Por estes dias, Joaquim Evangelista é um homem preocupado, mais do que o normal. Numa entrevista em que apontou a vários alvos, o presidente do Sindicato dos Jogadores considerou “imoral” que um clube profissional recorra a estratégias como o “lay-off”, atirou-se às operadoras televisivas por abandonarem o futebol e reiterou que os jogadores não podem ser cobaias nesta fase. Futebol só mesmo quando for seguro.
“Nem pensar num regresso às competições, ou aos treinos, sem que as autoridades de saúde pública o entendam. É um posicionamento sagrado! Os jogadores nunca serão cobaias. Todos estão ansiosos por regressar às atividades, mas ninguém o aceitará correndo riscos. A Liga pode ter os planos que quiser para finalizar a prova, porque nenhum acontecerá sem certezas de segurança”, afirmou ao jornal A Bola.
Isto no dia em que se ficou a saber que o Belenenses SAD é o primeiro clube da liga a entrar em regime de lay-off: “A exemplo do que aconteceu com muitas empresas em Portugal e clubes de futebol europeus, a Belenenses SAD entrou parcialmente em lay-off. Os apoios públicos para empresas e trabalhadores por causa da pandemia do coronavírus têm em vista a salvaguarda dos postos de trabalho e do tecido empresarial e foram criados para serem usados. O lay-off permite que os trabalhadores da Belenenses SAD beneficiem desses apoios”, anunciou o clube em comunicado, dias depois de Rui Pedro Soares já ter dado a entender que a situação financeira no clube não estava saudável.
Ora o que não tardou foi a resposta de pronto do Sindicato. Também em comunicado, a entidade considera vergonhosa a postura do clube do Jamor: “É escandaloso que alguns clubes procurem recorrer aos apoios estatais desta forma, passando para a sociedade portuguesa a mensagem de que, em tempos de crise, não só não conseguem resolver os problemas que os afetam, como ainda vão exigir fundos que deveriam estar disponíveis, de forma imediata, para os portugueses e respetivos setores de atividade em risco de colapso”.
Sindicato que apontou ainda baterias às operadoras televisivas que, ao que a imprensa avança, se preparam para não cobrir as tranches finais relativas ao direitos televisivos da liga portuguesa: “Não se compreende que os clubes sejam rápidos a exigir cortes a jogadores e funcionários e não se incomodem com a atitude das operadoras, que beneficiam escandalosamente deste negócio há anos e no momento de maior necessidade nos abandonaram”, pode ler-se no mesmo comunicado. Mas não fica por aqui.
“Aliás, a notificação que as operadoras enviaram aos clubes, sem apelo nem agravo, das duas uma, ou é atentatória e merecia uma resposta conjunta de todos os clubes, ou é conveniente, na medida em que permite justificar muitos comportamentos irresponsáveis”, diz ainda o comunicado, em que o Sindicato dos Jogadores garante que “reagirá a esta atuação dos clubes e não deixará de convocar todas as entidades públicas e órgãos de governo do futebol, para necessidade de pôr termos a uma atuação que lesa os jogadores, mas sobretudo os contribuintes e o país”, atirou o Sindicato.
Não foi só o Belenenses a confirmar a entrada em lay-off, ainda assim. Também o GD Chaves confirmou que vai entrar neste tipo de gestão desportiva, ainda que vá pagar o mês de março por inteiro: “Não temos outra hipótese, somos obrigados a parar a nossa atividade e se existe uma lei geral temos de a utilizar”, afirmou Francisco José Carvalho, presidente da SAD dos flavienses, à agência Lusa, notando que vai haver “um corte de um terço do ordenado dos jogadores”.
Quem também tinha decidido partir para lay-off era o Liverpool FC, mas tanta foi a contestação, que o clube acabou por virar a cabeça ao prego e desistir da ideia: “Estou convencido que chegámos à conclusão errada na semana passada ao anunciarmos que tínhamos a intenção de recorrer ao lay-off do nosso staff devido à suspensão da Premier League e lamentamos isso. As nossas intenções eram, e ainda são, dar à força de trabalho a melhor proteção possível. Estamos empenhados em encontrar alternativas que nos permitam manter a atividade enquanto não regressam os jogos”, afirmou o CEO do clube em comunicado no site oficial dos Reds.
Ainda assim, Peter Moore defende que o clube não é diferente dos outros: “Em nome do espírito da transparência temos de ser claros. Apesar de nos encontrarmos numa posição privilegiada em termos financeiros, perdemos todas as fontes de receita. Não somos diferentes aos outros sectores da sociedade e olhamos para o futuro com preocupação e incerteza”. Lay-offs e solidariedade financeira que foi hoje alvo de reflexão por parte do António Tadeia no Último Passe de hoje.
