A frustração de Cristiano Ronaldo no momento em que, pela segunda partida seguida, deu o lugar a Paulo Dybala num jogo que a Juventus não estava a ganhar e acabou depois por vencer motivou já comentários pouco abonatórios para o atacante português, estrela maior da equipa de Turim. Treinadores como Zaccheroni ou Capello aproveitaram para anunciar que o CR7 está a tornar-se irrelevante e a verdade é que é preciso recuar mais de uma década, até 2008, para se encontrar um – quanto mais dois seguidos – jogo de clubes em que isso tenha acontecido. Foi ainda no Manchester United e com atenuantes.
Desde que chegou à Juventus, no verão de 2018, Cristiano Ronaldo só foi substituído quatro vezes e nas duas anteriores a equipa ganhava por tranquilos 3-0, que aliás manteve até ao apito final. Tinha-lhe acontecido em Fevereiro, quando foi poupado aos últimos 26 minutos de uma receção ao Frosinone, e em Dezembro de 2018, quando saiu a 10 minutos do final de uma visita à Fiorentina. Os últimos dois desafios, mesmo descontando a lesão de que falou Sarri, a justificar a alteração, terão no entanto sido difíceis de engolir pelo astro português, que não pôde contribuir no momento em que a equipa chegou à vantagem. Na quarta-feira, saiu a oito minutos do final da partida de Moscovo, com o resultado num comprometedor 1-1, e já foi de fora que viu Douglas Costa fazer o golo da vitória italiana. Ontem, saiu mesmo mais cedo, aos 55’, tendo seguido diretamente para o balneário e abandonado o estádio mesmo antes de a partida acabar, já depois de Dybala ter marcado o golo da vitória Juventina sobre o Milan. “É normal ele ter saído zangado. Ele fez tudo para jogar e só tenho de lhe agradecer por tê-lo feito, pois está lesionado num joelho e com dores”, afirmou no final Maurizio Sarri, o técnico que operou a substituição.
No entanto, há outra razão passível de explicar a insatisfação de Cristiano Ronaldo. É que o astro português não está habituado a ver de fora os companheiros batalharem pela vitória, a não ser que seja pelas razões que sucederam, por exemplo, na final do Europeu de 2016, em que se magoou e passou a ponta final do jogo a digladiar-se com Fernando Santos a ver qual dos dois dava mais indicações para dentro do relvado. Tal como agora, nesse jogo, contra a França, a seleção nacional conquistou a vantagem no marcador sem Ronaldo em campo, mas isso foi algo que nunca aconteceu, por exemplo, nas 46 vezes em que ele foi rendido no Real Madrid. Em todas essas trocas, só por seis vezes o Real não estava a ganhar (cinco empates e uma situação de desvantagem), sendo que nenhum desses seis resultados se alterou. Pior, além disso, foi já sem Ronaldo em campo que o Real deixou inverter três resultados: de 2-0 para 2-2 em 28’ com o Villarreal em Maio de 2018, de 2-1 para 2-2 em oito minutos com o Levante em Fevereiro de 2018 e de 2-1 para 2-2 em 18 minutos com o Las Palmas em Setembro de 2016.
Para se encontrar uma substituição de Ronaldo seguida de inversão positiva do resultado num clube é preciso recuar até 6 de Dezembro de 2008, no Manchester United, em Old Trafford. O adversário era o Sunderland FC, o jogo estava empatado a zero, e Alex Ferguson só abdicou do português a 22 minutos do final, porque ele se magoou. Entrou Giggs e o United chegou ao golo da vitória já em período de compensação por intermédio de Vidic, que já estava a jogar como ponta-de-lança e foi o primeiro a chegar à recarga de um remate de fora de Carrick que acertou no poste. Antes desse jogo, o United tinha conseguido ganhar mais um desafio nessa mesma época já sem Ronaldo em campo: a 23 de Setembro de 2008, em partida da Taça da Liga frente ao MIddlesbrough, Alex Ferguson retirou Ronaldo do campo a 29 minutos do fim, com o resultado empatado a uma bola (e tinha sido ele a marcar o golo do United). Quem entrou foi Tévez e os reds acabaram por ganhar por 3-1 com golos marcados por Giggs e pelo também português Nani.
E se o facto de este ser um jogo menos relevante (Taça da Liga…) também puder servir como atenuante, então há que recuar até 20 de Fevereiro de 2007, quando Ferguson tirou Ronaldo de campo (entrou Saha) a 23 minutos do final de uma visita ao Lille OSC, na Liga dos Campeões, e o golo solitário da partida apareceu aos 83’, marcado por Giggs. Estamos a falar do último ano antes de Ronaldo e Messi começarem a tomar conta da lista dos prémios de melhor do Mundo da FIFA e do France-Football.