A incapacidade da direção presidida por Frederico Varandas para cumprir o desígnio a que se propôs em campanha, que era “unir o Sporting”, está a ser dramática para um clube que aparece cada vez mais dividido. É provável que os defensores da situação tenham até razão quando proclamam vitórias noutros âmbitos que não o desportivo e quando acusam vastos interesses da oposição de estarem por trás da convulsão permanente, cujas manifestações mais visíveis se encontram no lamentável comportamento da principal claque do clube, a Juventude Leonina, mas a verdade é que as diferentes equipas – não, não é só o futebol… – do Sporting vão caindo de produção e a hipótese de um pacto de regime que torne o clube governável parece cada vez mais distante. Perante este cenário, e por muito que isso possa parecer injusto ou uma cedência a uma “minoria ruidosa”, acredito que o Sporting não tem alternativa a não ser passar por novo processo eleitoral. Nem que seja para voltar a legitimar a direção atual.
Que a gestão-Varandas do futebol tem sido um fracasso rotundo, já não restam dúvidas. A equipa principal caminha para a pior época da sua história e, sobretudo depois de ter conseguido juntar os cacos que sobraram da invasão a Alcochete e transformar a temporada passada num exercício até muito aceitável, com dois troféus ganhos, o desastre já não pode ser inteiramente imputado à herança dos tempos do brunismo. Foram cometidos demasiados erros, desde a condução do dossier-treinadores às cedências a interesses exteriores de mercado, tudo contribuindo para a manta de retalhos que é neste momento a equipa do Sporting. E é evidente que uma equipa que não ganha – o Sporting tem neste momento 15 vitórias e 12 derrotas em jogos oficiais e uma diferença de golos de apenas sete positivos em 29 jogos – não contribui em nada para a tal pacificação que faz falta à construção de um futuro risonho. Seria muito mais fácil ter as bancadas em paz se os que estão no relvado fossem contribuindo com o seu quinhão para a satisfação coletiva. Só que, já se viu, dali não se espera nada tão depressa.
E a questão é que se chegou a um ponto em que já não importa muito de quem é a culpa daquilo a que Varandas chamou “o fosso”. Em que, sendo importante, não chega proclamar vitórias em planos como o da resolução da dívida galopante ou anunciar projetos para voltar a ter uma formação de topo. Ou ainda em que é irrelevante perceber se o presidente geriu bem a relação com os adeptos, tentando primeiro negociar com as claques e fazendo depois uma espécie de política de terra-queimada em que equipara todos os que estão no Topo Sul do estádio a “escumalha”. É evidente que há ali um problema de criminalidade, mas até para poder combater esses criminosos e afastá-los do estádio, a gestão necessita de encarar um processo de relegitimação. Porque o Sporting não é governável nestes termos de convulsão permanente.
Claro que Varandas pode achar que não precisa de ser legitimado a meio de um mandato. Claro que há o perigo de aparecer um aventureiro populista a limpar as eleições e a conduzir o clube para caminhos sombrios. Claro que é possível que a marcação de eleições venha a premiar alguns daqueles que, nos bastidores, têm manobrado as marionetas responsáveis por espalhar a confusão. Mas a questão é que a cada semana que passa sem sucessos, esse perigo é mais real. E, se acredita que está a fazer as coisas bem, o próprio Varandas terá de entender que precisa dessa relegitimação para poder dizer: “Agora, por favor, deixem-me trabalhar”.
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