relvados muito bem tratados e, normalmente, mais dois relvados para treino, muitos deles ainda melhores do que os próprios relvados principais. Condições para treinar é uma coisa que nestes países abunda. Pode ver-se que as equipas profissionais normalmente escolhem sempre Áustria, Alemanha e Suíça para treinos ou pré-épocas derivado ao clima e às condições que lhes são oferecidas”, diz Gustavo Ribeiro, treinador português que atualmente trabalha na Alemanha mas que teve passagem pelo futebol austríaco.
Há muito radicado na Europa Central, é ele quem nos ajuda a perceber o fenómeno. Afinal, se há coisa que não lhe falta é experiência internacional. Se, como jogador, este almadense passou por Espanha, Alemanha, Grécia, Indonésia, Malta, Chipre, Finlândia e Áustria, como treinador conta já passagens pela Áustria e, agora, Alemanha. Guti Ribeiro levou os sub-16 do FC Bad Haring e do Wacker Innsbruck, um dos principais emblemas do país, aos títulos no respetivo escalão, facto que chamou a atenção dos responsáveis do TSV Bad Abbach.
Assim, no final de 2017, o treinador português seguiu viagem para Regensburg, na Baviera, onde assumiu um novo projeto nos sub-17 e sub-18, passando a dar também formação a outros técnicos. Hoje, é o treinador dos Sub-19 do TSV Kareth Lappersdorf, tendo sido também coordenador de formação no Jahn Regensburg, clube da atual 2. Bundesliga.
“A formação de treinadores na Áustria é muito organizada. Os níveis de treinador tiram-se rapidamente e em função do tempo que cada pessoa tem, claro, mas são muito organizados. O UEFA C realiza-se 4/5 vezes por ano, tal como o UEFA B. O treinador austríaco é muito organizado, mas na parte prática ficam um pouco aquém da expectativa no que diz respeito à formação e a clubes pequenos/médios. Clubes grandes têm uma formação muito adequada e treinadores com muita formação tal como experiência especializada na área”, diz-nos Guti Ribeiro. Uma opinião sustentada em factos. Afinal, foi no RB Salzburgo que se formaram nomes como Adi Hütter, Marco Rose, ou onde se notabilizou Roger Schmidt. Peter Stöger, por exemplo, surgiu no Áustria Viena, outro dos maiores clubes do país, e só Oliver Glasner parece destoar neste contexto.
Metodologia e criatividade são os segredos do sucesso
Roger Schmidt, Adi Hütter, Ralph Hasenhüttl, Marco Rose ou Oliver Glasner. Todos eles, uns nativos austríacos, outros austríacos por afinidade, mas todos com forte ligação ao futebol daquele país, têm deixado marca indesmentível no futebol europeu – e por isso mundial – ao longo dos últimos anos. Treinadores vanguardistas, aventurosos, corajosos, que não se coíbem de deixar o seu cunho pessoal nas equipas que orientam. E, mais do que isso, na forma como o futebol é jogado, num espetro de influência que será reconhecido daqui a uns anos.
Dentro de alguns anos Thomas Pratl poderá estar a repetir os feitos de alguns dos mais conceituados treinadores europeus que contam passagens recentes pelo futebol austríaco. Por agora, o jovem técnico – o mais jovem austríaco com todos os níveis de aprendizagem de treino – ajuda-nos a perceber como é que o futebol do país alpino se tornou tão influente no contexto mundial. Para isso, muito contribuiu a típica mentalidade metodológica dos povos do centro e norte da Europa, aliada a uma criatividade e obsessão pelo sucesso muito próprias.