Já Bruno Santos, defesa do FC Paços de Ferreira, confessou à Lusa que, por ele, o campeonato era dado como terminado desde já. “As decisões são difíceis e vai ser preciso muita coragem, sobretudo nas questões do título e das descidas. Se houver condições e avançar a ideia de se concluir as provas num mês, é não pensar na saúde dos jogadores. São sempre necessárias duas a três semanas para nos prepararmos. Na minha opinião, acabava já”.
O lateral direito do clube pacense levantou ainda o véu sobre o que é a atualidade no clube e explicou o que vão fazendo os jogadores nestes momentos de recolhimento social: “O Paços tem dado todo o suporte e trabalhamos diariamente por setor, num registo online e com o acompanhamento de um treinador. No meu caso, porque estou a recuperar de lesão, e nisso esta paragem até foi positiva, trabalho com um fisioterapeuta. Trabalhamos de segunda a sábado e por um mínimo de uma hora”. COVID-19 que não interrompeu o futebol no Burundi, país que o Fernando Gamito “visitou” hoje depois de passagens pela Bielorrússia e Nicarágua. Ali, “joga-se pela vontade de Deus”, como explica o Fernando.
Já Rochinha, em conversa com os jornalistas, por videoconferência, afirmou que seriam precisas duas semanas de preparação para que os jogadores pudessem retomar a temporada: “Se calhar, uma semana ou uma semana e meia já nos ajuda a voltar à forma. Treinar em casa ou no campo é completamente diferente. Os exercícios que fazemos são completamente diferentes e vamos perdendo algumas dinâmicas da equipa, porque não temos estado juntos no campo todos os dias de manhã. Mas com uma ou duas semanas as coisas voltarão ao normal, porque estivemos cerca de seis meses ou mais nesse processo a treinar juntos (…) Claro que queremos que o campeonato volte, porque temos objetivos a cumprir e com o campeonato parado certamente que não iremos cumpri-los”, assinalou.
Agora, uma viagem na história. Recuemos a 2006, mais precisamente ao Mundial desse ano. Recorda-se quando Portugal e Inglaterra jogaram e depois de um episódio entre Ricardo Carvalho e Rooney, Ronaldo se aproximou do árbitro para pedir a expulsão do avançado inglês, conseguindo-a? Rooney e Ronaldo até eram companheiros de equipa no Manchester United, mas segundo o histórico goleador inglês, hoje ao serviço do Derby County, não só não guardou qualquer tipo de rancor, como a situação aproximou mesmo os dois jogadores.
“Quando ele foi na direção do árbitro eu empurrei-o. Na altura nem queria acreditar na atitude dele. Mas quando estava sentado no balneário tive tempo para pensar e acalmar-me. Coloquei-me no lugar dele. Provavelmente teria feito o mesmo. Se ele merecesse o vermelho, e se isso nos ajudasse a ganhar… sem dúvida. Na verdade, tinha tentado que ele visse um amarelo na primeira parte por “mergulhar”. E aquele gesto de piscar o olho… não vi nada de especial. Não foi nada, por isso acalmei”, começou por escrever no Sunday Times.
“Senti que era importante falarmos enquanto estava tudo fresco, falar cara a cara. Pela expressão ele parecia disposto a pedir desculpa, mas nessa altura eu já estava a pensar no United. Disse-lhe que não tinha qualquer problema e desejei boa sorte para o resto do Mundial. Durante todo o verão falaram de problemas entre nós, mas não existiam. No primeiro jogo da época goleámos o Fulham por 5-1 e eu marquei dois e ofereci-lhe um. Isso deixou tudo mais tranquilo. No balneário fomos sempre próximos, a fazer partidas aos treinadores e aos colegas. E esse momento acabou por aproximar-nos ainda mais em campo. Os três anos seguintes foram os melhores da nossa parceria, e conquistámos três campeonatos e uma Liga dos Campeões. O cartão vermelho de Gelsenkirchen foi o ponto de partida”, acrescentou.
Em comunicado, o Conselho de Arbitragem anunciou que Fábio Veríssimo testou positivo para a COVID-19. No mesmo comunicado, o Conselho de Arbitragem informou que o contágio aconteceu em Portugal depois de ter contactado com uma pessoa infetada sendo que Fábio Veríssimo se encontra bem e está a ser tratado em casa. Lá por fora, também foi dia do Tottenham confirmar que o avançado Son irá cumprir serviço militar obrigatório durante o mês de maio.
Por fim, a notícia do falecimento de Radomir Antic. O antigo treinador do Atlético de Madrid tinha 71 anos e as causas da morte do técnico sérvio, único treinador que orientou Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid, não foram reveladas. Paulo Futre, que foi treinado por Antic nos Colchoneros, já reagiu: “Não tenho palavras para esta lenda eterna do Atlético Madrid e do futebol. Os meus mais sentidos pêsames para a família. Descanse em paz, míster”.