O Vitória FC tem um novo presidente. Depois da queda para os escalões não profissionais, devido ao incumprimento dos requisitos para licenciamento na Liga, a direção encabeçada por Paulo Gomes demitiu-se, por considerar que, neste novo cenário, teria de ser legitimada pelos sócios. Nas urnas, foi Paulo Rodrigues, líder da Lista B, quem recolheu o maior número de votos. Parece uma simples história de sucessão institucional mas, já diz o povo, o “Diabo está nos detalhes”. Meses depois de ter sido suspenso como sócio por vandalizar as instalações do clube, meses depois de ter sido acusado de agressão por Vítor Hugo Valente, à data presidente do Vitória, meses depois de ter acusado o clube de lhe dever dinheiro, Paulo Rodrigues é hoje o presidente do clube.
“Sou o homem mais feliz do mundo. Vencer estas eleições representa para mim a união dos sócios, que queremos voltar a ter no clube. É para mim uma honra que isso possa acontecer. Este é sem dúvida o maior desafio da minha vida, pela dimensão do Vitória, que é o quarto maior clube de Portugal”, anunciou o ex-empresário de futebol na hora da consagração. “Para todos os vitorianos, a minha promessa é a de muito trabalho, verdade, cumprir o programa eleitoral, e sobretudo, convencer os que não me apoiaram, para que no futuro se juntem não a mim, mas a todos os sócios e adeptos, numa luta comum: reerguer o Vitória Futebol Clube”, acrescentou ainda, o novo presidente.
Paulo Rodrigues assume a presidência do Vitória FC depois de não ter sido autorizado a ir a eleições em janeiro de 2020 por estar a cumprir um período de suspensão. “O agora presidente, que tinha cumprido um período de seis meses de suspensão de sócio, depois de vandalizar as instalações do Estádio do Bonfim, em abril de 2019, concorreu agora ao ato eleitoral depois de estar impossibilitado de apresentar uma lista no início do ano”, escreveu a RTP.
Paulo Rodrigues foi o primeiro dos candidatos a apresentar a intenção de lutar pela presidência do clube sadino. Ao jornal O Setubalense, considerou que os “episódios polémicos” que protagonizou num passado recente tiveram a sua razão de ser. “Os episódios menos bons que tive no Vitória tiveram a sua razão de ser. Foram por culpa de alguém que fez para que eles acontecessem. Existe um velho ditado que diz que ‘quem não se sente não é filho de boa gente’. Afinal todos dizem que os vitorianos são pessoas boas, sérias e com valores, e foi no que eu sempre acreditei. Só tenho a pedir uma enorme desculpa aos sócios”, afirmou.
Os dois casos mais badalados tiveram então lugar por ocasião da presidência de Vítor Hugo Valente. Segundo avançou o clube à Lusa em dezembro de 2019, Paulo Rodrigues foi responsável pela agressão sofrida pelo então presidente do clube sadino, que terá sido empurrado, esmurrado e pontapeado pelo agora presidente do Vitória. Segundo a Lusa, “Vítor Hugo Valente estava sozinho e ia entrar para o seu carro numa conhecida avenida da cidade quando Paulo Rodrigues surgiu e o empurrou de costas para o chão, tendo, a partir daí, sido agredido com murros e pontapés”.
“Antes e durante as agressões, o empresário aludiu ao facto de, na segunda-feira, ter sido visado pelo presidente, que garantiu em conferência de imprensa ir apresentar queixa-crime contra Paulo Rodrigues, que acusou o dirigente de ter desviado dinheiro do clube. ‘Aí queres tribunal, vais pôr-me em tribunal? Então, toma lá o tribunal’, disse Paulo Rodrigues, de acordo com a mesma fonte, no momento em que deu início às agressões, ao final da tarde de quinta-feira, na principal avenida da cidade de Setúbal”, escreveu ainda a agência.
Também numa nota enviada à Agência Lusa, Paulo Rodrigues desafiou Vítor Hugo Valente a provar as agressões. “O senhor Vítor Hugo Valente que apresente queixa na polícia, com as suas testemunhas e provas, e eu lá estarei para me defender. É em tribunal que se prova tudo. O próprio diz constantemente nas suas intervenções públicas que tudo o que é denegrir, acusar, mentir ou agredir tem de ser provado em tribunal. Em plena Avenida Luísa Todi, entre as 17h00 e 18h00, e ninguém viu nada, ninguém tirou uma foto ou fez um vídeo. Estranho que agora tudo o que acontece ao senhor Vítor Hugo Valente tenha sido Paulo Rodrigues”, assinalou o agora líder sadino.
