Há menos espectadores a ir aos estádios em Portugal neste início de época do que em 2018/19. Assim acontece tanto se avaliarmos a média de adeptos presentes nos recintos dos jogos da Liga, como também se olharmos para as taxas de ocupação das bancadas. Nas primeiras quatro jornadas disputadas no principal escalão até agora regista-se uma média de 12.929 espectadores no estádio por partida, números alicerçados numa taxa de ocupação cifrada nos 53,52%, segundo dados recolhidos no site da Liga. Na temporada passada, estas contas estavam melhores: nas primeiras quatro rondas de 2018/19 havia uma média de 13.894 pessoas por encontro, com uma taxa de ocupação de 55,38%.
Até agora, o jogo com maior assistência (ver gráfico abaixo) nesta época foi o pontapé de saída do Benfica no campeonato, com a receção ao FC Paços de Ferreira, que contou com 62.956 espectadores nas bancadas. Segue-se o clássico entre os encarnados e o FC Porto, também no Estádio da Luz, com 62.735 adeptos no estádio. A completar o pódio aparece a receção dos dragões ao Vitória SC, na jornada mais recente, com uma assistência de 47.711. Na outra ponta desta tabela, o encontro que teve o pior registo de espectadores em 2019/20 aconteceu em pleno Estádio do Jamor, mais precisamente o Belenenses SAD-Boavista, com 1.213 pessoas nas bancadas.


Num país que gosta mais de ir à bola ao domingo ao fim da tarde, a tendência de estádios cada vez mais vazios não é uma novidade deste ano: com quatro jornadas realizadas em 2017/18 registava-se uma taxa de ocupação de 55,76%, números que já na última época tinham baixado ligeiramente. Ainda assim, a média de espectadores por jogo era em 2017/18 inferior (13.040) à da temporada passada.
Os números da época transata foram baixando com o decorrer do trajeto, o que confirma que, de facto, é mais provável haver estádios bem compostos nos compromissos em pleno verão do que depois, quando surge o inverno e o tempo rígido. Assim sendo, a Liga Portuguesa de 2018/19 terminou com uma taxa de ocupação de 49,6% e uma média de 11.690 espectadores por jogo.
Entre as razões apontadas, os horários dos jogos são cada vez mais falados, sendo que muitas das vezes a Liga entra em conformidade com os requisitos das operadoras de televisão. No entanto, os adeptos não estão de acordo com esta disparidade nas horas a que as partidas se realizam e a queda dos espectadores nos recintos é uma prova disso mesmo. O preço dos bilhetes é também outro dos problemas, que até já gerou discórdia neste começo de temporada, situado no bate-boca entre Luís Filipe Vieira e António Salvador, aquando da receção do SC Braga ao Benfica.
Uma comparação que até parece mal…
Uma questão: Portugal tem perdido, ao longo dos anos, a cultura de ir ao futebol? É que até se pode dizer que não há muitas pessoas nos estádios porque o nosso país também não é assim tão grande. No entanto, as taxas de ocupação dos recintos dos clubes não deixam mentir e a verdade é que comparada com as restantes europeias, a Liga Portuguesa deixa muito a desejar neste capítulo. Ao olhar para o que tem acontecido neste início de época pela Europa do futebol, alguns com mais jogos que outros, Portugal deveria fazer soar os alarmes neste sentido.


A começar, olhemos para as Ligas que nunca passou pela mente de alguém terem piores taxas de ocupação do que em Portugal: Premier League inglesa (96,9% de taxa de ocupação), Bundesliga alemã (91,07%), La Liga espanhola (77,07%), Ligue 1 francesa (72,10%) e Série A italiana (70,17%). A questão é que nem são apenas os principais escalões destes países que ficam acima dos 53,52% da Liga Portuguesa. O Championship, segundo campeonato de Inglaterra, soma 72,14% de taxa de ocupação e até o terceiro escalão inglês (56%) tem mais do que Portugal. A segunda liga alemã também (71,52%), mas a francesa (42,29%) já não consegue esse mesmo feito.
