A vitória no Bessa, sem os quatro notívagos, foi a melhor notícia que Sérgio Conceição podia ter no meio da crise de resultados que ultimamente vinha afetando o FC Porto. Não apenas por causa dos três pontos ou daquilo que o treinador tanto se esforçou em reforçar depois do jogo, que foi a capacidade das alternativas que levou a jogo, mas sobretudo porque lhe permitiu reforçar uma questão fundamental: a dos princípios em cima dos quais funda a sua liderança. Empenho e compromisso são os fundamentais e, veja-se o caso do aniversário de Cindy pelo prisma que se quiser, não há forma de sustentar que foi isso que os jogadores sul-americanos demonstraram.
Aqui não se trata de terem sido publicamente expostos pela inabilidade e pela sensação de impunidade que as redes sociais proporcionam. Porque aqui há duas dimensões e ambas são importantes. Uma é a perceção que os adeptos têm dos jogadores e que, essa sim, poderia ser influenciada pelo facto de Cindy Alvaréz ter publicado incontáveis vídeos da sua festa de aniversário no Instagram. Mas a outra é a responsabilidade que um atleta de alta competição precisa de ter para continuar a beneficiar daquilo a que Sérgio Conceição aludiu no dia em que os afastou da convocatória – um contrato. O FC Porto tem um regulamento interno que proíbe os jogadores de estarem em festa a partir de determinada hora mas, antes disso, são os próprios jogadores quem deve ter a noção de que o descanso é fundamental para se atingir o alto rendimento.
Bem sei que Marchesín, Saravia, Uribe e Díaz são jovens, são atletas e que, por isso, têm níveis de resistência física muito acima da generalidade dos humanos, mas a verdade é que também são sujeitos a níveis de exigência ainda mais acima dos que se apresentam a qualquer um de nós. Uma hora de sono a menos pode ser a fração de segundo que se leva a mais a reagir a uma bola dividida. Cinco horas de sono a menos podem ser a diferença entre uma vitória e uma derrota. Qualquer aspirante a atleta sabe isso, ainda que o sucesso, nestes casos, tenha a consequência de inebriar acerca das próprias limitações. E isto deve ser lido em todos os sentidos possíveis.
É o sucesso profissional nas suas carreiras que leva os jogadores a achar que não se ressentem de uma noitada, que são tão poderosos que podem fazer coisas destas sem consequência ao nível do rendimento. Mas o sucesso no jogo que se seguiu ao caso da noitada também não deve levar Sérgio Conceição a achar que, só porque reforçou a autoridade e vincou melhor os princípios em cima dos quais funda a sua noção de coletivo, saiu incólume do caso. Porque não saiu. Um treinador pode ser visto como um chefe que impõe o regulamento e castiga depois de os jogadores prevaricarem ou como um líder que consegue que os jogadores não prevariquem. Conceição ganhou a batalha do Bessa e deu um passo decisivo em direção a ser líder – porque daqui para a frente toda a gente vai pensar duas vezes antes de se meter numa destas – mas o caso da festa de Cindy mostrou que, ao terceiro ano de comando, ainda é mais um chefe que não inspira solidariedade. Resta-lhe também tirar as devidas consequências do que parece ser um limite ao seu sucesso.