A derrota do Sporting em Braga, mais uma num jogo com um adversário do seu campeonato, levou jogadores, treinador e presidente a concentrar a frustração na aparente má vontade do árbitro, Jorge Sousa. Até Frederico Varandas apareceu no final a dizer que, se não se vai lá de outra forma, pois também em Alvalade passará a aderir-se ao “registo do ruído”. E a questão aqui é a de se perceber se a união em torno desse fator externo tão facilmente identificável, que é a arbitragem, pode ser a cola que Jorge Silas ainda não foi – e a prova são os constantes sinais que chegam de cima, a dizer que ele é um treinador a prazo. Porque, infelizmente para Silas, o “registo do ruído” já não é novidade em Alvalade. Passou foi agora a concentrar-se noutros alvos.
Já dizia Sérgio Conceição, no rescaldo da sua explosão após a derrota contra este mesmo SC Braga, que “sem união ninguém ganha nada”. E se mesmo quando vivia da forma como Bruno Fernandes unia os retalhos de uma manta sem grande sentido o Sporting não ganhava, agora que o líder em campo se foi as coisas apresentam-se mais complicadas. Em Braga, com o ex-capitão na bancada e (mais) uma nova organização tática em campo, os leões foram um grupo esforçado mas altamente impotente a partir do momento em que baixaram os níveis de concentração e de agressividade, fosse por cansaço, desistência, fatalidade ou por já estarem quase todos condicionados com amarelos. Os responsáveis leoninos preferiram centrar-se no último aspeto – e nisso mostraram união – mas é nas fases anteriores do processo que essa união tem de surgir.
Antes até da derrota na meia-final da Taça da Liga, que deitou por terra o único objetivo minimamente credível que a equipa tinha para esta época, já os jornais se enchiam de notícias segundo as quais Silas não passaria do final da época. Ora, já o disse numa edição anterior do Futebol de Verdade, os jornais não inventam estas coisas – podem até vir a estar incorretos, mas se o publicam é porque alguém com responsabilidades no clube anda a dizê-lo, seja de forma direta ou apenas por aí, nos bastidores, permitindo-se ser ouvido. É o tal “registo do ruído” que não ajuda nada. Porque as diferenças entre Jorge Silas e o 100 por cento vitorioso Rúben Amorim vão para lá do facto de nenhum dos dois ter o quarto nível de treinador. Elas começam no facto de, provavelmente apenas por ser novidade e estar a ganhar, o técnico do SC Braga ser unânime no elenco dirigido por Salvador e ser persistente na organização tática que está a impor aos jogadores.
Porque se a questão dos amarelos pode ser importante, no Sporting de hoje pesa muito mais o tema da fatalidade. Enquanto que, motivados por sete jogos seguidos a ganhar com este treinador e estes processos – quatro deles contra FC Porto e Sporting – os jogadores do SC Braga entram em campo a acreditar que vão ganhar, do outro lado os do Sporting suspeitam sempre que vão perder. Porque tem sido isso que lhes tem acontecido quando têm à frente adversários da sua igualha, porque tem sido isso que lhes tem acontecido quando mudam de organização em campo com tanta frequência, e porque aquilo que leem nos jornais e ouvem nas televisões é que o treinador não passa do Verão. É por isso que a melhor estratégia do Sporting para eventualmente conseguir chegar ao terceiro lugar não passa pela adesão ao “registo do ruído” mas sim pela redução desse ruído, não passa pela valorização de fatores externos mas sim pela valorização do que têm em casa. Aí, sim, estaria uma variação da organização que faria todo o sentido.