Já todos ouviram falar – e alguns até já a explicaram – da tirania do resultado. Volta não volta, há quem mude de opinião acerca de um jogo porque, no final, uma bola bate no poste ou entra, mas é mesmo assim: é um jogo, nele luta-se por objetivos e os resultados dependem sempre em boa parte do que fazemos para os atingir. A julgar pela forma como o Benfica deixou escapar dois pontos, ontem, em Leipzig, depois de estar a ganhar por 2-0 aos 90’, é legítimo que se diga que Bruno Lage deveria ter antecipado o assédio final dos alemães e reforçado a zona central da defesa com Jardel, por exemplo. Mas se o tivesse feito e as coisas tivessem na mesma corrido como correram, seria criticado por ter feito recuar a equipa, convidando o RB Leipzig a invadir a área de Vlachodimos. A questão aqui não é tanto a de decidir o que está certo e errado, porque não há realidade contra-factual, mas sim a de perceber, no plano dos princípios teóricos, se um treinador deve reagir ao imput que o adversário coloca em campo e mudar em função dele ou se isso é tique exclusivo de equipas pequenas. E eu acho que em certas circunstâncias – como as de ontem – deve mudar, sim.
Se os analistas são muitas vezes menorizados porque criticar depois dos jogos é fácil – e na verdade não está no nosso poder fazer substituições –, os treinadores também podem sê-lo se aquilo que fazem ou não fazem acaba por fracassar. E a campanha do Benfica nesta Liga dos Campeões foi, de facto, um fracasso. Tivessem os campeões portugueses mostrado mais vezes o que mostraram ontem e poderiam estar ainda na luta pela qualificação, reforçou o próprio Lage após o empate em Leipzig, que, sendo em si um bom resultado, não chegou para manter a equipa ligada à corrente. E aqui podemos recordar que em muitos jogos, por opção, não esteve, por exemplo, Pizzi, mais uma vez decisivo na partida de ontem, ao mostrar a frieza na definição que permitiu ao Benfica marcar primeiro, até numa fase em que o RB Leipzig estava melhor na partida. E entramos, mais uma vez, no domínio da subjetividade. Foi mal feita a gestão do grupo, levando à apresentação de onzes menos experientes em jogos que correram mal? Mais uma vez, creio que sim. Não posso garantir que, com Pizzi, a equipa teria feito melhores resultados, mas, adaptando a frase de Orwell, posso estabelecer que os jogadores são todos iguais, mas que há uns que são mais iguais do que os outros.
Sem opções para continuar na Liga dos Campeões, num grupo que era equilibrado mas acessível, o Benfica continua a contrariar em campo o sonho de glória europeia tantas vezes anunciado pelo seu presidente. Se ganhar ao Zenit na última jornada, Lage ainda pode igualar os sete pontos de Rui Vitória na época passada, total muito superior aos zero de há dois anos, mas ainda assim inferior aos oito de 2016/17 ou aos dez de 2015/16, as últimas duas épocas em que seguiu para os oitavos-de-final. Neste aspeto, de facto, não se veem progressos. E pode, além disso – desde que ganhe por dois golos de vantagem ou que ganhe e o Lyon não pontue face ao Leipzig – seguir para a Liga Europa. Ora, por muito que isso crie mais crises de gestão de plantel numa altura da época em que o foco vai estar indiscutivelmente na Liga portuguesa e na luta que se antevê dura com o FC Porto (lá para Fevereiro e Março), esse tem de ser um objetivo para o Benfica. Mesmo que – ou sobretudo se – o FC Porto acabe por ficar fora da Europa entre hoje e o mês que vem. Como diz Bruno Lage, é preciso escolher o melhor onze para cada jogo, mas a pergunta que se coloca antes é se, tal como os jogadores, também os jogos são todos iguais e há uns mais iguais do que outros. Isto é, se a prioridade na gestão do plantel vai ser a receção ao Zenit, a 10 de Dezembro, ou os jogos com o Boavista (a 6) e o FC Famalicão (a 15), ambos a contar para a Liga.