A vitória do SC Braga frente ao Spartak Moscovo e o empate do Vitória SC emBucareste, com o que resta do Steaua e agora dá pelo nome de FCSB, foram notíciasmuito importantes para o futebol português, sobretudo se permitirem que estasduas equipas se juntem a Benfica, FC Porto e Sporting nas competições europeiasdeste ano. Muito se falou no desastre que foi o afastamento do FC Porto da Ligados Campeões – e foi, de facto, sobretudo para os interesses financeiros doclube, para o seu prestígio e para a capacidade de valorizar os seus jogadoresem jogos nos maiores palcos. Mas não o foi por todas as razões apontadas, quenessa altura toda a gente começa a falar no ranking e nos pontos que os clubesconseguem para o bolo do país. A questão é que para estabelecimento do seulugar no ranking da UEFA, Portugal até agradeceu e, provavelmente, se o SCBraga confirmar em Moscovo o resultado de ontem, em 2021/22 voltaremos a terduas equipas diretas na Champions e uma terceira a jogar as pré-eliminatórias.
Vamos estabelecer aqui uma coisa: a UEFA precisa de melhorar a forma comocalcula o posicionamento dos países no seu ranking, que é das coisas maisarcaicas e mal feitas no desporto mundial. Ou então não e assume que aquilo quequer é uma alternância entre países de “classe média”, a fazer lembrar asmudanças cíclicas de governo entre esquerda e direita a cada nova eleição em paísessaudavelmente democráticos. A coisa funciona assim. A cada época, pega-se nototal de pontos feitos pelas equipas de um país e divide-se pelo total deequipas que começaram a jogar as provas europeias, nem que participem só naseliminatórias preliminares. No fim, para definir as vagas de cada país na épocaseguinte, somam-se as médias dos últimos cinco anos. Isto é, para 2020/21, jáse sabe que Portugal terá as mesmas cinco equipas de 2019/20, pois continuava aser sétimo do ranking neste início de época. E já se sabe que a Rússia terá asmesmas seis, pois continua a ser sexta. Mas a distância entre os dois continuaa diminuir, como diminui desde que os russos ultrapassaram os portugueses.Porquê? Não só porque passaram a ter um divisor maior (seis em vez de cinco),mas também porque passaram a ter mais equipas na Champions, onde os pontos sãomais difíceis, e menos na Liga Europa (onde eles são mais fáceis).
Sobretudo desde a última remodelação das competições europeias, em 2015/16,que custou uma vaga aos países colocados abaixo do sexto lugar, o sistema passoua ter uma falha que leva a que quem está atrás sempre recupere: passando a termenos uma equipa como divisor a partir dessa época, a Rússia ganhou um ponto aPortugal em 2015/16, mais 1,217 pontos em 2016/17, mais 2,934 pontos em2017/18, ano em que consumou mesmo a ultrapassagem. A recuperação de Portugalcomeçou em 2018/19, porque aí passámos nós a ter apenas cinco equipas: num ano,os clubes portugueses recuperaram 3,317 pontos aos russos. Ora para oestabelecimento do ranking no final desta época – o que vai definir as vagasnas provas de 2012/22 – não só deixarão de ser contabilizadas as pontuações de2014/15 (o que permitirá a Portugal recuperar mais 0,583 dos 2,317 pontos quetem de atraso neste momento), como passarão a contar as de 2019/20.
E, nestas, Portugal tem mais duas vantagens.
Primeiro, os clubes portugueses dividem o total de pontos a conquistar porcinco, enquanto os russos o dividirão por seis. O que é excelente, porque háneste momento a expectativa de termos cinco clubes portugueses a pontuar e apenasquatro russos. É que o Arsenal Tula já foi eliminado na ronda anterior da LigaEuropa, perdendo os dois jogos com o Neftchi Baku, do Azerbaijão, e há otimismorelativamente ao progresso de Vitória SC contra o FCSB e do SC Braga face aoSpartak Moscovo. Este play-off pode mesmo determinar a sorte dos dois países em2021/22 – se os minhotos aguentarem a vantagem em Moscovo, teremos cinco (ouquatro, dependendo do Vitória SC) portugueses e apenas quatro russos; se oSpartak conseguir virar a eliminatória, teremos quatro portugueses (ou três) ecinco russos.
Depois, porque os pontos na Liga Europa são mais fáceis de conquistar do que na Liga dos Campeões, mas valem o mesmo em termos de ranking. E Portugal vai ter o Benfica no Pote 2 da Champions, FC Porto e Sporting como cabeças de série da Liga Europa e, eventualmente, Sc Braga (Pote 2) e Vitória SC (Pote 4) da mesma competição. Por sua vez, os russos terão o Zenit como cabeça de série na Liga dos Campeões, o Lokomotiv no Pote 4 da mesma prova, já asseguraram CSKA Moscovo (cabeça de série) e FK Krasnodar (Pote 2) na Liga Europa, onde poderão até meter o Spartak.
Tudo começa a definir-se em Moscovo, portanto, na próxima quinta-feira. Desse jogo, sim, depende o futuro de Portugal no ranking da UEFA.
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