Já o disse ontem, no regresso do Futebol de Verdade, que o principal ponto de interesse nas eleições do FC Porto não será, em princípio, saber quem vai ganhar. Apesar de, pela primeira vez em quase 40 anos de mandato, ter dois adversários na corrida ao cadeirão de líder do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa deve ter assegurada a reeleição, precisamente devido ao fator que ele diz considerar menos na decisão de se candidatar: o trabalho que já fez desde que foi escolhido pela primeira vez, em 1982. Para mim, o interesse desta campanha eleitoral está na avaliação do comportamento dos potenciais sucessores, mas também no facto de levar a que o FC Porto seja discutido na praça pública como raramente terá sucedido no nosso tempo de vida. Foi o caso ontem, dia em que Pinto da Costa anunciou a necessidade de mudança, por ter identificado os problemas de que o clube tem sofrido.
No que toca ao posicionamento estratégico das ogivas nucleares com vista ao futuro, tem havido posições diversas. Vítor Baía, por exemplo, terá achado que a melhor forma de se colocar com vista ao futuro era concorrer ao lado de Pinto da Costa, perfilando-se desde já para a possibilidade de uma sucessão dinástica. Outros notáveis, de António Oliveira a André Villas-Boas, até eventualmente com passagem por Rui Moreira (embora este encabece a lista para o Conselho Superior), têm-se mantido à parte, mas o mais provável é mesmo que acabem por apoiar o líder, sem no entanto submeter os nomes ao oficialismo de um sufrágio. José Fernando Rio e Nuno Lobo, bastante menos conhecidos, entenderam que precisavam do trampolim que inevitavelmente será o facto de enfrentarem Pinto da Costa, na esperança de marcarem uma posição importante. E aproveitam todas as oportunidades para o tentar.
Ainda ontem, em mais uma missiva aos sócios no site da sua recandidatura – que já se viu irá ser a forma privilegiada de comunicação do presidente-candidato – Pinto da Costa deixou o que pareciam ser algumas incongruências na comparação do momento presente com o ano de 1982. Ao prometer uma ampla infra-estrutura para o futebol de formação – algo de que o FC Porto precisa mesmo para se manter a par do Benfica – o presidente voltou a dizer que o clube precisa de mudanças, mas terá sempre alguma dificuldade em explicar por que é que essas mudanças devem poupá-lo a ele. Para o fazer, recorre a sucessos recentes, como o facto de a equipa de sub19 ter sido recentemente campeã europeia da categoria – sem ter Cidade Desportiva em condições. Isto é, lança a obra de futuro, apresenta-a como indispensável, mas para se poupar ao inconveniente que seria ter de explicar por que não a fez antes, se está há tanto tempo à frente do clube, pisca o olho à esperança de que ela não tenha sido mesmo necessária, pois mesmo assim o clube forma campeões.
Nesse aspeto, foram mais assertivos na identificação dos problemas – ainda que demagógicos – os candidatos da oposição. José Fernando Rio veio prometer a redução para metade dos salários na SAD, enquanto que Nuno Lobo mencionou os jogadores que o clube perdeu ainda recentemente a custo zero, por ter sido incapaz de lhes renovar contratos. O problema do FC Porto não é de representatividade de uma região que, muito devido ao trabalho de Pinto da Costa, se revê nele, o que leva a que a generalidade das promessas que de lá saem acabem a vestir de azul e branco. O problema do FC Porto até pode ser de condições de trabalho, que devem melhorar muito para que o clube se mantenha em linha com os seus maiores rivais. Mas o problema fundamental do FC Porto tem sido de falta de noção nos momentos de comprar jogadores, de má política de mercado e de desprezo pelo valor do dinheiro. Só assim se explica que um clube que vendeu tanto nos últimos anos esteja na situação financeira alarmante em que se encontra atualmente.
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