O grande Milan está de volta. Ou pelo menos, assim parece. Depois de uma conturbada fase de renovação e, até, revolução, que tirou o clube do topo e da luta pelo scudetto com regularidade, os rossoneri seguem praticamente imparáveis em 2020 e visitam hoje (11h30) a Udinese, sabendo que se ganharem manterão pelo menos dois pontos de avanço no topo da tabela sobre quem se sair melhor do SSC Nápoles-US Sassuolo. O mérito, em parte significativa, é de um leão que entre homens teima em não ser domado. Desde que Zlatan Ibrahimovic regressou ao clube que o salto competitivo e qualitativo do Milan é evidente. Em 2020, Zlatan é a peça chave que faz a engrenagem funcionar. É a experiência que assenta no chão os pés de uma das equipas mais jovens da Europa.
Cinco jogos, quatro vitórias e um empate. Doze golos marcados, apenas quatro sofridos. O registo acumulado pelo Milan nas cinco primeiras jornadas de competição na Liga Italiana está ao nível dos pergaminhos do clube, mas bem longe do que vinha sendo a realidade recente. Depois do abandono da geração de ouro do clube, que culminou com triunfos domésticos e internacionais, seguiu-se uma longa travessia no deserto que parece estar a terminar. O Milan está de regresso ao topo: em 2020, nenhum clube conquistou tantos pontos em Itália. Tudo isto com a formação mais jovem entre aquelas que competem nas cinco principais ligas do futebol europeu.
Com uma média de 24,5 anos, o Milan tem esta temporada o plantel mais jovem entre os participantes das cinco principais ligas europeias. Entre estes, apenas quatro outros clubes se aproximam da média estabelecida pelos rossoneri, AS Mónaco, Stade Reims, AS Saint-Étienne e VfB Estugarda, as únicas cinco equipas com média de idades inferior a 25 anos. Um sinal claro de que se encontrou um projeto e um rumo em direção ao futuro depois de anos a tentar renovar a equipa sem sucesso. E a tal não é alheia a chegada de Frederic Massara ao clube.


Desde a chegada de Ivan Gazidis, Hendrik Albstadt, Frederic Massara e Paolo Maldini ao clube, que a inversão na forma de trabalhar é evidente. Praticamente nenhum jogador com mais de 25 anos chegou ao clube a título definitivo, com a aposta a incidir em jovens de enorme potencial. A exceção principal foi Zlatan Ibrahimovic, mas até pelo histórico do internacional sueco ao serviço do clube se explica a aposta. Certo é que desde então o Milan é um clube transfigurado. Qual peça chave do projeto, desde que Zlatan regressou que nenhum outro fez tantos pontos em Itália quantos fez o Milan.




“Estamos bem e tenho pena de o campeonato estar no fim. Estaríamos noutra situação se eu estivesse cá desde o primeiro dia”, afirmou o sueco, em julho, após um triunfo por 4-2 do Milan sobre a Juventus. Mais do que uma tirada típica da personalidade maior do que o Mundo que o sueco possui, as palavras de Zlatan tinham um fundo de verdade. Desde a sua chegada e até ao final da temporada passada, nenhuma equipa conquistou tantos pontos em Itália, situação que se estendeu à presente temporada. Cinco jornadas volvidas em Itália e nenhuma equipa fez tantos pontos quantos fez o Milan, líder da competição pela primeira vez desde a segunda jornada da já longínqua temporada 2014/15. Temos mesmo de recuar até à época 2011/12 para ver o último Milan que lutou pelo título e que, ao contrário de 2014/15, não liderou a liga italiana por via do calendário, mas sim da própria performance desportiva.
O sucesso recente da equipa rossonera não está apenas dependente das individualidades, justiça seja feita a Stefano Pioli. Esta temporada, o Milan lidera a tabela de golos esperados, isto é, número de golos que seria normal ter face à quantidade e qualidade das oportunidades de golo que criou. E até está em ligeiro sub-rendimento com 12 golos em 13.23 xG. Ou seja, o Milan é uma equipa com um processo ofensivo prolífico. Além disso, apesar da juventude, apenas quatro equipas permitiram mais/melhores oportunidades de golo aos adversários, algo refletido no quinto melhor registo de golos sofridos esperados na Liga Italiana em 2020/21. Apenas SSC Nápoles, Juventus, Udinese e Parma Calcio permitiram menos oportunidades claras de golo aos adversários até agora.
Mas até que ponto Zlatan pode ter influenciado a performance da equipa dentro de campo? Ora, na temporada passada, desde janeiro, o Milan foi a equipa que acumulou o terceiro melhor registo de golos esperados, quer total, quer sem penáltis, e o quinto melhor registo de golos sofridos esperados. Só a Atalanta terminou acima do Milan em termos de pontos esperados na temporada italiana após a chegada de Zlatan ao clube milanês. Antes disso? O Milan tinha somente o nono melhor registo de golos esperados (o 11º sem penáltis), bem como o sexto melhor registo relativo a golos sofridos esperados. Se a defesa já funcionava bem, ofensivamente o Milan deu um salto evidente com a chegada de Ibrahimovic, passando assim de nona equipa com maior registo de pontos esperados para a segunda, como vimos.
Pontos esperados antes e após a chegada de Ibrahimovic ao Milan:




