Pinto da Costa criticou na semana passada a Liga pela calendarização do clássico entre FC Porto e Benfica. O jogo calhou à terceira jornada e, não tivessem os dragões sido já afastados pelo FK Krasnodar, jogar-se-ia entre as duas partidas do “play-off” de acesso à Liga dos Campeões, com o Olympiacos. O presidente portista clamou então pela proteção ao “representante português numa prova europeia”, não deixando de ser curioso que, no próximo fim-de-semana, sejam precisamente o FC Porto e o Benfica a beneficiar dessa falta de proteção, uma vez que vão defrontar o Vitória SC e o SC Braga, na ressaca dos play-off que as duas equipas minhotas vão disputar na Liga Europa, com Steaua e Spartak Moscovo. Ora, apesar de não haver nenhum tipo de proteção desse género nas cinco principais Ligas da Europa, o pedido de Pinto da Costa não é descabido: a Bélgica e a Holanda, por exemplo, recorrem a um expediente desses para facilitar o percurso europeu das suas equipas.
Na liga belga, as equipas que disputam as competições europeias não podem defrontar-se nas quatro primeiras jornadas. Esta medida tem como primordial objetivo evitar sobrecarregar esses clubes com duelos de peso, de forma a que o país consiga ter o maior número possível de representantes nas fases de grupos das provas da UEFA. É o caso de Gent, Club Brugge, Royal Antuérpia e Standard Liège. Não é preciso recuar muito tempo para ver que já tivemos uma situação similar em Portugal. Em dezembro de 2017 foi revogada uma medida que impedia o confronto entre os primeiros classificados do campeonato anterior durante o mês de agosto. E este ano houve um Benfica-FC Porto logo na terceira ronda.
Voltando às críticas de Pinto da Costa, o presidente do FC Porto falou em “descuido e desrespeito chocante” da Liga para com o clube. No entanto, os azuis e brancos até acabaram por não jogar a meio da semana que antecedeu o clássico, nem vão entrar em campo a meio desta. Devido à eliminação na terceira pré-eliminatória da Champions diante do FK Krasnodar, a equipa fica com entrada direta na fase de grupos da Liga Europa.
Outro líder máximo no futebol português a apontar o dedo a esta situação foi António Salvador. O presidente do SC Braga mostrou desagrado no que diz respeito a ter de defrontar o Sporting e o Benfica ainda no mês de agosto. “As equipas que estão nas competições europeias deviam ser protegidas. Não foi só o SC Braga que não foi protegido. Na terceira jornada há um Benfica-FC Porto com um play-off de acesso à Liga dos Campeões pelo meio. O SC Braga vai fazer oito ou nove jogos em 22/23 dias”, referiu o dirigente dos minhotos, ainda em julho.
As queixas de Mourinho
A calendarização dos campeonatos é um constante alvo de críticas dos protagonistas. José Mourinho já por lá passou, mais do que uma vez. Enquanto estava no comando técnico do Manchester United, o treinador português criticou o elevado número de jogos que tinha num curto período de tempo. Em 2016/17, os red devils disputaram a Liga Europa (que até conquistaram…) durante toda a época, com campeonato e competições internas pelo meio, situação que afetou o rendimento, de acordo com o treinador. “Afeta bastante, é óbvio. Tive essa experiência uma vez no FC Porto. Com um jogo por semana temos quatro dias para trabalhar”, lamentou, em fevereiro de 2017.
A Premier League, assim como os outros campeonatos das proclamadas Big-5, não levam a cabo mecanismos como aquele que se verificava em Portugal até ao fim de 2017 e que ainda subsistem na Holanda e na Bélgica. Para percebê-lo basta olhar para o calendário deste início de época: em Inglaterra houve clássico entre Manchester United e Chelsea na primeira jornada; a Liga Italiana vai contar com um Juventus-SSC Nápoles no próximo fim de semana; Atlético Madrid (2º classificado em 2018/19) e Getafe CF (5º classificado em 2018/19) jogaram na primeira jornada em Espanha; na Alemanha, o RB Leipzig (3º classificado em 2018/19) recebe o Borussia Mönchengladbach (5º lugar em 2018/19) na terceira ronda; na Liga Francesa, o Saint-Étienne (4ª posição em 2018/19) vai ao terreno do Lille OSC (2º classificado em 2018/19) nesta quarta-feira.
Aqueles que dão proteção
No entanto, há quem se preocupe em proteger os clubes que tentam chegar às fases principais das provas da UEFA. Quinze das equipas que disputam os play-offs da Champions e da Liga Europa tiveram os seus jogos adiados no fim de semana, com vista a um maior descanso entre a primeira e a segunda mão. Aconteceu com o APOEL Nicosia e o Apollon Limassol (de Chipre), com o Estrela Vermelha e o Partizan (da Sérvia), com o Linfield (Irlanda do Norte), com o Dínamo Zagreb e o HNK Rijeka (da Croácia), com o Süduva (da Lituânia), com o Gent, o Club Brugge e o Royal Antuérpia (todos da Bélgica) e ainda com o Ajax, o AZ Alkmaar, o Feyenoord e o PSV (todos da Holanda).
É precisamente na Holanda que se encontra o maior exemplo de proteção em todo o continente europeu. Basta recuar até à época passada. A Federação Holandesa de Futebol adiou a penúltima jornada do campeonato de 2018/19 para evitar que o Ajax jogasse dois dias antes da meia final da Liga dos Campeões, na qual tinha de enfrentar o Tottenham. Assim sendo, a equipa orientada por Erik tem Hag teve sete dias de descanso antes do duelo europeu. O mesmo tinha sido feito quando o Ajax defrontou o Real Madrid na eliminatória anterior. Nem todos os clubes ficaram satisfeitos com essa decisão, mas a federação do país frisou que o futebol holandês “beneficia da presença do Ajax nas meias finais da competição mais importante da UEFA”.
A questão que fica é a seguinte: deve o futebol português recorrer aos exemplos dados pela Bélgica e também pela Holanda na proteção de clubes que jogam nas competições europeias? Ou não deve condicionar os campeonatos dessa forma, tal como acontece nas principais ligas europeias? Ficou percetível que Pinto da Costa é a favor da primeira hipótese, resta saber se o mecanismo que já teve lugar até dezembro de 2017 irá voltar a fazer sentir a sua presença no futebol português.
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