Pinto da Costa, presidente do FC Porto, reuniu-se com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, no Palácio de Belém nesta segunda-feira e à saída do encontro considerou que caso a Liga Portuguesa não possa ser reatada, os dragões devem ser declarados vencedores. “O que se jogou não pode ser anulado, está jogado. Se resolverem que não haja mais campeonato, podem por decreto entregar o campeonato a quem querem. Se o FC Porto seria justo vencedor nesse caso? Parece-me que o que tem sido feito, nos campeonatos que acabam, é que conta a classificação que está. Na Segunda Liga subiram os que estavam em primeiro e em segundo. E pelo menos um dos que estava abaixo tinha muitas possibilidades ainda. Ou então definir por decreto”, disse Pinto da Costa em declarações à comunicação social.
O presidente dos azuis e brancos deixou ainda apoio aos jogadores do plantel que criticaram alguns pontos do código de conduta da Direção Geral de Saúde, embora considere que existem condições para o retorno do desporto rei. O documento contém normas a adotar pelos intervenientes de clubes da Liga Portuguesa, de forma a que o futebol regresse no fim do mês. “Acho que o desagrado foi generalizado. Não compreendo como se quer proibir um profissional de futebol, que tem de ir diretamente para casa, não pode conviver com ninguém. Se isso é importante então desprezo para os outros profissionais. Porque é que o profissional da restauração pode ir do restaurante para onde quiser? Isso é cortar a liberdade das pessoas. Mas os experts analisam. Todos os que ouvi do ramo da medicina acham que há coisas que não compreendem”, referiu Pinto da Costa.
Esse código de conduta foi precisamente o tema abordado pelo António Tadeia no Último Passe desta segunda-feira, onde pode ler um par de ideias sobre a importância dos deveres, mas também da antecipação de eventuais cenários de nova paragem. O António Tadeia que recordou também a carreira de “Trinche” Carlovich, que faleceu recentemente. Maradona, Bielsa e Pekerman renderam-se ao talento do antigo médio, que preferia jogar com amigos à fama do profissionalismo. Uma reportagem para ler aqui.
Ora, após ser divulgado esse código de conduta, começaram a surgir as críticas às normas. Ainda ao final da noite de domingo, três jogadores do FC Porto recorreram às redes sociais para demonstrarem aquilo que pensam sobre o assunto. Isto quando já estão confirmados casos positivos de Covid-19 em jogadores de equipas do principal escalão como Benfica (um), Vitória SC (três), FC Famalicão (quatro) e Moreirense (um).

Danilo Pereira, capitão do FC Porto, assim como Soares e Zé Luís publicaram imagens em discordância com o código divulgado pela Federação Portuguesa de Futebol e Liga de Clubes. “Brincadeira, só pode”, escreveu Zé Luís, enquanto os colegas de equipa reagiram com ‘emojis’ em discordância. Nas publicações dos atletas azuis e brancos surgem os pontos iniciais do Código, entre eles o facto de que clubes e jogadores “assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infeção por SARS-CoV-2 e de COVID-19, bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública”. Outro dos pontos que aparecem diz respeito ao confinamento. “Para minimizar o risco de infeção por SARS-CoV-2, os atletas, as equipas técnicas e os árbitros devem manter-se em recolhimento domiciliário desde a data do início da retoma dos treinos para as competições oficiais e até ao final da temporada de todas as competições”, também pode ler-se. Já nesta segunda-feira, Francisco Geraldes, do Sporting, também partilhou uma imagem do primeiro ponto do Código com críticas pelo meio.
A resposta da DGS surgiu durante esta segunda-feira, com Graça Freitas a dizer que é preciso “um consenso” e a comparar o risco de infeção com o de uma cirurgia. A diretora geral da Saúde apontou que as regras foram estabelecidas com o intuito de “minimizar o risco de vir a ter um teste positivo”, situação que acontece com “medidas de maior isolamento possível”, segundo diz. “É obvio que em qualquer processo em que o risco não é zero, os atores envolvidos têm diferentes níveis de responsabilização. Não é apenas um dos intervenientes que fica responsável por todo o processo. Tem de haver um consenso, um código aceite pelas partes envolvidas, em que todos tenham consciência da situação. Como quando vamos fazer uma cirurgia, por exemplo, pedem-nos para assinarmos um consentimento informado. Estão a informar-nos dos riscos, damos o nosso consentimento, não estamos a desresponsabilizar todos os outros intervenientes no processo”, referiu Graça Freitas em conferência de imprensa.
