Bruno de Carvalho reagiu à Bruno de Carvalho depois de saber que iria mesmo a julgamento no processo de invasão à Academia: nas redes sociais, chamou “criminosos e cobardes” aos sujeitos não nomeados que permitem que ele seja “continuamente enxovalhado, caluniado e difamado”. É neste tipo de atuação que se funda o rasgão profundo entre sportinguistas: os “brunistas fiéis” acham o máximo e chamam “croquetes” a quem não se revê neste tipo de atuação; os que votaram pela saída e posterior expulsão do ex-presidente sentem vergonha alheia e clamam pela dignidade que entendem que o clube perdeu. A virtude, como sempre, estará no meio que nem uns nem outros são capazes de atingir – e o processo Rafael Leão mostra-o bem.
Rafael Leão só assinou ontem um contrato de cinco anos pelo Milan, que pagou 35 milhões de euros ao Lille OSC pelos seus direitos desportivos, mas o negócio anda nas páginas dos jornais há pelo menos uma semana sem que o nome do Sporting tenha sido citado para lá do facto de ter sido o clube formador. Nem na imprensa nacional, nem na internacional. Quem lesse os artigos e não fosse muito dado a essas coisas jurídicas perguntar-se-ia: mas não há ainda um caso pendente do Sporting contra Leão, acusando-o de rescisão unilateral ilegal e reclamando uma pesada indemnização? Ora, no estado em que anda o Mundo por estes dias, com redações depauperadas em número e experiência, já se sabe que o tempo para fazer perguntas cada vez escasseia mais – daí a relevância das reações “à Bruno de Carvalho”, com soundbytes imponentes nas redes sociais, que é onde anda a generalidade do jornalismo de hoje. E, além disso, a possibilidade de fazer essas mesmas perguntas é ainda menor, devido à inacessibilidade dos dirigentes dos grandes clubes.
Ontem, por fim, o Sporting reagiu publicamente, relembrando o interesse no processo Leão-Lille OSC-Milan. Tardiamente e com demasiado cuidado institucional, dirão os “brunistas”; na altura e com o tom exato, alegarão os “croquetes”. Eu tenderia a concordar com os primeiros relativamente ao “timing” e com os segundos no que toca ao tom, porque a identificação das ligações entre Lille OSC e Milan por intermédio do fundo de investimento norte-americano Elliott também tem de ser trabalho de quem reporta. Em Março, este fundo contribuiu com 117 milhões de euros para o aumento de capital com que o Lille OSC saldou a sua dívida, evitando a sanção de descida de divisão. Antes disso, há cerca de um ano, o mesmo fundo avançou para o controlo do Milan, quando Li Yonghong, o chinês que comprara o clube a Silvio Berlusconi, deixou de conseguir pagar as prestações do empréstimo que tinha solicitado para o facto. É evidente que isto não prova intenção pré-definida de fazer entrar o jogador que o Sporting perdeu numa espécie de carrossel mágico como o aparentemente comandado por Jorge Mendes, mas lá que o Mundo do futebol anda cada vez mais perigoso, isso é uma evidência.