“O atual nível de formação de treinadores, realizado pela federação austríaca, é de elite. Muita coisa mudou para melhor nos últimos dez anos, quando Thomas Janeschitz, atual treinador adjunto do Basileia, era responsável pela formação dos treinadores a nível federativo. Neste momento os responsáveis são Dominik Thalhammer e Thomas Eidler. Ambos são bastante criativos e têm desenvolvido novos modelos de ensino para os treinadores. Em particular o UEFA Pro Licence na Áustria tem um ensino muito individualizado e de grande qualidade (bons oradores, excelente conteúdo, etc). Além disso, o UEFA A Licence é também ele de nível muito elevado. A Áustria não tem de se envergonhar perante ninguém no que à formação de treinadores diz respeito. Ainda assim, não existe qualquer curso académico ao nível universitário relacionado com futebol na Áustria, se não me engano”, diz-nos o treinador do SC Pinkafeld.
Pratl, que até já estagiou um par de semanas com André Villas-Boas, quando o técnico português orientava ainda o Zenit, destaca a confiança depositada nos técnicos como fundamental para a evolução dos mesmos, mas não encontra diferenças significativas, ao nível do futebol profissional, face aquilo que acontece a nível global. O RB Salzburgo, sem surpresa, acaba por ser uma exceção muito particular no país alpino.
“Com exceção do RB Salzburgo, que tem condições de treino ao nível dos melhores clubes do Mundo, não diria que a Áustria tem melhores infraestruturas do que em qualquer outro país. Não temos nada do que nos envergonhar, mas, por exemplo, a Alemanha, em muitos casos, tem melhores condições do que a maioria dos clubes da Áustria. No fundo, tudo acaba por ser resumir a quão criativo e focado é o treinador e quanto este consegue tirar partido das instalações que tem à sua disposição, o que acontece na Áustria. Por aqui parece-me que na grande maioria dos clubes e academias os treinadores têm tempo para desenvolver jogadores e todas as suas ideias e processos, o que também ajuda, mas quando nos aproximamos do futebol profissional a pressão e a exigência para garantir bons resultados é tão grande como em qualquer outro clube”, afirma Thomas Pratl.
Mas, afinal, como se explica a emergência de novos, promissores e vanguardistas treinadores oriundos do futebol austríaco? “É difícil explicar o porquê de tantos treinadores promissores estarem a aparecer no futebol austríaco, já que todos eles são muito especiais e únicos nas suas abordagens e personalidades. O único padrão que encontro, com exceção de Ralph Hasenhüttl, é que a grande maioria deles trabalhou a certa altura da vida para o RB Salzburgo. O que os caracteriza a todos, ainda assim, sem qualquer dúvida, é a ambição que têm para serem bem sucedidos ao mais alto nível”.
Uma Bundesliga com sotaque dos Alpes
Em 2019/20 a Bundesliga alemã terá mais sotaque. A Adi Hütter, atualmente em Frankfurt, juntam-se Marco Rose e Oliver Glasner, no Borussia Mönchengladbach e VfL Wolfsburgo, respetivamente. Todos eles com um passado recente e aprendizagem técnico-tática efetuada na Áustria. Rose, por exemplo, depois de uma carreira como jogador feita na Alemanha por Leipzig, Hannover e Mainz (sempre Mainz), estabeleceu-se como treinador em Salzburgo orientando todos os escalões de formação do RB Salzburgo até esta temporada.
O saldo? Além de duas ligas austríacas nas duas temporadas como treinador principal da equipa da conhecida marca de bebidas energéticas, saltou à vista o inédito título europeu alcançado com os U19 do RB Salzburgo, conquistado na final contra o Benfica, em 2016/17. Dessa equipa, Hannes Wolf ou Amadou Haidara estão hoje, tal como Marco Rose, na Bundesliga alemã. Tal como estará Oliver Glasner, austríaco de 44 anos, que depois de uma temporada surpreendente com o LASK Linz – que levou até mesmo à Liga dos Campeões -, terá em Wolfsburgo a primeira aventura fora do seu país de origem.
Todos estes sucessos desportivos significam pouco para este artigo. O verdadeiro legado de Marco Rose ou de Glasner, tal como os de Roger Schmidt ou Ralph Hasenhüttl, está mais nos meios do que nos fins. Está nos pormenores e não necessariamente nos triunfos. Afinal, estes são quatro dos mais inovadores e vanguardistas treinadores europeus da atualidade, seguramente dos mais inovadores, e objetos de estudo dos mais variados analistas de futebol no Mundo.
