Portugal eliminou mais uma barreira na caminhada para a fase final do Europeu’2020, ao vencer fora a Lituânia por 5-1, com quatro golos de Cristiano Ronaldo e um de William Carvalho. E foi uma barreira que chegou a parecer mais alta do que era na realidade, fruto da ansiedade que a equipa ia revelando com a eternização do empate a um golo, que só foi desfeito já dentro da última meia-hora de jogo, num frango de Setkus. Naquele que se revelaria o lance chave do jogo, aos 62’, o guardião lituano, que se tinha oposto a inúmeras finalizações, protagonizando até algumas defesas brilhantes, abordou mal um remate do capitão português e deixou que a bola lhe batesse no ombro e resvalasse para dentro das redes. Acabavam aí o nervosismo que toldava o futebol aos campeões europeus e o entusiasmo que era uma espécie de doping para os lituanos, pelo que o resultado acabou naturalmente por se ampliar até à goleada, que mantém a equipa nacional firme na estrada da qualificação.
A Lituânia é a equipa mais fraca do grupo, vai ser última, e em campo não mostrou nada que contrariasse essa ideia. Valdas Urbonas acantonou os seus homens junto à área de Setkus, em duas linhas tão próximas uma da outra que chegava a ter nove jogadores (mais o guarda-redes) bem dentro dos últimos 20 metros. Depois, apostava tudo em bolas longas, a esticar o jogo na direção do ponta-de-lança, o possante Laukzemis, que chegou a dar trabalho aos centrais portugueses, ou em eventuais lances de bola parada ofensiva. Portugal tinha Ronaldo mais posicional do que no jogo na Sérvia, pedia a João Félix que se aproximasse mais do capitão no corredor central, e se acabava por revelar alguma dificuldade para ligar o jogo por dentro – não era fácil, com tanto lituano por ali – até fazia bom uso dos corredores laterais. A seleção cruzou muito e foi metendo sempre gente em zonas de finalização… mas sem acerto no remate. Teve até a felicidade de um erro de Palionis, logo aos 7’, lhe permitir sair na frente do marcador quando ainda não o justificara – o central lituano meteu a mão a um cruzamento de Félix e Ronaldo abriu o ativo de penalti – mas não fez o segundo golo a tempo de se tranquilizar.
Ronaldo podia ter bisado logo aos 10’, quando os lituanos lhe abriram caminho até à meia-lua para um remate que só deu canto, ou aos 19’, quando um cruzamento da direita quase gerou autogolo de Girdvainis, mas foram os lituanos quem chegou ao empate. Num canto, aos 28’, Andriuskevicius saltou mais alto do que Félix e colocou a bola mesmo junto ao poste da baliza de Rui Patrício, que não podia lá chegar. Se o primeiro golo de Portugal foi uma machadada na confiança da equipa da casa, o empate foi uma injeção de otimismo e euforia, tanto dentro do campo como nas bancadas – e foi mesmo o único momento do jogo em que os 4800 adeptos da casa se fizeram ouvir mais alto que os 150 fuzileiros portugueses que fizeram a viagem da base da NATO em Klaipeda para apoiar a equipa.
O jogo tornou-se, então, um exercício nervoso, com Portugal a ir com tudo em busca do regresso à vantagem, mas sempre temendo um contra-ataque que, em boa verdade, nunca surgiu. Setkus teve então ocasião de brilhar, parando remates de Cancelo (aos 32’) e de João Félix (aos 34’ e 37’). Ronaldo (aos 40’), Bruno Fernandes (aos 44’) e William (aos 45’) também estiveram próximo de desempatar, mas o intervalo chegou mesmo com um 1-1 que poderia vir a complicar muito as coisas para a segunda parte. E ainda que os portugueses tenham surgido mais pacientes no segundo tempo, foi mesmo preciso um erro individual do adversário para que o jogo desbloqueasse. Félix já tinha estado perto do golo aos 50’, mas colocou tanto o remate que ele saiu ao lado. Bruno Fernandes tivera outra oportunidade aos 51’, mas, já bem na área lituana, teve três adversários a lançar-se aos seus pés e a desviar o remate para canto. Bernardo Silva, aos 57’, também esteve próximo do 1-3, quando, após um canto a favor da equipa da casa, foi servido por Ronaldo num contra-ataque rapidíssimo e contrariado por Setkus.
Foi já com Rafa em campo – o extremo substituiu Bruno Fernandes aos 56’, permitindo a João Félix juntar-se mais a Ronaldo no corredor central e aproximando a equipa de um 4x2x4 – que surgiu o 1-2, aos 62’. Ronaldo chutou de fora, a bola saiu enrolada, porque o capitão português até escorregou no momento do remate, mas Setkus não a agarrou e viu-a bater-lhe no ombro e seguir para dentro das redes. Foi um golo justo, mas gerado num lance infeliz, o que de certa forma ainda podia acicatar a equipa lituana e manter as dúvidas na portuguesa. Para contrariar qualquer tentativa de reanimação dos da casa, no entanto, Portugal fez o terceiro logo aos 65’: bom trabalho de Bernardo na direita, a temporizar o passe na perfeição para a entrada de Ronaldo na frente do lateral do lado oposto, e finalização de primeira do capitão para o hat-trick. A discussão do resultado morria ali.
Até final, pouco mais se viu do que uma série de ocasiões para Portugal ampliar. Ronaldo chegou ao quarto aos 76’, colocando muito bem a bola junto ao poste mais distante depois de mais um passe de Bernardo Silva, e de imediato fez sinal ao banco, a combinar a substituição. O capitão da equipa nacional persegue um recorde, quer ser o máximo goleador por uma seleção em toda a história do futebol, e chegou hoje aos 93 golos, 16 a menos que o iraniano Ali Daei. Mas há coisas que não convém forçar, pelo que cedeu a vaga a Gonçalo Guedes, motivando desde logo a debandada geral dos adeptos lituanos, que já não tinham razões para ficar: nem o resultado estava em discussão, nem Ronaldo marcaria mais golos. Quem fez o quinto foi William, já em período de compensação. Mas até a apatia do médio português – que marcou pelo segundo jogo seguido na seleção, depois de já ter aberto a contagem em Belgrado – a festejar dizia qualquer coisa: o jogo estava fechado e Portugal cumpria mais uma etapa a caminho da fase final do Europeu.
Faltam nove pontos para assegurar a qualificação e ainda há esta Lituânia em casa e o duplo compromisso com o Luxemburgo, além da visita à Ucrânia, que só deve servir para decidir quem se apura em primeiro e quem vai em segundo lugar.