O FC Porto começa hoje a caminhada que, esperam os seus responsáveis, há-de levar a equipa à fase de grupos da Liga dos Campeões e a pelo menos 40 milhões de euros de prémios com o debate a centrar-se na estreia (ou não) do guarda-redes Marchesin como titular. Apesar de só ter conhecido os companheiros na sexta-feira, e de ainda pouco se ter treinado com eles, acredito que o argentino vai ser a escolha de Sérgio Conceição para o primeiro jogo a sério desta época. Pode correr bem ou mal, mas a opção é facilmente justificável com a acréscimo de qualidade que ele traz à equipa.
Tudo no futebol é cada vez mais equilibrado e as diferenças fazem-se nos detalhes. Não há seguramente uma diferença assim tão grande entre Marchesin e Vaná ou Diogo Costa para que seja necessário precipitar a integração do novo recruta, mas não só a posição de guarda-redes é bastante específica como aquele dos três de quem o FC Porto mais espera no futuro não está em condições de dar o seu contributo, pelo que a escolha do treinador fica facilitada. Se estivéssemos a falar de um dos outros dez jogadores de campo, provavelmente um reforço com meia-dúzia de treinos começaria no banco – a esse propósito, há 20 anos, Souness deu a titularidade a Poborsky e Kandaurov num jogo do Benfica nas Antas, dias depois de eles terem chegado… e perdeu – mas o guarda-redes é o mais individual de todos os elementos de um onze.
Em 1983, quando o Sporting perdeu Meszaros – um vulto das balizas equiparável a Casillas – Venglos começou o campeonato do Sporting dando a baliza ao gigante húngaro Katzirz, contratado de véspera, precisamente escudado nessa noção na altura ainda em voga de que o guarda-redes só tem de parar as bolas que vão na direção da sua baliza. Hoje já se sabe que não é bem assim. Marchesin precisará de comunicar com os colegas, mas todos eles já estão habituados ao castelhano – os gritos “Fuera! Fuera!” de Casillas após cada pontapé de canto ou livre lateral, a mandar subir a linha defensiva, chegavam a todos os lares que tivessem a transmissão televisiva dos jogos do FC Porto. Além disso, o guarda-redes é cada vez mais importante na construção de jogo, na ligação com quem tem de fazer a saída de bola ou na perceção de qual é a melhor forma para fazer a redução de espaços e o controlo da profundidade defensiva. Mas é aí que entram em equação o substituto e a dimensão mental da decisão.
Claro que seria ideal haver um maior conhecimento daquilo que quer o treinador, daquilo que deixa os colegas mais confortáveis, da mesma forma que estes prefeririam saber ao detalhe e a cada momento como vai reagir quem está atrás deles. A decisão de Venglos, há mais de três décadas, ter-se-á baseado na noção de que Melo estava no plantel apenas para uma emergência, da mesma forma que está agora Vaná. O que essa decisão deixou à vista foi que o treinador não confiava suficientemente em Sérgio, o jovem guarda-redes da seleção de juniores – e isso depois ficou à vista. Sérgio Conceição não tem de enfrentar esse problema, porque Diogo Costa, o jovem guarda-redes da seleção de juniores que o FC Porto tem agora no plantel, está lesionado e não foi sequer convocado. Se ele estivesse disponível, a decisão seria mais intrincada. Assim, joga Marchesin.