Ao longo dos últimos anos, Hasenhüttl, Rose e Glasner, principalmente, têm introduzido nuances táticas relacionadas com modelos de pressão inovadores – verdadeiras máquinas de pressão que modernizam ainda mais o modelo de gegenpressing definido por Ralf Rangnick e popularizado por Jürgen Klopp nos últimos anos -, mas também ao nível da saída de bola e início da fase de construção das suas equipas.
Diz o povo que a história é cíclica, que esta tende a repetir-se, e a Áustria parece dar razão ao ditado popular. Quase um século depois, o futebol austríaco volta a estar no epicentro do futebol europeu e a sua influência no futebol alemão nos últimos anos é fundamental para a modernização tática do jogo como ele é hoje jogado ao nível global. Depois de anos em que o tiki-taka pareceu apoderar-se de grande parte das filosofias futebolísticas dos técnicos a nível mundial, diferentes modelos de gegenpressing ou de pressão constante parecem começar a ser a norma. Afinal, o próprio estilo de jogo é mais democrático e depende menos de excelência tática a que só determinados predestinados alcançam. E muito daquilo que são hoje os modelos de pressão existentes no futebol teve origem na Bundesliga austríaca e aprimoramento na vizinha Alemanha.
A influência recente do treinador austríaco no futebol alemão e, por consequência, internacional, tem tanto de competência, como se explica pelo contexto cultural existente no país vizinho, diz-nos Guti Ribeiro: “A grande influência penso que será o termo financeiro, mas também o facto de partilharem a mesma língua. Eles são muito nacionalistas (Áustria e Alemanha) no que diz respeito a treinadores. Normalmente as equipas austríacas e alemãs elegem treinadores que falam alemão ou que dominem a língua alemã. Não são países que apostem em outras nacionalidades já que é sempre muito complicado a adaptação à língua. Basicamente, como disse, para ambos os países o nacionalismo é importantíssimo, apesar de os treinadores que referiu terem conseguido também atingir objetivos marcantes e resultados que não influenciam minimamente o saber de cada um”.
Tal como o próprio Guardiola afirmou em tempos, formações táticas são apenas números de telefone. Tudo está relacionado com os indivíduos e com a ocupação de espaços. Com inteligência posicional. O sucesso e a inovação de treinadores como Marco Rose e Oliver Glasner passa muito, ou exatamente, por esta ideia. Pela definição e implementação de diferentes posicionamentos que tornam os momentos de pressão e contra-pressão mais efetivos e eficientes, bem como a fase de construção das suas equipas mais sustentada e harmoniosa. Em suma, mais associativa e cada vez menos aleatória de modo a reduzir ao máximo a probabilidade de perder a bola em momento ofensivo, bem como de a recuperar o mais rapidamente possível em fase defensiva, quase sempre, exponenciando ao máximo o erro adversário com uma pressão absolutamente asfixiante. Tudo isto, ao ponto de parecer mesmo que as suas equipas têm mais jogadores do que o adversário.
Para Thomas Pratl, a influência exercida pelos técnicos austríacos, ou austríacos por afinidade, dependerá não só dos próprios técnicos e suas vicissitudes, mas muito por consequência das oportunidades disponibilizadas a estes pelos maiores clubes alemães, principalmente.
“Tudo depende do tipo de oportunidades, entenda-se, clubes, que os treinadores austríacos ou oriundos do futebol austríaco conseguem. O perfil do clube que lhes dá essa oportunidade, etc. Naturalmente, se aos técnicos austríacos forem conferidas grandes responsabilidades, como por exemplo na Alemanha, há uma grande possibilidade que esses mesmos técnicos se tornem altamente influentes na forma como o futebol é, ou será jogado no presente e no futuro. Alguns deles já o estão a fazer. Mais ainda já que cada um tem a sua própria e exclusiva visão do futebol, um estilo e metodologia de treino muito particular/singular”, assegura-nos Thomas Pratl.