Agora, é tempo de olhar para campeonatos que estão mais ao nível do português, até mesmo pelo ranking da UEFA. O campeonato russo, agora com seis jornadas, conta com uma taxa de ocupação superior à portuguesa, cifrada nos 60,06%. Na Holanda (80,78%) passa-se o mesmo, assim como na Bélgica (65,25%) e na Escócia (63%). Ainda assim, a Liga Portuguesa consegue superiorizar-se ao principal escalão austríaco (47,58%).
Ir à bola domingo ao fim da tarde e sábado à noite? Sim, obrigado
Os horários prediletos do povo português para ir ver o futebol ao estádio são o final da tarde de domingo, mais precisamente os jogos que comecem entre as 17h e as 19h, e o início de noite de sábado, entre as 19h e as 21h. Pelo menos, assim tem sido neste início de época, tal como nos últimos dois anos. No que diz respeito a recintos mais compostos, em quatro partidas disputadas em 2019/20 nesse período, houve uma média de 19.945 espectadores por encontro, com uma taxa de ocupação de 84,68% em média (ver gráfico abaixo).


Ainda assim, existe uma média bem superior no horário de sábado entre as 19h e as 21h. Em quatro compromissos, existe uma média de 32.365 espectadores por jogo, sendo que a taxa de ocupação é ligeiramente mais baixa (79,93%). Ora, a explicação mais simples para esta situação é a presença de um dos três grandes em cada um desses compromissos, o que certamente leva mais pessoas ao recinto, seja em casa ou fora de portas.
No entanto, já nas duas últimas temporadas se verificava situação similar, ainda que com uma amostra maior de jogos e nem sempre com Benfica, FC Porto ou Sporting ao barulho. Os jogos entre as 17h e as 19h foram também os que tiveram uma maior taxa de ocupação em 2018/19 e 2017/18. Em 68 partidas, com três clássicos pelo meio, registou-se uma ocupação média de 65,57%, com 17.103 espectadores, em média, por encontro no estádio. Nas duas épocas transatas, os horários que mais se aproximam dessa fasquia são: domingo entre as 19h e as 21h, que até conta com melhor média de espectadores (18.111), mas taxa de ocupação mais baixa (59,30%); sábado entre as 19h e 21h (16.680 média de adeptos no estádio e taxa de ocupação de 58,49%); e sábado entre as 17h e as 19h (média de espectadores de 17.358 e 55,73% como taxa).


No que diz respeito a este começo de temporada, os números são semelhantes. Logo após o período entre as 17h e as 19h surgem as partidas que começam ao sábado às 21h ou depois e têm uma média de adeptos no recinto cifrada nos 27.841, assim como uma taxa de ocupação de 56,4%. Ainda assim, é necessário referir que estes dados refletem apenas quatro jornadas já disputadas na Primeira Liga de 2019/20 e é quase certo de que estes números dificilmente se irão manter assim tão elevados com o decorrer do campeonato.
Na mó de baixo estão os jogos que ocorrem depois de almoço durante o fim de semana. Esta situação pode surpreender alguns adeptos mais distraídos, que poderiam pensar ser a segunda-feira a registar as piores assistências. Ora, nas duas últimas épocas houve um total de 65 compromissos no principal escalão à segunda-feira à noite. Neles registou-se uma média de espectadores por jogo de 8.558, complementada por uma taxa de ocupação de 47,19%. Em 2019/20 foram duas as partidas a decorrer nesse período, o que dá numa taxa de 41,62 % e uma média de 3.375. Há pior do que isto.
O horário entre as 15h e as 17h de sábado é aquele que regista os piores números. Nas épocas de 2018/19 e 2017/18, foram 75 os encontros a ter lugar nesse período, com uma média de 3.928 espectadores por jogo e uma taxa de ocupação de 36,44%. Neste início de temporada a bitola mantém-se, com uma média de 2.128 e taxa de 30.49%, dados que correspondem às quatro rondas. Um pouco mais acima na tabela surge precisamente o mesmo horário, só que ao domingo. Nos dois campeonatos mais recentes, esse período teve uma média de 4.489 e uma taxa de 41,60%. Ora, em 2019/20 vai com média de 3.648 e uma taxa de 35,22%, em seis jogos. A explicação mais simples para esta menor adesão pode estar relacionada com o facto de raramente haver um dos clubes de topo da tabela a jogar neste horário, muitas vezes ocupado com encontros entre equipas que lutam para evitar a descida de divisão.
