Jorge Nuno Pinto da Costa e José Fernando Rio têm prevista para hoje a entrega das listas candidatas às próximas eleições do FC Porto, antecipando-se em dois dias ao final do prazo, até para não correrem riscos, porque não se sabe se o país não entrará entretanto em modo de quarentena obrigatória. Não há grandes dúvidas de que Pinto da Costa, presidente desde 1982, vai ganhar o direito a mais um mandato, que poderá muito bem ser o último que cumpre, tendo em conta os seus 82 anos de idade. Razão pela qual o maior interesse destas eleições é mesmo o de avaliar as movimentações estratégicas dos que se perfilam para o pós-pintodacostismo. E todos eles ficaram em casa.
Há anos que se fala de candidatos alternativos, dos nomes mais fortes para assumir o clube quando o presidente eterno deixar de o servir. De António Oliveira a André Villas-Boas, de Vítor Baía a Fernando Gomes, de Rui Moreira até eventualmente a António Salvador, já para não falar nas hipóteses mais populista (Fernando Madureira) e dinástica (Alexandre Pinto da Costa), todos já viram os nomes associados a potenciais candidaturas. Ora se não acredito nas chances reais de Madureira ou Pinto da Costa (filho), da mesma forma que entendo que os graves problemas de saúde que enfrenta possam vir a roubar a Gomes a hipótese de ser um líder de transição, o que sublinho é o silêncio de quase todos os outros neste momento, que é particularmente importante, até tendo em conta o prejuízo gigantesco anunciado há dias pela SAD. Todos com justificação, como é evidente, que nestas coisas da política ninguém dá ponto sem nó.
Salvador é neste momento presidente do SC Braga, Villas-Boas treinador do Olympique de Marselha, Moreira presidente da Câmara Municipal do Porto. Baía já se sentira “punido” quando um dia manifestou o sonho de vir a ser presidente do clube e terá desta vez optado por ficar no seu canto, sossegadinho. Oliveira ainda manifestou preocupação no programa de comentário televisivo que tem a seu cargo, mas não foi das palavras aos atos. O que significa que ninguém vai à guerra a não ser os peões de infantaria. João Rafael Koehler, Nuno Lobo, o próprio Martins Soares – único que enfrentou Pinto da Costa em quase 40 anos de liderança – ou José Fernando Rio ficam associados à que pode ser a última oportunidade de manifestar oposição a Pinto da Costa e se o fazem é por uma razão muito simples: não têm nada a perder. Pelo contrário, podem colocar os nomes na agenda – ainda que o próprio Koehler tenha sido mais cauteloso do que deveria.
Estrategicamente, quem já risca alguma coisa em termos de portismo acha que se quer ser líder do FC Porto no futuro não pode hostilizar o homem a quem o clube deve a sua ascensão nos planos nacional e internacional. É o preço a pagar quando um clube se confunde com o seu líder. E só é pena porque as eleições vão transformar-se numa gigantesca oportunidade perdida para se debater o que deve ser o FC Porto do futuro.
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