Seja porque quem ganha os clássicos o faz porque é o mais forte dos candidatos ao título, seja porque ao ganhar os clássicos não se ganham só três pontos – o adversário também perde esses três pontos – a vitória nos jogos entre candidatos ao título costuma ser transcendental na conquista da Liga. Benfica e FC Porto sabem que o jogo de hoje é demasiado importante para ser encarado com ligeireza, como sabem também que o facto de ainda só estarmos na terceira jornada da Liga permite qualquer tipo de recuperação, até por haver ainda mais cinco clássicos a disputar até se proclamar um campeão. Dito isto, há que aceitar as verdades que são óbvias: que a pressão está dos dois lados, que o Benfica é favorito, mas que nem sempre os favoritos ganham.
O favoritismo do Benfica no clássico de hoje tem a ver com dois ou três aspetos. Primeiro, porque Bruno Lage tem um onze mais consolidado e, por trazer mais gente da época passada, com processos mais bem assimilados. Espera-se que o Benfica entre em campo com nove dos onze titulares na conquista do título de 2018/19, sendo as ausências André Almeida, que ainda regressa de lesão, e João Félix, que saiu para o Atlético Madrid; do outro lado, mesmo que recupere Otávio, que tem andado arredio das escolhas, Sérgio Conceição deverá jogar de início com Marchesin, Marcano, Uribe, Zé Luís e Luís Diaz como novidades relativamente ao que a sua equipa mais vezes apresentou na última Liga. Depois, esse favoritismo encarnado tem a ver com a confiança que a equipa pode exibir, fruto do momento que vive, com três vitórias em outros tantos jogos, 12 golos marcados e zero sofridos. Do outro lado, o FC Porto já teve de encaixar dois golpes duros, a derrota em Barcelos com o Gil Vicente na estreia da Liga e a eliminação da Champions, em casa, com o FK Krasnodar. Ao todo, os dragões vão com duas vitórias e duas derrotas, oito golos marcados e cinco sofridos. Finalmente, porque o Benfica joga em casa e isso, não sendo decisivo – a equipa de Lage começou a ganhar a Liga quando foi vencer o FC Porto ao Dragão, em Março – costuma ser importante.
Agora, o que é importante percebermos é que nem sempre os favoritos ganham. O FC Porto era favorito em Barcelos contra o Gil Vicente e era favorito na eliminatória com os russos do FK Krasnodar e perdeu ambos os jogos. Foi por isso que os dois treinadores realçaram ontem o aspecto do empenho como valência superlativa do clássico – como o é em todos os jogos. Lage advertiu os avançados que têm de continuar a correr, mesmo que não façam golos; referindo-se a si mesmo, Conceição falou em deixar tudo no clube, mas não é difícil fazer o ‘transfer’ para a atitude que espera dos jogadores. Pareceu mais dramático o treinador do FC Porto, mais brincalhão o líder benfiquista, mas, ao contrário do que possam achar, a pressão é muita e está dois dois lados. Está pressionado o FC Porto, porque não quererá ficar a seis pontos logo à terceira jornada, o que por um lado seria bom, por dar tempo de recuperação, mas também mau, porque enfatizaria um início de época muito negativo. Mas também está pressionado o Benfica, porque se o FC Porto está em “crise”, como é que se explicaria que à terceira jornada e tendo já desperdiçado o jogo em casa contra o rival, se encontrasse com os mesmos pontos?
O jogo, de resto, deverá jogar-se muito na componente estratégica. Veremos o Benfica e o FC Porto do costume: os encarnados a apostarem nas combinações Pizzi-Rafa quase sempre no corredor central, os portistas aperfeiçoando o ataque de Marega à profundidade. O que vai valer pontos, aqui, é a forma de contrariar as armas do adversário: “forçado” a jogar com um onze que se prevê muito ofensivo, com três atacantes puros e Corona adaptado a lateral direito, como é que o FC Porto vai equilibrar melhor o corredor central, de forma a impedir as tais combinações velozes dos criativos adversários, sem prejudicar a sua forma de jogar? E como é que o Benfica reduzirá o espaço nas costas da defesa, sem baixar demasiado a última linha e sabendo de antemão que não tem um guarda-redes particularmente veloz a sair dos postes para controlar a profundidade?
Por aqui se decidirá o clássico.