Modernizar o futebol e não é só dentro de campo
Não é só dentro de campo que a influência austríaca se tem feito notar no contexto internacional futebolístico. Também fora dele, o país alpino tem definido novas formas de trabalhar e, acima de tudo, de ver o futebol. O projeto futebolístico da Red Bull não se tem destacado somente pela sua componente economicista e capitalista, mas também por uma mudança de mentalidade nas ideias base de campos como a observação e o recrutamento de atletas, muito mais focada na juventude e no planeamento a médio e longo prazo. Isto, fora o estilo de jogo bem delineado, ofensivo e aventureiro que é transversal a todas as equipas do grupo e que define não só a contratação de jogadores, mas também de técnicos por parte dos clubes do grupo.
É certo que o investimento realizado pela Red Bull no futebol, até aqui, foi um investimento avultado, porém, este está longe de ser um projeto sustentado somente no dinheiro gasto pelo grupo. É, sim, um projeto bem delineado, com visão de futuro, inovador e vanguardista. O sucesso recente de clubes como o RB Salzburgo, o RB Leipzig ou dos Red Bulls de Nova Iorque são fruto de um investimento pensado e resultam de uma planificação de futuro, com vários anos de desenvolvimento, pensado não no sucesso a curto prazo, mas sim a longo prazo. E à medida que as ideias vão amadurecendo e as academias de formação dos clubes do grupo vão formando cada vez mais e melhores jogadores, o melhor, para os clubes da Red Bull, ainda está para chegar. Para já, vão valendo um título europeu de juniores ao Salzburgo.
A aposta feita na formação, ora nas camadas jovens das equipas, ora na formação dos técnicos que são contratados para as gerir, tem feito do Salzburgo e do Leipzig dois dos clubes com maior futuro na Europa e com projetos do mais sustentável e visionário no futebol mundial. Para tal muito ajudou a contratação de nomes como Gerard Houllier ou Ralf Rangnick para a gestão dos projetos desportivos, ora globais, ora da equipa alemã em particular, bem como a constante aposta em técnicos jovens e revolucionários em qualquer um dos três clubes da companhia. Algo, aliás, sintomático da visão de futuro da companhia, universal a toda a postura da empresa no desporto, do futebol à Fórmula 1.
Só para esta temporada, depois de ter terminado a época passada em terceiro lugar na Bundesliga e, por isso, garantindo a participação na Liga dos Campeões em 2019/20, o RB Leipzig não só não aproveitou o momento para fortalecer o plantel do clube com nomes consagrados – como já não o havia feito depois da segunda posição com Hasenhüttl –, como a política de transferências do cada vez maior clube alemão voltou a ter uma personalidade muito própria: para o plantel que será agora comandado pelo jovem génio alemão Julian Nagelsmann entraram somente jogadores sub-21: Ademola Lookman, Christopher Nkunku, Hannes Wolf, Luan Cândido e Ethan Ampadu.
Se, no futebol, predomina ainda algum estigma relacionado com a juventude e possível inexperiência de um plantel com uma baixa média etária, alegadamente impossibilitando por isso mesmo o sucesso desportivo de um clube, certamente os clubes da Red Bull são exemplo, precisamente, do contrário. O fulgor e atrevimento da juventude tem permitido ao Salzburgo vencer títulos austríacos de forma consecutiva, enquanto o clube alemão continua a sua trajetória ascendente até ao topo do futebol germânico com presenças cada vez mais assíduas na principal prova de clubes da UEFA. A aposta na formação e nas camadas jovens, por parte do grupo, aliás, já deu até os seus frutos, com o RB Salzburgo a ter-se sagrado campeão europeu sub-19 em 2016/17 às custas de um Benfica com nomes como Rúben Dias, Florentino, Jota, Gedson, José Gomes, Diogo Gonçalves ou João Félix.
