Ouço o presidente do Sporting, Frederico Varandas, dizer que “por 62 milhões é que Bruno Fernandes não sai de certeza” e vejo ali uma firmeza de convicções que, se levada até ao fim, os adeptos leoninos devem achar tranquilizadora. Depois, leio várias notícias acerca dos nomes dos eventuais alvos para substituir o capitão, de Robertone a Thiago Almada, ou da busca incessante por mais um extremo para compor o grupo e fico baralhado. Tal como na época passada, continuo a ver este Sporting com défice de defesas-laterais e excesso de extremos. É certo que contratar um defesa-direito ou um defesa-esquerdo não terá nos corações de quem decide se aplaude ou assobia o mesmo efeito que contratar um ponta com vídeos excitantes no YouTube, mas a recordação das 12 assistências de André Almeida ou Grimaldo na última Liga ou das 13 de Alex Telles na edição anterior devia ser suficiente para desequilibrar esta contenda a favor das que me parecem as verdadeiras necessidades da equipa de Marcel Keizer.
Aprendi já há muito tempo, com Laszlo Boloni, que a qualidade nunca é demais. Durante o estágio de pré-temporada que o Sporting fez na Suíça, em 2001, e perante as boas indicações que iam sendo dadas por Marius Niculae, o romeno que os leões acabavam de contratar para associar a João Pinto, ficava incrédulo com as razões que levavam o treinador a exigir mais um ponta-de-lança. Depois, no fim de Agosto, chegou Jardel e era Boloni quem tinha razão: fazia mesmo falta. Portanto, não é por o Sporting ter mantido no plantel Raphinha, Diaby, Acuña e Jovane, aos quais ainda junta o promissor Plata e o novo recruta Camacho, tendo dado guia de marcha a Carlos Mané e preparando-se para fazer o mesmo a Matheus Pereira – que por excesso de gente para as alas andou a jogar no lugar de Bruno Fernandes nos testes em que participou – que vou decretar que um extremo de topo não faria sentido no grupo do Sporting. Mas a análise daquilo que foi o rendimento da equipa em 2018/19 leva-me a achar que não é ali que falta mais qualidade.
Aos números dos titulares benfiquistas em 2018/19 – recordo-vos, 12 assistências de André Almeida e outras tantas de Grimaldo – o Sporting contrapõe quatro passes para golo de Ristovski, um de Jefferson, um de Borja e zero de Bruno Gaspar. É claro que o rendimento de um lateral não se define apenas pelo total de assistências – ainda que numa equipa tão ofensiva como deve ser um campeão nacional isso não possa de modo algum ser despiciendo – e que o 4x3x3 do Sporting não convida tanto à projeção ofensiva dos laterais como o 4x4x2 do Benfica, mas a questão é que defensivamente os jogadores leoninos também não deram grandes garantias de sucesso. É verdade também que a Alvalade chegou o francês Rosier, que ainda não se mostrou porque tem estado lesionado. Acresce ainda que, face ao excesso de opções para a frente, Acuña pode completar em definitivo a mudança para a linha de trás, de forma a concorrer com Borja pelo lado esquerdo, deixando Rosier, Ristovski e Thierry Correia a batalhar pela vaga à direita – isto presumindo que Jefferson e Bruno Gaspar já são cartas fora do baralho.
Ainda assim, como diria Boloni, a mim continua a parecer-me curto.