A derrota em Lyon deixou o Benfica em muito maus lençóis, mas ainda não eliminado da Liga dos Campeões. Com três pontos nas primeiras quatro jornadas, os encarnados precisam de ganhar os dois jogos que lhes faltam – e mesmo isso pode nem chegar, se o Olympique Lyon entretanto ganhar ao Zenit em São Petersburgo. Certo é que a história está cheia de casos em que equipas se qualificaram com nove e até com menos pontos. E só nos últimos dez anos houve três exemplos de qualificação de equipas que à quarta jornada tinham três ou menos pontos conquistados.
Nas últimas dez épocas, houve quem tivesse ficado pelo caminho até com 12 pontos ganhos, mas verificaram-se 24 casos de clubes que seguiram para os oitavos-de-final com nove ou menos pontos. Não houve, de resto, nenhuma época em que esta espécie de sorte grande não tenha saído a ninguém. Já aconteceu, aliás, ao próprio Benfica, que em 2016/17 passou da fase de grupos com apenas oito pontos conquistados, num grupo que também tinha o SSC Nápoles, o Besiktas e o Dynamo Kiev. Os encarnados começaram por empatar em casa com o Besiktas (1-1), foram depois batidos em Nápoles (4-2), mas deram a volta à situação com duas vitórias na jornada dupla contra o Dynamo Kiev (2-0 na Ucrânia e 1-0 na Luz). Até final da fase de grupos, a equipa comandada por Rui Vitória ainda empatou na Turquia com o Besiktas (3-3) e perdeu em casa com o SSC Nápoles (1-2).
Eis a lista das 24 equipas que nos últimos dez anos se apuraram para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões com nove ou menos pontos, com a particularidade de tal ter sucedido, por exemplo, aos dois finalistas da última edição, o Liverpool FC e o Tottenham. Não deixa de ser curioso que um terço destas equipas (oito) sejam italianas – o que já de si vem provar a dimensão pragmática do futebol transalpino – e de o Milan o ter feito por cinco temporadas consecutivas:


Muitos destes casos, porém, deveram-se a equipas que foram gerindo a classificação, depois de um arranque impositivo. Nada a ver com o que se passa neste momento com o Benfica, que perdeu três dos quatro primeiros jogos e entra na quinta jornada com apenas três pontos conquistados. Mas nem isso, por incrível que pareça, torna a qualificação impossível. Nestes mesmos dez anos, três equipas chegaram aos oitavos-de-final depois de terem conquistado apenas três ou até menos pontos nas primeiras quatro partidas. Aliás, o caso extremo é o do Manchester City de 2014/15, que se apurou depois de somar apenas dois pontos nas quatro primeiras jornadas. Então comandados por Manuel Pellegrini, os blues de Manchester começaram por perder em Munique com o Bayern de Guardiola (1-0), empataram depois em casa com a AS Roma (1-1) e fora com o CSKA Moscovo (2-2), antes de baquearem em casa com a equipa russa (1-2, bis de Doumbia). À entrada para a quinta jornada, o Bayern liderava com 12 pontos, contra quatro do CSKA e da Roma e dois do City. Mas até final os ingleses não vacilaram: ganharam em casa ao Bayern por 3-2 (e perdiam por 2-1 a 5’ do fim) e fora à AS Roma por 2-0, atingindo os oito pontos e o apuramento.
A última equipa a conseguir o apuramento depois de uma falsa partida comparável à atual do Benfica foi o Arsenal, em 2015/16. Nesse ano, os “gunners” arrancaram de forma miserável, perdendo em Zagreb com o Dínamo por 2-1 e em casa com o Olympiacos por 3-2. Tal como o atual Benfica, aquele Arsenal reagiu à terceira jornada, ganhando em casa ao Bayern por 2-0, mas viu-se desenganado à quarta, quando foi goleado em Munique por 5-1. À entrada para as duas jornadas finais, só um milagre podia salvar a equipa londrina, uma vez que o Bayern e o Olympiacos tinham nove pontos, contra três de Arsenal e Dínamo Zagreb. Nas últimas duas jornadas, porém, tudo mudou: o Arsenal ganhou por 3-0 em casa aos croatas e repetiu o resultado em Atenas frente aos gregos, que por sua vez já tinham apanhado 4-0 em Munique. Arsenal e Olympiacos acabaram ambos com nove pontos, mas os ingleses tinham vantagem de nove golos.
Antes, há dez anos, precisamente, já o VfB Estugarda conseguira apurar-se fazendo apenas três pontos nas primeiras quatro jornadas. Os alemães chegaram à quarta jornada sem uma única vitória: empataram em casa com o Glasgow Rangers (1-1), fora com o Unirea Urziceni (também 1-1) e em Espanha com o Sevilha FC (mais uma vez 1-1). Como tinham perdido em casa com os espanhóis entraram para a quinta jornada com os tais três pontos, face a 10 do Sevilha FC, cinco dos romenos e dois dos escoceses. Nas últimas duas jornadas, ganharam fora ao Glasgow Rangers por 2-0 e em casa ao Unirea por 3-1, chegando aos nove pontos, que chegaram para suplantar os oito do Unirea.
Portanto, a conclusão é que a situação do Benfica é difícil mas não impossível. E uma coisa é certa: a única forma de aspirar à qualificação é ganhar os dois jogos que faltam. E aí é que está o problema.