Um impacto superior ao de Cristiano Ronaldo?
Pela mão de Zlatan, o Milan é uma equipa revitalizada. Em 2020, jogaram-se 26 encontros na liga italiana e nenhum clube conquistou tantos pontos. 58, face aos 56 conseguidos pela Atalanta e os 50 de Inter, Juventus e SSC Nápoles. Mais: em 2020, nenhuma equipa perdeu tão poucas vezes quantas perdeu o Milan. Duas. Mais ainda: em 2020, nenhuma equipa sofreu tão poucos golos quantos sofreu o Milan. 26. Perto desse registo apenas os 30 golos sofridos por Inter e Juventus. Comum a isto tudo? Zlatan, claro está. Afinal, o sueco regressou ao clube, precisamente, em janeiro de 2020.
Desde a chegada de Zlatan a Milão para esta segunda etapa ao serviço dos Rossoneri que o Milan praticamente só sabe vencer e nem a Covid-19 parece capaz de domar o Leão. Só esta temporada, em que falhou alguns encontros por ter testado positivo para o novo coronavírus, o avançado sueco de 39 anos leva seis golos em três jogos disputados na Liga italiana, tendo bisado em qualquer um dos que disputou. Fez dois golos contra o Bolonha FC, dois frente ao Inter – resolvendo praticamente sozinho o Derbi della Madonnina – e mais dois no empate a três golos entre Milan e AS Roma, registos que fazem do sueco o melhor marcador da Serie A esta época.
Nos últimos onze jogos pelo Milan, Ibrahimovic leva 12 golos e três assistências e em 2020, só cinco jogadores marcaram mais golos do que Zlatan nas cinco principais ligas do futebol europeu: Robert Lewandowski (25), Cristiano Ronaldo (24), Ciro Immobile (21), Erling Haaland (18) e Francesco Caputo (18). Desde que chegou ao Milan, em janeiro de 2020, Zlatan leva 18 golos e 6 assistências. Isto aos 39 anos, qual Benjamin Button do futebol. Como, aliás, o próprio se define.


“Estou em boa forma, trabalhando. Este é o segundo jogo oficial da temporada [após o jogo frente ao Bolonha FC]. Ganhámos e eu poderia ter marcado mais golos. Se eu tivesse 20 anos, teria feito outros dois. Não sou velho, sou como Benjamin Button: nasço velho e morro jovem!”, atirou. O impacto de Ibrahimovic ao serviço do Milan não passou sequer ao lado de homens como Alberto Zaccheroni. “Já orientei grandes campeões na minha carreira, desde Oliver Bierhoff, George Weah ou Adriano e o meu único arrependimento é nunca ter treinado Zlatan Ibrahimovic. Ele é eterno e não percebo porque não ganhou a Bola de Ouro. Em Itália ele fez mais diferença do que Cristiano Ronaldo. Não é coincidência que muitos jovens cresçam exponencialmente com a sua chegada. Ele não marca apenas golos, consegue transmitir confiança para todos os seus companheiros e carrega a equipa nos ombros nos momentos difíceis”.
Os números acompanham a linha de pensamento do antigo treinador rossonero. Desde 1996 que o Milan não atravessava uma série de 20 encontros sem conhecer o sabor da derrota, e em qualquer uma das temporadas iniciadas pelo clube com quatro triunfos consecutivos como sucedeu na presente, o Milan terminou campeão. Mais um dado importante: Na era dos 3 pontos em Itália (desde 1994, portanto), Zlatan Ibrahimovic é o primeiro jogador na história do campeonato italiano a marcar dois, ou mais golos, nas suas três primeiras partidas da temporada. “Sou um jogador mais completo agora do que há 10 anos. Se tivesse os mesmos níveis físicos, ninguém me pararia. Aliás, nem agora me conseguem parar”. Tendemos a concordar. Zlatan é um leão entre homens. Faminto e indomável.
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