Também ao fim da noite de domingo, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores, mostrou-se de acordo com o Código apresentado pela DGS à FPF. Apesar de já terem surgido casos positivos de Covid-19 nos clubes, Joaquim Evangelista deu conta de que o reatar da Liga Portuguesa não está em causa. “Devemos estar tranquilos, não é momento para criar alarme e receios. Estamos em desconfinamento, o que significa que vamos ter casos positivos na sociedade e no futebol em particular. Qual é a dúvida? Isso vai acontecer. Paralelamente existirá um protocolo para defender o que deverá ser feito quando isso acontecer. Este protocolo é fundamental, veio tranquilizar os agentes desportivos. E mais, para os jogadores é uma dupla garantia a partir do momento em que estão a fazer testes, visto que aumenta a sua proteção e das suas famílias. Há um risco maior não saber que estamos infetados. [Os jogadores] são corajosos e querem jogar”, defendeu o presidente do Sindicato ao ‘Mais Futebol’.
As normas impostas pelas autoridades de saúde estiveram em conversa e esclarecimento, esta segunda-feira, numa reunião entre federação, Liga, treinadores e árbitros, revelou Joaquim Evangelista. “Se há dúvidas, têm de ser esclarecidas. O jogador joga e dá positivo, por exemplo. Se houver alguma consequência do ponto de vista financeira ou outro, terá de ser o futebol a suportar isso. Havemos de ter amanhã [esta segunda-feira] uma reunião com a Liga, FPF, treinadores e árbitros para esclarecer dúvidas que possa haver. O futebol é que tem de dar resposta aos problemas.”
O Benfica deu conta no domingo que David Tavares deu positivo à Covid-19 e veio a público esclarecer que divulgou a identidade do jogador em nome da “transparência” e com o consentimento do jogador. “O Benfica tomou, em nome da transparência, a decisão de divulgar o nome do jogador, que, obviamente, deu o seu imediato consentimento para que assim se procedesse. O Benfica tornou pública a situação no mesmo dia em que teve conhecimento do caso, fazendo-o poucos minutos após ter ficado a conhecer o resultado da contra-análise. Este sinal de transparência vai ao encontro daquilo que o Benfica pediu desde a primeira hora: centralização dos testes e a necessidade de uma periodicidade apertada”, pode ler-se na newsletter diária das águias.
Paulo Sérgio, treinador do Portimonense, também deixou críticas, mas ao regresso das equipas aos treinos. O técnico dos algarvios considera como “prematura e quase irresponsável” a decisão de fazer os clubes voltarem às sessões de trabalho. “Será que os profissionais da Liga terão alguma particularidade e são imunes ao vírus? Fomos jogados para a frente de batalha, para a linha de tiro, sem colete à prova de bala, tipo cobaias, em nome da retoma económica, mas a vida e saúde dos profissionais estão a ser jogadas à sorte. Há condições para testar, mas a nossa atividade não é só treinar: é ir às compras agora mais vezes, meter mais gasóleo nos automóveis, numa altura em que, insisto, o vírus não se alterou”, atirou Paulo Sérgio em declarações ao jornal ‘O Jogo’. O timoneiro mostrou-se de acordo com acabar o campeonato, mas não nestas condições.

O Santa Clara, por seu turno, reclama apoio financeiro devido às despesas que terá caso tenha de jogar o que falta do campeonato fora dos Açores. “Nós precisamos de apoio para suprir as questões de logística que vamos ter. Desde passagens aéreas, alojamento, alimentação, transportes, estadias. É um conjunto de despesas muito grande que vamos ter e que surgem do facto de não conseguirmos jogar em nossa casa”, referiu Rui Cordeiro, presidente do clube, em declarações à agência ‘Lusa’. Foi avançado recentemente que as equipas das ilhas jogariam no continente de forma a evitar contágios de Covid-19 e Rui Cordeiro estima custos entre 150 e 200 mil euros para tal efeito. “Nós não sabemos o local dos jogos, temos de tratar da estadia, dos transportes, da alimentação. Há a questão das ligações aéreas, que são muito diminutas por questões de saúde. As perguntas são muitas e nós precisamos de algumas respostas para organizar a nossa vida”, referiu o presidente do Santa Clara.
