Lembram-se de uma competição que coloca frente a frente as melhores equipas de futebol de Portugal? A Liga, aparentemente é assim que se chama… Pois parece que regressa hoje, quase um mês depois, com um FC Paços de Ferreira-Rio Ave, que serve de aperitivo para uma jornada onde há vários jogos em condições de testar um fator muito importante em alta competição: a tensão cénica face ao enorme peso das expectativas. Há, pelo menos, um FC Porto-Famalicão e um Sporting-Vitória SC a centrar as atenções de todos os que acreditam que esta dimensão mental tem um peso fulcral nos resultados. Como, de resto, se viu ontem, nos jogos da Liga Europa e, especialmente na atuação personalizada de um SC Braga que não perdoa.
A questão é que a mente pode influenciar de diversas formas. Pode atrapalhar sem meter ainda grande pressão, como foi o caso de um FC Porto que, frente ao Rangers, pareceu desistir antes de tempo da sede de conquista, não deixando sequer que a expectativa crescesse a ponto de conseguir que a exigência funcionasse como energia combustível e ficando-se por um empate que é curto, com o Rangers. Pode confundir e tolher movimentos e ideias, como foi o caso de um Sporting a quem falta a clarividência para perceber que tem de jogar muito mais do que está a fazer e para quem, por isso mesmo, a expectativa funciona como espada pronta a esventrar o futuro de uma equipa, limitando-a, como aconteceu na sofrida vitória frente a um Rosenborg que é de outro campeonato. Pode libertar, pelo peso excessivo da expectativa face a uma realidade recente que chega a ser embaraçante, como foi o caso de um Vitória SC que, entre a eliminação da Taça de Portugal contra o Sintra Football e o gigantismo que representava um Arsenal apareceu livre e solto, mas ao mesmo tempo sem a mínima noção de exigência, acabando por perder um jogo que estava quase ganho nos instantes finais.
É por isso que impressiona a tranquilidade de um SC Braga, cujo treinador é a personificação da impulsividade e cujo presidente não lhe fica atrás. Aliás, dificilmente se imaginaria um cocktail mais explosivo do que o composto por Ricardo Sá Pinto e António Salvador. Além disso, o 11º lugar na Liga, a onze pontos do líder, seria em condições normais o suficiente para deixar o SC Braga em crise existencial. Mas não. A equipa segue segura, praticamente impenetrável aos efeitos perversos da mente e do pensamento sobre aquilo que na realidade vale. Depois de, esta época, já ter ganho nos terrenos do Brondby, do Spartak Moscovo e do Wolverhampton WFC, foi ontem ganhar ao Besiktas em Istambul com uma tranquilidade que revela uma rara invulnerabilidade ao peso cénico das circunstâncias. O Besiktas está em crise? É verdade, mas isso até avoluma a questão, pois do outro lado estava uma equipa que teria de aproveitar uma das últimas ocasiões que tinha para agarrar uma tábua de salvação na Liga Europa – e o SC Braga negou-lha, com um instinto competitivo que é raro em equipas nacionais.
Uma das caraterísticas das equipas portuguesas é que geralmente perdoam: este SC Braga não é assim. E é por causa desse raro domínio da mente, da forma como tem sido capaz de casar exigência com desresponsabilização, que digo que os bracarenses não estão mortos na Liga.