A animosidade entre Paulo Rodrigues e Vítor Hugo Valente teve vários capítulos. Noutro dos mais badalados e, este, assumido pelo próprio Paulo Rodrigues, viu-se o novo presidente do clube a vandalizar as instalações do mesmo. Episódio que levou a que o agora líder sadino acabasse suspenso e impossibilitado de ir a votos nas anteriores eleições. “Tive várias ações em que estive mal, por isso terei de pagar as coisas que parti e são da SAD. Entrei de cara destapada, não tinha armas, a porta 0 estava aberta, abriram-me a porta magnética, estavam lá diretores, jogadores, treinadores, roupeiros, fisioterapeutas, médicos, administradores e até seguranças e ninguém me meteu na rua e ninguém me disse nada? Eu não toquei em ninguém nem ninguém me tocou a mim. Onde está o ato de terrorismo? Tenho a pedir desculpas ao Vitória Futebol Clube e aos sócios”, escreveu Paulo Rodrigues no Facebook depois do Vitória ter tornado publicas fotografias de escritórios vandalizados e considerado ter-se tratado de um ato terrorista protagonizado pelo empresário.


Em causa estava uma suposta dívida do clube e de Vítor Hugo Valente a um grupo de investidores do qual fazia parte Paulo Rodrigues. “Depois de ter entrado nas instalações dos sadinos pela porta zero, junto à sala de imprensa, o agente dirigiu-se à zona dos balneários, destruindo à sua passagem portas, partido vidros e danificando mobiliário pelos vários gabinetes. Acompanhado por Paulo Teixeira e Celeste Rodrigues, investidores que reclamam com o empresário o pagamento de uma verba de cerca de 650 mil euros, não conseguiram chegar à fala com o líder do Vitória, razão pela qual Paulo Rodrigues se dirigiu posteriormente para o Bonfim com a esperança de ser recebido por Vítor Hugo Valente. Antes de entrar nos corredores que dão acesso aos balneários, o empresário publicou de novo no Facebook um vídeo na sala de imprensa, onde estão expostos os principais troféus do clube”, escreveu o jornal regional O Setubalense.
“Frustrado por não ter conseguido reunir com o presidente – que acusa de não cumprir o plano de pagamento e de não dar quaisquer explicações –, o agente, enquanto gritava, ia invadindo a zona que está interditada a pessoas estranhas ao serviço. O sucedido deixou estupefactos os atletas e todos os elementos que integram a estrutura de futebol profissional que estavam nos balneários localizados por debaixo da bancada central descoberta do Estádio do Bonfim”, pode ainda ler-se na reportagem publicada a 24 de abril de 2019.
Apesar de tudo isto, Paulo Rodrigues venceu as eleições para a presidência do Vitória FC concorrendo precisamente contra Vítor Hugo Valente, mas também contra Nuno Soares. O ex empresário de futebol foi eleito com 587 votos, contra os 368 do antigo presidente e dos 538 do outro opositor num total de 1580 votos. Foram ainda registados 52 votos brancos e 35 nulos. Depois da tempestade, veio a bonança e agora Paulo Rodrigues tem a missão de reerguer um clube histórico caído para mares revoltos.
“O mais importante é sempre o Vitória e a SAD. Hoje estamos com uma dívida muito alta e temos de mudar urgentemente para uma gestão profissional, que envolva pessoas com experiência e resultados no futebol em Portugal e no mundo. Temos de ter na SAD as pessoas certas e eu posso trazer ao clube toda a minha experiência adquirida ao longo da minha vida e posso reunir com qualquer presidente de clube no mundo. O trabalho, empenho e profissionalismo que dediquei à minha vida profissional permitiu-me ter hoje esses contactos que poderão ser uma válida ajuda. Neste momento o mais importante é os sócios apoiarem uma nova direção, um novo líder e, principalmente, um novo caminho. Não sei se podemos ainda ter tempo e solução para a SAD. São precisos 7 milhões para época 2020/21 com a SAD activa”, prometeu, e o primeiro desafio chegou horas depois de ter sido consagrado líder sadino.
De acordo com o jornal regional O Setubalense, Paulo Rodrigues foi alertado ao início da tarde da passada segunda-feira “para o facto de dois ex-elementos da anterior Direção, liderada por Paulo Gomes, terem entrado nos serviços administrativos para vasculhar informação”, obrigado o líder sadino a chamar as autoridades ao local. “Os elementos em causa estavam no interior dos serviços administrativos a consultar tudo o que entendiam. O presidente Paulo Rodrigues foi informado da situação e chamou de imediato a Polícia ao Estádio do Bonfim. Quando as autoridades chegaram, um ex-dirigente estava no computador e o outro já tinha deixado os serviços, levando documentos com ele”, noticiou a publicação.