O Marítimo-Sporting foi um excelente exemplo de como nem sempre se ataca melhor com mais avançados. Mesmo tendo levado com um golo a abrir, fruto de um misto de erro de posicionamento com mau julgamento no timing de ataque à jogada de Thierry Correia, a equipa de Marcel Keizer até foi capaz de recuperar animicamente e de encostar o Marítimo atrás, criando uma série de desequilíbrios no adversário fruto de manobras pensadas em organização ofensiva, quase todas baseadas em movimentos de atração e arrastamento feitos pelos homens de meio-campo. Mas a partir do momento em que, iludido pelo baixar do bloco do Marítimo, o treinador holandês desfez a sua organização na casa das máquinas, apostando na colocação de mais e mais gente na frente, o jogo partiu e o Sporting acabou e só chegou perto da baliza de Charles em lances de contra-ataque.
A primeira forma que o Sporting encontrou para desequilibrar a estrutura defensiva do Marítimo passou pela exploração da profundidade nas costas dos laterais de Nuno Manta Santos. Foi assim que, fruto do baixar de Bruno Fernandes para lançar, logo aos 2’, Raphinha se isolou na direita, vendo Zainadine desfazer depois o cruzamento que só tinha Luís Phellype como destinatário na área.


E foi assim também que, aos 25’, o Sporting mostrou que estava a sair do torpor que o golo do Marítimo lhe provocara: desta vez foi Acuña quem ganhou o espaço nas costas de Nanu para responder a um lançamento de Borja, beneficiando também da manobra de diversão sem bola de Wendel. Mais uma vez, porém, Luís Phellype não chegou a tempo para a emenda, permitindo que o cruzamento do argentino se perdesse no outro lado do campo.


Mas o ataque do Sporting não se fazia apenas pela exploração do espaço nas costas dos laterais do Marítimo. A partir de certa altura, a equipa de Keizer passou a beneficiar muito dos movimentos de Bruno Fernandes para a ala esquerda e das diagonais de Acuña e Raphinha para o espaço interior. Foi o que aconteceu na melhor ocasião de que os leões dispuseram para desfazer o empate a que já tinham chegado, aos 32’. Como pode ver na imagem, Raphinha está dentro, próximo de Luís Phellype, e Acuña e Wendel também, com hipótese de explorar a zona entre as linhas defensivas do Marítimo, mas Eduardo decidiu bem: toda esta movimentação abriu espaço a Thierry, que teve tempo e espaço para cruzar, apanhando Raphinha solto para finalizar.


Na segunda parte, Manta Santos há-de ter dito a Jhon Cley, que estava sempre atrasado na recuperação para as suas linhas, que tivesse mais atenção a esse detalhe e o Marítimo esteve mais equilibrado na sua organização defensiva. Além disso, com a entrada do veloz Maeda para ponta-de-lança, os insulares optaram por baixar o bloco, de forma a ganharem espaço de ataque à profundidade nas costas da última linha leonina. Mesmo assim, o Sporting ainda estava a conseguir boas situações de finalização, como neste lance que deixou Acuña em boa posição para rematar, aos 63’. A primeira imagem volta a mostrar Bruno Fernandes no lado esquerdo e Acuña prestes a atacar o espaço interior. Eduardo optou, mais uma vez bem, por sair em condução, antes de solicitar o capitão, dessa forma arrastando com ele Vukovic e Bambock e gerando o tal espaço que Acuña haveria de ter para finalizar.




Pouco depois, talvez iludido pelo abaixamento das linhas maritimistas, ou quem sabe se por ter concluído que precisava de mais gente na área, Keizer desfez a sua organização atacante. Além de trocar Luís Phellype por Bas Dost, o que fazia todo o sentido, o treinador holandês sacrificou Eduardo para inserir Vietto junto do ponta-de-lança. Perdeu a unidade que lhe dava a organização desde trás e, ao mesmo tempo, o jogador que provocava os arrastamentos pela sua mobilidade permanente – Bruno Fernandes passou a ter de ocupar o corredor central, formando parelha de médios com Wendel. Mais tarde, com a troca de Borja por Diaby, o Sporting ainda piorou, porque Acuña, cujos movimentos da esquerda para o meio estavam a ajudar a desequilibrar, teve de passar para defesa-esquerdo. Primeiro numa defesa a quatro e, no final, quando Coates também já era avançado, a três.
Tudo isso o Marítimo aproveitou, assumindo o comando do jogo no último quarto-de-hora, no qual teve três oportunidades de desfazer o empate.