As apresentações de Rúben Amorim pelo Sporting e de Custódio Castro pelo SC Braga foram os pontos altos do dia futebolístico de ontem em Portugal, uma espécie de virar de mesa que não deixa ninguém indiferente. No meio de tudo o que foi dito, confirmaram-se convicções em primeiras impressões, que podem ou não vir a ser desmentidas no futuro próximo. A de um Frederico Varandas desorientado, de um António Salvador espertalhão, de um Custódio Castro discreto e de um Rúben Amorim carismático.
A desorientação de Varandas ficou bem à vista no momento em que demonstrou ainda não ter entendido os argumentos dos que – eu incluído – falaram num “all in” desesperado neste novo treinador. Que eu saiba, ninguém quis dizer que o Sporting não teria dinheiro para pagar os dez milhões ao SC Braga. O que disse, e mantenho, foi o mesmo que o próprio Varandas acabou por afirmar também: que esses dez milhões sairão do plano de execução orçamental e que, portanto, não vão ser utilizados noutra coisa. Ou que já podiam ter sido usados noutra coisa. Em Bas Dost, por exemplo, criando assim condições para evitar o rodízio de treinadores que tem sido notícia em Alvalade com este presidente.
A desorientação do presidente do Sporting – a quem reconheço mérito em muitas outras áreas de atuação – no que toca à gestão do futebol nem precisaria do reforço que lhe foi dado pelas palavras do próprio Rúben Amorim, quando este disse que, ao assinar contrato, “até podiam pôr 20 milhões [na cláusula de rescisão] porque ninguém ia pagar aquilo”. Ela estava subentendida quando o Sporting resolveu pagar dez milhões por um treinador que até pode vir a ser um sucesso, mas cujos dois meses de carreira ao mais alto nível não lhe dão bases de sustentação que o façam resistir a uma série de maus resultados. E foi flagrante quando o presidente disse, sem se rir, que Rúben Amorim era “o treinador do projeto” dele para o Sporting. A sério? E Keizer? E Silas? Foram o quê? Interinos? E se tinha toda essa convicção por que não contratou Amorim quando ainda não precisava de pagar dez milhões por ele? O que o convenceu? Foram os dois meses à frente do SC Braga?
Nada disto belisca a qualidade que Rúben Amorim pode muito bem ter dentro dele – para o saber vai ser preciso ver como supera o verdadeiro teste, que se apresentará atrás de um par de maus resultados. No discurso, Amorim mostrou-se otimista e carismático, com uma série de frases que captaram a atenção. “Perguntam: e se corre mal? Mas a pergunta que eu faço é: e se corre bem?”, disparou o novo treinador do Sporting, que ainda respondeu aos que se lembram de uma entrevista em que se afirmava “fanático do Benfica”, afirmando-se, isso sim, “fanático por ganhar”. Vindo de um treinador que foi dos poucos em Portugal que já ganhou esta época ao Benfica, estas frases salvaram dois “match-points”, mas não afastaram de vez o espectro do derrotismo que vem afetando a equipa do Sporting e que Silas, por exemplo, não foi capaz de anular. Isso só pode conseguir fazê-lo em campo, sendo que o risco maior é o de não o conseguir no curto prazo e dessa forma comprometer o investimento que agora foi feito nele.
Porque a questão aqui passa muito pela relação conturbada que Frederico Varandas mantém com os seus treinadores. Manterá o presidente a convicção de que, depois de Keizer e Silas, mas também dos interinos Tiago Fernandes e Leonel Pontes, Amorim é o treinador do projeto se o Sporting não acabar a Liga pelo menos em quarto lugar? Ora, em sentido inverso, essa foi também um pouco a questão colocada, com uma boa dose de oportunismo e de chico-espertice, por António Salvador. O presidente do SC Braga veio defender algo que para mim faz todo o sentido: a inibição de um treinador que já dirigiu uma equipa na Liga vir a comandar outra na mesma época desportiva. Faz sentido, porque não só levaria os presidentes a pensar mais de duas vezes antes de acionarem o chicote, mas também porque tornaria o mercado mais aberto, sem o limitar aos mesmos de sempre. E por que é que falo em chico-espertice e oportunismo? Primeiro porque essa regra não impediria o Sporting de contratar Amorim, que nem sequer era o treinador do SC Braga – esse posto pertencia a Micael Sequeira. Depois porque o próprio Salvador já fez o mesmo, quando foi buscar Jorge Simão a Chaves, sem se importar com “qualquer questão moral ou ética”.
Apanhado na curva foi Custódio, que com a chegada ao comando recupera o apelido – passa a ser Custódio Castro. Discreto, com linguagem de trabalho, já tem o destino traçado pelo seu presidente, que assumiu que anda “a formar para os outros”. Nem todos os treinadores do SC Braga tiveram sucesso, mas houve vários que, de facto, ali passaram e depois chegaram a um dos três grandes: Domingos Paciência, Leonardo Jardim, Jorge Jesus, Sérgio Conceição… A razão? Há várias, mas nenhuma delas tem a ver com a capacidade formativa de treinadores por parte do SC Braga. A estrutura é boa, porque não é muito pesada, e porque não tem em cima a pressão que existe noutros locais. Cabe a quem treina fazer isso mesmo: treinar. É isso que Custódio terá de fazer nos próximos tempos. Da mesma forma que é tão mais do que isso o que espera Rúben Amorim.
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