De patinho feio a indiscutível, Sérgio Oliveira é cada vez menos invisível no FC Porto de Sérgio Conceição e tem sido a alma dos dragões neste arranque de época. Já com tantos golos marcados (seis) como na época mais finalizadora da carreira, o jogador de 28 anos tem uma influência ímpar no registo ofensivo dos azuis e brancos. O começo de temporada valeu-lhe comparações com Deco, mas é na capacidade de trabalho que Oliveira se destaca. Além disso, também contribui de forma nítida para o momento defensivo da equipa. Acima de tudo, Sérgio Oliveira assume-se como um líder dentro de campo, não fosse ele um dos capitães e a principal figura do plantel vinda da formação. Fernando Santos está atento ao médio e já o chamou aos compromissos da Seleção Nacional.
“Sou um admirador do Deco. Não há comparação possível, o Deco foi um craque em todos os aspetos do clube e, se calhar, foi o melhor médio a passar em Portugal. É ótimo ter um arranque como o dele.” Foram estas as palavras de Sérgio Oliveira ao Porto Canal no passado dia 8, logo após o triunfo dos dragões sobre o Portimonense por 3-1. Então, de onde surgiu esta comparação com um nome histórico do clube que surpreendeu muitos dos mais atentos? A resposta é fácil. Desde 2000 só houve um médio do FC Porto com melhor início de época do que Sérgio Oliveira no que a golos diz respeito. Os seis tentos em dez jogos do camisola 27 são apenas superados por Deco, que precisou de nove partidas para chegar aos seis remates certeiros em 2001/02.
Já que falamos de comparações, antes de entrar nos últimos minutos da partida da Taça de Portugal, contra o Fabril, Oliveira levava quatro jogos seguidos pelos azuis e brancos a marcar (diante de Portimonense, Olympique Marselha, FC Paços de Ferreira e Olympiakos). É necessário recuar até 1995/96 para encontrar um português do FC Porto com um registo assim: foi ele Domingos Paciência. Nenhum médio azul e branco chegou aos quatro encontros consecutivos com golos neste século: Lucho González e Maniche foram os que estiveram mais perto, mas ficaram-se pelas três partidas com veia finalizadora. Oliveira está prestes a ter a temporada mais goleadora da sua vida de futebolista: já bateu os cinco golos em 34 encontros de 2019/20 e igualou os seis tentos em 36 compromissos pela equipa B do FC Porto em 2012/13.
Se há coisa que os golos (quatro para o campeonato e dois na Liga dos Campeões) do centrocampista demonstram é a gama de recursos dos quais dispõe. Ora, dois deles foram de grande penalidade e um de livre direto em zona frontal à baliza adversária (assumiu na plenitude a pasta das bolas paradas após a saída de Alex Telles), outros dois de cabeça e apontou ainda mais um golo com o pé direito em jogada de bola corrida. Líder isolado na lista de principais artilheiros da equipa na época (Marega e Luis Díaz somam três golos cada), Oliveira é também o segundo melhor assistente, com três passes para golo, apenas atrás de Corona, que soma cinco. O médio português teve participação direta em sete golos do FC Porto na Liga Portuguesa. Apenas Pedro Gonçalves tem melhores números (oito pelo Sporting).
Para que se perceba bem a influência ofensiva de Oliveira no conjunto de Sérgio Conceição no campeonato, o médio tem participação direta em 50 por cento dos golos da equipa quando está em campo (dados do portal Goalpoint). Corona é aquele que mais se aproxima deste registo, mas com apenas 25 por cento. O critério em zonas mais avançadas também faz parte do repertório de Oliveira, facto sustentado pelos 25 por cento de aproveitamento dos remates à baliza contrária.


No entanto, nem só com números se explica o desempenho de Oliveira dentro das quatro linhas, tese defendida pelo próprio. “Vocês ligam muito aos números, assistências e golos, e um médio não é só isso. Muitas vezes se calhar faço um trabalho mais invisível, um trabalho de equipa, que talvez não seja tão valorizado”, salientou o médio recentemente em conferência de imprensa nos trabalhos da Seleção Nacional. A entrega no processo defensivo é um dos parâmetros que muitas vezes não estão refletidos nas estatísticas e que acabam por passar despercebidos aos olhos dos mais distraídos. Ainda assim, o papel de Oliveira na pressão esquematizada por Conceição após a perda de bola verifica-se nos números do jogador. É muitas vezes o médio a pressionar mais alto e por isso mesmo é que conta 3,2 tentativas de desarme por 90 minutos no meio-campo adversário (melhor registo em todas as épocas no FC Porto*) com um total de 6,8.
O trabalho defensivo de Oliveira não se esgota aí. É também o jogador do FC Porto com mais cortes tentados por 90 minutos (2,6 no campeonato e ganha 1,8 por partida). A par de Uribe, é o segundo jogador dos azuis e brancos com mais recuperações de bola efetuadas (28), apenas abaixo de Manafá (38). No que toca a interceções o médio tem o quarto melhor registo da equipa (oito), atrás de Corona (onze), Uribe (dez) e Zaidu (nove).
O processo de criação é também um dos pontos de foco em que Oliveira demonstra a influência que tem neste FC Porto. O médio de 28 anos é o segundo jogador da equipa que mais toca na bola em jogo. Oliveira tem 141 toques nos dez compromissos realizados até agora (receber a bola, driblar e depois passá-la conta como um toque) – Manafá tem 181. É de salientar que apenas 25 desses toques foram dados no meio-campo defensivo, 85 deles a meio e 37 no meio-campo opositor, o que demonstra que a posse de bola de Oliveira não é apenas numa zona de pouca pressão adversária. O internacional português é muitas vezes procurado pelos colegas dentro das quatro linhas – já recebeu 81 passes bem-sucedidos, apenas abaixo de Manafá (93), Corona (88) e Mbemba (83).
É inegável a evolução de Sérgio Oliveira desde que Sérgio Conceição pegou no leme do FC Porto. O centrocampista é o quinto jogador mais utilizado na equipa durante esta temporada: 808 minutos – melhor só Manafá (917′), Mbemba (891′), Corona (887′) e Marchesín (810′). O atual técnico dos azuis e brancos até tinha pedido o médio quando ainda treinava o FC Nantes em 2016/17. Oliveira esteve emprestado ao clube gaulês na segunda metade dessa temporada e na seguinte já realizou 27 compromissos pelos dragões, o melhor registo de jogos pelo clube até esse momento. Ainda foi cedido ao PAOK já em 2018/19, mas voltou em grande e pegou de estaca a meio da época passada para não mais sair das prioridades iniciais do timoneiro dos azuis e brancos.
A história de Sérgio Oliveira entra no tal cliché de patinho feio que virou cisne. O médio foi inúmeras vezes assim rotulado, até pelos adeptos dos dragões. Os sucessivos empréstimos após fazer a formação no clube (a Beira-Mar, KV Mechelen, FC Penafiel) e até mesmo a saída em definitivo para o FC Paços de Ferreira – regressou dois anos depois – são prova disso. Mas agora já não há quem pense nele dessa forma. Aliás, quando se fala no jogador mais importante para este FC Porto ele entra na equação e bem no topo da lista, principalmente após a saída de Danilo no último mercado de transferências. Por isso mesmo, começa a causar preocupação o contrato prestes a terminar no fim desta temporada. A começar aquela que se perspetiva como a melhor época da carreira, será o momento para outro passo na carreira, ou para ficar e tornar-se num símbolo do clube?
*dados recolhidos através do Goalpoint.