Portugal bateu a Sérvia, em Belgrado, por 4-2, num jogo com uma segunda parte eletrizante, na qual chegou a ter de sofrer, depois de ter permitido por duas vezes que os donos da casa recuperassem para apenas um golo de desvantagem (ao 1-2 e aos 2-3), mas onde Bernardo Silva assumiu os galões de estrela na seleção e resolveu, com uma assistência e um golo tão importantes nos últimos dez minutos. À primeira vitória nesta fase de qualificação, depois de dois empates caseiros, a seleção nacional praticamente garantiu a qualificação direta para a fase final: basta-lhe agora vencer os quatro jogos frente a Lituânia e Luxemburgo para somar 17 pontos, quando a Sérvia nunca poderá fazer mais do que 16, mesmo que ganhe sempre até final.
O jogo foi muito em contraciclo com o que costuma ser o futebol do Portugal de Fernando Santos: uma equipa foi hoje capaz de fazer muitos golos, mas sofreu bastante do ponto de vista defensivo, muito por força do que um ataque tão móvel exige do meio-campo. Sem um ponta-de-lança mais posicional ou alguém que ocupasse com alguma frequência as zonas de finalização, uma vez que Ronaldo e Gonçalo Guedes alternavam muito entre a esquerda e o meio e Bernardo Silva se envolvia bastante à direita com Bruno Fernandes e Nélson Semedo, o selecionador precisava que William Carvalho entrasse muito na área, como aliás surgiu no lance do 1-0, que ele próprio marcou. Só que esse 4x1x4x1 deixava Danilo frequentemente desamparado à frente da defesa, no espaço entrelinhas que Tadic foi sempre utilizando para lançar o pânico nas costas dos laterais portugueses.
Assim sendo, e mesmo com uma equipa da Sérvia a jogar em bloco médio-baixo e à espera do erro de Portugal para sair em contra-ataque, foi um milagre o intervalo ter chegado só com um golo – e mesmo esse, sendo fruto de uma movimentação estudada, acabou por ser algo fortuito. Marcou-o William, depois de um cruzamento de Bruno Fernandes ter levado ao choque entre o guarda-redes Dmitrovic e o central Maksimovic, acabando a bola por ficar à mercê do médio português. O golo, marcado aos 42’, premiava o jogo de maior iniciativa por parte de Portugal, mas nem se pode dizer que a equipa nacional tenha tido assim tantas bolas de perigo nesse primeiro tempo. Viram-se boas combinações ofensivas, sobretudo do lado direito, mas sempre pouca presença na área nos momentos em que a bola lá entrava. Do outro lado, mesmo com menos bola e a jogar mais recuada, a Sérvia era capaz de expor os dois laterais portugueses com bolas nas costas – não teve também situações flagrantes de golo mas terá causado algum desconforto ao selecionador.
Na segunda parte, o jogo não mudou de bases. A Sérvia sabia que o empate a deixaria em boa posição – porque Portugal e a Ucrânia teriam nesse caso de jogar para se eliminarem um ao outro em Kiev – e não desesperou, mantendo-se tranquila a gerir o resultado, mesmo que este já lhe fosse desfavorável. Portugal voltou a ser dominador e teve em dois remates de Ronaldo, aos 48’ e 50’, boas oportunidades para ampliar a marca. Algo que aconteceu logo aos 58’, num bom trabalho individual de Gonçalo Guedes sobre Milenkovic, seguido de um excelente remate cruzado, que Dmitrovic não conseguiu parar. Com dois golos de vantagem e cerca de meia-hora para os gerir, Portugal deixou-se adormecer, acabando por sofrer um golo inacreditável, aos 68’, num canto em que toda a gente parou e Danilo até agachou, no momento em que Milenkovic saltou para cabecear.
Com mais de 20 minutos para jogar, o público acordou e a Sérvia voltou a acreditar. Bastou um minuto para Ljajic forçar Rui Patrício à defesa da noite, no que podia ter sido o golo do empate. Nessa altura, Santos até podia ter pensado na introdução de um médio mais seguro, capaz de controlar o jogo, como Moutinho, mas acabou por chamar João Félix, pelo que este dava à equipa em termos de condução de bola e de ocupação de espaços no corredor central, sacrificando Gonçalo Guedes. Foi a decisão que marcou a ponta final do jogo, que se tornou eletrizante em vez de controlado, também muito graças ao contributo de Bernardo Silva, que tantas vezes se encolhe na seleção, não mostrando o futebol de que é capaz do Manchester City, mas que hoje foi determinante. O extremo começou por isolar Ronaldo – talvez mais do que no limite do fora-de-jogo… – para o 3-1, marcado com um suave picar de bola sobre o guarda-redes, aos 80’. Só que, cinco minutos depois, uma perda de bola a meio-campo deu à Sérvia a hipótese de voltar a reduzir: colocado na cara de Rui Patrício por Tadic, Mitrovic não perdoou e, marcando pela sexta partida consecutiva da sua seleção, voltou a abrir o tema da discussão do resultado.
Foi aí que, com tão pouco tempo para jogar, Santos chamou Moutinho. Mesmo assim, o jogo não caminhou para o lado do controlo, pois os donos da casa davam tudo para chegar a um empate que os deixaria bem colocados na questão da qualificação e expunham-se atrás. E não tardou, assim, que Portugal chegasse ao quarto golo: aos 86’, Danilo fez um lançamento longo e preciso para a entrada de Raphael Guerreiro e este descobriu Bernardo Silva na área, para uma finalização clínica, junto ao poste mais próximo. O 4-2 matava a Sérvia, que agora só por milagre fugirá ao play-off, e deixava Portugal a quatro vitórias da fase final, em jogos contra adversários de outro campeonato.