A cimeira de líderes – sem a presença do FC Famalicão – da Liga, na sexta-feira, decretou uma série de medidas de curto prazo para os quatro primeiros colocados do campeonato do ano passado. Deixou o Benfica mais longe e a encarar a soberba como principal adversário, o FC Porto cheio de dúvidas e aparentemente sozinho no Mundo, o Sporting em crise existencial e com muitos fogos para apagar e o SC Braga pujante, a acreditar nos amanhãs que cantam. As respostas que cada um der nos tempos mais próximos – já a partir de amanhã, na Final Four da Taça da Liga – serão definidoras.
Depois de ver a equipa ganhar o dérbi de Lisboa sobretudo com base na qualidade individual dos seus executantes e na profundidade de banco, deixando o rival mais próximo a sete pontos, o presidente do Benfica sentiu necessidade de falar à comunicação social para repetir o discurso programático do “treino a treino, jogo a jogo” que também é imagem de marca do seu treinador. Luís Filipe Vieira lembrou que há um ano também a sua equipa estivera a uma grande distância do primeiro lugar e acabou por ser campeã, falando tanto para dentro do balneário como para as bancadas, porque a “onda vermelha” pode ser tão empolgante como anestesiadora. A quantidade de soluções colocadas à disposição de Bruno Lage, contudo, é impressionante, permitindo ao treinador encontrar sempre mais alguém para resolver, mesmo quando perde jogadores por lesão – olhar para o lado no banco e ver Rafa, Taarabt e Seferovic para dar um incremento à equipa num dérbi que estava em impasse é muito tranquilizador.
No Dragão, depois de perder em casa com o SC Braga, com algum infortúnio – ninguém falha dois penaltis num jogo… –, a Sérgio Conceição resta pouco mais do que bater no peito e dizer o que ele disse: “A culpa é minha”. A questão é se poderia ser diferente. E muito remete para a gestão que foi feita do caso-Cindy. Percebeu-se desde o início da temporada que muito do rendimento da equipa portista ia estar intimamente relacionado com o que fossem capazes de lhe dar Marchesín, Uribe e Luís Díaz. E os três prometeram tanto, que agora se olha para trás e a coisa acaba por saber a pouco. O guarda-redes não está mal mas deixou de parecer um herói, o médio dá constância à equipa mas não é capaz de ser decisivo, o extremo mostra que tem golo mas falta-lhe sempre continuidade. Mas, mas, mas… O resultado tem sido um FC Porto que deixa transparecer as limitações de quatro avançados – Marega, Zé Luís, Soares e Aboubakar – tão poderosos como redundantes nas suas caraterísticas. Claro que Zé Luís é mais técnico do que Marega, que Soares é melhor definidor e por isso marcou nas últimas oito vezes em que foi titular, mas nenhum deles tira a equipa das suas rotinas, que nem sempre chegam para ganhar.
Mais problemática está a vida em Alvalade, onde Jorge Silas já percebeu que as melhores ideias precisam dos melhores jogadores. E o Sporting não tem os melhores jogadores desde o primeiro ano de Jorge Jesus. Foi isso que entendeu Marcel Keizer, há um ano, quando se prontificou a trocar o futebol que defendia – e que lhe terão pedido… – para poder tornar-se competitivo. Melhor na adequação aos princípios de jogo do que quando chegou o técnico, este Sporting esbarra depois na questão fundamental do futebol: simplesmente, falta-lhe qualidade. Silas tem quatro ou cinco jogadores do nível exigido para o futebol que quer ver, mas depois vê os esforços esbarrar no boicote involuntário do resto da equipa, que tem um guarda-redes em aprendizagem, só tem um lateral em condições e não tem um médio-centro ou um ponta-de-lança (quanto mais dois ou três) à altura. Claro que, se conseguir tornar o grupo invulnerável aos torpedos que chegam das bancadas – aquilo não são só as tochas, porque deitam abaixo um porta-aviões –, o Sporting tem plantel para ser terceiro na Liga, mas o grupo está neste momento perante uma escolha que pode ser definidora. Quer tentar ganhar já? Precisa da solução-Keizer. Quer ganhar de forma consolidada no futuro? Precisa de manter as ideias e ter paciência até ser capaz de construir um plantel que as alimente. Porque isso não se faz de um dia para o outro. Nem de um ano para o outro, possivelmente, porque a formação de Alcochete já não é o que foi.
Finalmente, em Braga, três vitórias seguidas, incluindo uma no Dragão, permitiram a António Salvador substituir o tom preocupado por um épico a propósito do centenário. A Taça da Liga, que a equipa volta a poder jogar em casa, pode ser um primeiro passo a caminho de uma afirmação que este SC Braga procura há anos, que chega a ameaçar mas que, depois, nunca consolida. O SC Braga de Rúben Amorim surpreende pelo arrojo tático, que o torna mais difícil de interpretar e contrariar, mas rapidamente vai ser claro como a água para quem quiser ver as suas lacunas. Que estão lá, sobretudo se a equipa defender tão atrás como fez no Dragão, mesmo que isso seja para atrair o adversário e encontrar espaço em transição ofensiva. É um risco, mas se a equipa o encarar com convicção e se sair bem já nesta semana que agora entra está bem a tempo de arrancar para uma segunda metade de época fulgurante. O problema é que o contrário também é possível.