Faço parte daquele grupo de adeptos genuinamente preocupados com o regresso do futebol. Quero saber quando e como ele volta, porque já me faltam os jogos no meu dia-a-dia, porque além disso sem eles não há tanto assunto para trabalhar, mas nem por isso estou disponível para defender que a bola volte a saltar enquanto isso foi tido como prejudicial em termos de saúde pública. Preocupa-me a saúde das pessoas: sinto falta de ver futebol mas não deixo de pensar que o regresso vai ficar caro e que esse custo talvez não seja suportável a não ser pelos clubes e competições mais ricas, que não haverá condições para se fazer testes à Covid-19, por exemplo, em escalões secundários ou no futebol de formação e que isso pode ser o fim da carreira de uma geração privada de treino e de competição por mais de um ano, até termos uma vacina. É nisso que penso, por estes dias, quando penso em futebol. Mas sempre que abro os jornais internacionais sou assolado por uma questão pungente: é que nós, ou somos muito sérios, ou estamos mesmo tesos que nem um carapau.
O que vejo na imprensa portuguesa são entrevistas, são pingos que sobram de diretos que os jogadores vão fazendo no Instagram, que é algo que não dignifica propriamente o jornalismo mas que é o que se arranja. São questões em torno do regresso aos treinos, são as polémicas (nem sempre saudáveis, claro) à volta da atribuição de títulos, vagas europeias, subidas e descidas. O que não vejo – e ainda bem – são grandes conversas de mercado. Aliás, ainda hoje o Record anunciava que o Sporting não vai fazer compras enquanto mantiver os cortes salariais aos seus profissionais – e era preciso ter muita lata para agir de outra forma. E, no entanto, abrem-se os jornais para lá de Badajoz e parece que estamos a viver noutro mundo, um mundo de fartura e vertigem, sem pingo de influência da pandemia que nos preocupa a todos em Portugal.
Só nos últimos quinze dias – e pegando apenas nas primeiras páginas – o As anunciou que o Real Madrid anda em cima de Mbappé, que até pode ficar um ano sem jogar para acabar o contrato com o PSG. Garantiu que Haaland e Upamecano estão a ser alvos de uma disputa acesa entre os madridistas e o Bayern, que o Manchester United vai perder a cabeça por João Félix e que Florentino Pérez já tem 50 milhões para ir contratar Camavinga ao Stade Rennes. Se pegarmos no El Mundo Deportivo, a novidade é que De Ligt está entre o FC Barcelona e o Bayern e que a Juventus quer contratar Arthur – sendo que o Barça admite receber Betancur, Bernardeschi, Demiral ou De Sciglio como moedas de troca. Mais se diz que, além de Neymar, que já se prontificou a regressar recebendo metade do salário, e por quem o FC Barcelona se prontificou a libertar Umititi ou Dembelé, os catalães querem mais um avançado. Este poderia ser Lautaro, do Inter, se os italianos não exigissem os 111 milhões de euros da cláusula de rescisão, mas assim sendo é mais certo que seja Timo Werner – por quem o Bayern (sempre o Bayern…) também já se pôs em campo. E há mais: o Tottenham e o Inter também querem Arthur; os nerazzuri sugeriram a entrada de Nelson Semedo no negócio de Lautaro; o Manchester United e o Newcastle estão a lutar por Vidal e Kanté até pode chegar ao Camp Nou se o Chelsea mantiver o interesse em Coutinho.
Se pegarmos na Marca e no Sport a conversa é igual, o que me leva a concluir que a Covid19, em Espanha, não está a ser aquilo que os números têm pintado. Anda um cidadão para aqui convencido de que o mercado do futebol vai ressentir-se da paragem, da crise global e desta necessidade de baixar gastos, porque as receitas estão a ser seriamente afetadas, e afinal os milhões continuam a saltar como pipocas num tacho quente assim que passamos a fronteira. E, das duas uma: ou nós em Portugal somos muito sérios e conscienciosos acerca daquilo que esta pandemia vai trazer ao futebol ou então estamos mesmo falidos.
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