Não há como negar que o investimento da companhia de bebidas energéticas, no futebol, tem sido elevado, mas esse investimento tem sido realizado em técnicos e infraestruturas e não em jogadores consagrados. Tem sido realizado no desenvolvimento de redes de observação como talvez nenhum outro clube no Mundo possua neste momento, bem como em centros de treino dos mais avançados em todo o planeta. Em nenhum dos clubes do grupo a empresa apostou no sucesso imediato, contratando jogadores consagrados. Nem mesmo nesta altura em que o Leipzig é já um clube solidificado no topo da primeira divisão alemã. A aposta continua a ser na juventude e na irreverência, imagem de marca da companhia, com a generalidade das contratações a serem feitas em jogadores no escalão etário 17-24 anos, tornando este um projeto de futuro e altamente sustentável.
Acima de tudo, ambos os clubes europeus da companhia de bebidas energéticas austríaca são exemplos daquilo que é possível almejar se o planeamento dos clubes for feito a médio/longo prazo e não focado somente no sucesso imediato. Para a empresa, a aposta na juventude, infraestruturas, ciência desportiva, sempre pautada por grande irreverência, define-se como o pilar mais sólido de toda a filosofia inerente à sua presença no futebol. Toda uma filosofia distante daquilo que foi norma até aqui no que ao crescimento de clubes novos ricos diz respeito, principalmente, se pensarmos naquilo que ainda se faz em Inglaterra, como recentemente com Wolverhampton Wanderers ou Aston Villa. Modernizar o futebol, sim, e não só dentro de campo. Ideias com as quais todo o Mundo irá certamente aprender.
Revolucionar o futebol com olhos postos no passado
Tendo em conta todas as diferentes escolas de treinadores do Mundo, poucos serão aqueles a quem surgiria, na cabeça, em primeiro lugar, a escola austríaca como uma das mais influentes e importantes da história do futebol mundial. A história, porém, é cíclica e esta não é a primeira vez que o futebol austríaco, direta ou indiretamente, surge como grande influência daquilo que se faz no jogo a nível global.
De Hugo Meisl a Ernst Happel, passando pelos próprios Walter Nausch, Max Merkel ou Berndt Krauss, e terminando agora em nomes como Ralph Hasenhüttl ou Oliver Glasner, a verdade, é que ao longo da história não faltaram treinadores austríacos, ou que passaram pelo futebol austríaco, altamente influentes na forma como o futebol é jogado a nível internacional pelo sucesso alcançado no futebol europeu e alemão em particular. Depois de anos em queda e em clara perda de influência, o futebol austríaco regressa agora em força e define-se como epicentro do que de melhor se faz tática e filosoficamente no futebol.
Só o tempo dirá se, no futuro, esta evolução do futebol austríaco terá também repercussões ao nível da seleção nacional do país alpino e será possível voltar a ver a Áustria, como nos tempos do Wunderteam de Hugo Meisl e Matthias Sindelar, a dominar o futebol mundial ao ponto de até superar os feitos conseguidos pelos anteriores. Uma seleção que, recorde-se, chegou a estar 14 jogos consecutivos sem perder – um feito inimaginável na época -, tendo alcançado o quarto lugar no Mundial de 1934, o terceiro lugar no Mundial de 1954 e, pelo meio, a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1936.
Para já, é na Alemanha que a nova vaga de treinadores austríacos, dos mais inovadores e progressistas técnicos europeus, vai deixando a sua marca. Uma marca que se começa já a estender ao futebol global com a presença de Hasenhüttl, desde a temporada passada, em Southampton. E, além de Adi Hutter, Peter Stöger, Oliver Glasner ou Ralph Hasenhüttl, bem como dos emprestados Roger Schmidt e Marco Rose, talvez nada se perde em ter debaixo de olho o Nuremberga de Damir Canadi, o Altach de Werner Grabherr, à evolução da seleção feminina da Áustria sob o comando do pensador Dominik Thalhammer, ou ainda ficar atento ao futuro de Zoran Barisic. Neste momento, são poucos os países que apresentam um menu de treinadores tão interessante quanto aquele que a Áustria possibilita. Um gigante adormecido no epicentro do futebol europeu.