Já na Segunda Liga, ficou a saber-se que César Peixoto já não é treinador do GD Chaves. O clube transmontano anunciou a saída da equipa técnica através de comunicado, esta segunda-feira. “A Direcção do Grupo Desportivo de Chaves e o Conselho de Administração da SAD vem, pelo presente, expressar o seu agradecimento ao treinador César Peixoto e à sua equipa técnica por todo o profissionalismo, competência e dedicação que demonstraram até ao dia de hoje ao serviço desta sociedade desportiva”, diz o comunicado. César Peixoto tinha chegado a Chaves a meio da época e somou três vitórias em 12 jogos.
Lá fora, começa a perspetivar-se o regresso da Liga Inglesa, mas só depois de 1 de junho. O governo do país comunicou, esta segunda-feira, que não haverá desporto profissional até ao começo do próximo mês. De acordo com o plano de desconfinamento de Inglaterra, na segunda fase – não começará antes de 1 de junho – serão “permitidos eventos culturais e desportivos, à porta fechada, para transmissão televisiva, evitando o risco de contágio em larga escala”. O documento em questão refere ainda que uma eventual abertura dos recintos ao público “só será possível mais tarde, dependendo de uma redução significativa do número de infeções”.
Por falar em Inglaterra, o grupo proprietário do Manchester City adquiriu a maioria de mais um clube, desta feita o Lommel SK, do segundo escalão belga. “Este investimento aumenta ainda mais a presença mundial do City Football Group e a atenção nos clubes, nos centros de formação e nos jogadores em formação”, referiu em comunicado a sociedade dos Emirados Árabes Unidos. O Lommel junta-se assim a Manchester City, New York City FC e Melbourne City, clubes que o grupo detém. A escolha por uma equipa belga deve-se a ser “um dos melhores países de futebol na Europa e demonstrou-o pelo sucesso da seleção nacional e pelo desenvolvimento de jogadores de classe mundial, como Kevin de Bruyne e Vincent Kompany”, disse Ferran Soriano, chefe-executivo do CFG. O grupo tem ainda parcerias com Yokohama Marinos (Japão), Girona FC (Espanha), Atlético Torque (Uruguai) e Sichuan Jiuniu (China).
Em Itália, o dia foi marcado pela triste notícia do falecimento de Andrea Rinaldi, jovem médio de 19 anos que era uma das maiores promessas da Atalanta e do desporto rei do país. Rinaldi estava emprestado ao Legnagno (Série D) e internado no hospital desde sexta-feira, não resistindo assim a um aneurisma cerebral. “O AC Legnano, a cidade e o mundo inteiro do futebol, de todos os níveis, vive hoje um dos dias mais difíceis. Andrea Rinaldi, nosso guerreiro, deixou-nos. É uma tragédia difícil de imaginar”, referiu o emblema do quarto escalão italiano. A Atalanta também já deixou uma mensagem de luto nos canais oficiais.
Ainda em Itália, o governo do país autorizou os treinos dos clubes de futebol a partir de 18 de maio. “A opinião pedida pelo Governo sobre o protocolo da Federação Italiana de Futebol (FIGC) foi expressa esta segunda-feira pelo Comité Técnico Científico e confirma a diretriz da prudência seguida até agora pelos ministérios. As indicações do Comité serão transmitidas à FIGC para que as adaptações necessárias do protocolo e que permita o reinicio em segurança dos treinos em equipa a partir do dia 18 de maio”, pode ler-se num comunicado divulgado pelas altas instâncias italianas. Ainda assim, não é certo que o campeonato seja concluído. De recordar que o Ministro do Desporto italiano tinha referido recentemente que as equipas do principal escalão deveriam “concentrar-se já na próxima época”.