Nota de registo para já ter havido, somente em quatro jornadas, mais jogos após as 21h ao fim de semana nesta época como na globalidade das últimas duas. Em 2019/20, registaram-se quatro partidas nesse período ao sábado (média de 27.841 espectadores por jogo e taxa de ocupação de 56,4%) e outras quatro ao domingo (média de 20.159 e taxa de 54,90%). Em 2018/19 e 2017/18, foram seis os duelos nesse período ao sábado (média de 36.447 e taxa de 80,23%) – sendo que todos eles tiveram a presença de um dos três grandes -, e dois ao domingo (média de 5.530 e taxa de 50,20%).
Repetições da época passada levam mais gente ao estádio
Em quatro jornadas, são já muitos os duelos que ocorreram nesta temporada e que tiveram lugar também em 2018/19 para o campeonato. Apenas dois deles aconteceram igualmente nas quatro primeiras rondas, mas é de salientar que ambos tiveram uma melhoria no número de espectadores que foram ao estádio. Um deles foi a receção do FC Porto ao Vitória de Guimarães. Os dragões venceram os vimaranenses há cerca de uma semana, com 47.711 adeptos no recinto. Na última época, a visita dos minhotos aos azuis e brancos contou com 47.008 espectadores. O CD Aves-Marítimo é o outro compromisso em questão, também com registo superior. Em 2018/19, o encontro contou com 1.272 pessoas no estádio, números que subiram para os 1.511 agora.
No total, são 24 os jogos desta época que tiveram também lugar em 2018/19. 14 deles registaram melhor assistência do que na temporada passada e dez obtiveram números piores. No capítulo das melhorias, os encontros foram: Portimonense-Belenenses SAD (3.486 espectadores em 2019/20 e 2.921 em 2018/19); Boavista-CD Aves (6.010 em 2019/20 e 4.331 em 2018/19); Marítimo-Sporting (9.673 em 2019/20 e 9.174 em 2018/19); SC Braga-Moreirense (13.223 em 2019/20 e 9.807 em 2018/19); Belenenses SAD-Benfica (17.821 em 2019/20 e 10.635 em 2018/19); Sporting-SC Braga (35.692 em 2019/20 e 27.673 em 2018/19); CD Tondela-Portimonense (2.955 em 2019/20 e 2.066 em 2018/19); Vitória FC-Moreirense (3.787 em 2019/20 e 2.914 em 2918/19); Benfica-FC Porto (62.735 em 2019/20 e 61.567 em 2018/19); Santa Clara-Belenenses SAD (3.525 em 2019/20 e 2.369 em 2018/19); Moreirense-Portimonense (1.432 em 2019/20 e 1.234 em 2018/19); e Sporting-Rio Ave (37.942 em 2019/20 e 26.198 em 2018/19). Estas subida podem ter como ponto de partida o facto de as partidas se disputarem ainda em pleno verão, com uma temperatura chamativa para ir ao futebol.
No lado das descidas são dez os jogos: Vitória FC-CD Tondela (3.795 em 2019/20 e 4.094 em 2018/19); Rio Ave-Vitória SC (2.713 em 2019/20 e 5.739 em 2018/19); FC Porto-Vitória FC (38.820 em 2019/20 e 41.116 em 2018/19); Vitória SC-Boavista (16.765 em 2019/20 e 17.985 em 2018/19); Rio Ave-CD Aves (2.485 em 2019/20 e 4.955 em 2018/19); Marítimo-CD Tondela (5.568 em 2019/20 e 5.873 em 2018/19); Portimonense-Sporting (5.634 em 2019/20 e 5.685 em 2018/19); Belenenses SAD-Boavista (1.213 em 2019/20 e 1.622 em 2018/19); e CD Tondela-Santa Clara (2.122 em 2019/20 e 3.916 em 2018/19).