A vitória frente ao Benfica no clássico de sábado (3-2) garantiu que, suceda o que suceder até ao fim da Liga, o FC Porto será sempre o vencedor do minicampeonato entre os três grandes. Além disso, com ganhou os três clássicos disputados até aqui, a equipa de Sérgio Conceição mantém-se na corrida para repetir um feito que ninguém alcança desde o FC Porto de José Mourinho, em 2002/03: o pleno de vitórias nos jogos entre grandes. Será o FC Porto-Sporting a decidir se o atual FC Porto iguala esse recorde, mas também se este Sporting repete o cúmulo negativo a que ninguém se sujeita desde 1993/94, quando a equipa de Bobby Robson e depois Carlos Queiroz perdeu todos os clássicos da época. E mesmo assim esteve à beira de ser campeã nacional.
Já se vê por aqui que o facto de ser a equipa mais forte no minicampeonato dos grandes não garante a ninguém o título de campeão nacional. No entanto, a tendência é para que isso suceda. Nos 19 campeonatos que leva o século XXI – ou 18, descontando aquele que foi ganho pelo Boavista – só por quatro vezes o campeão não foi a equipa mais forte nos confrontos entre grandes. A última sucedeu em 2015/16, quando o “campeão dos grandes” foi o Sporting de Jorge Jesus, mas o campeonato sorriu ao Benfica de Rui Vitória, precisamente porque os leões não obtiveram o pleno: ganharam três jogos em quatro, mas fracassaram no que mais contava, a receção ao Benfica, resolvida (1-0) com um golo solitário de Mitroglu. É curioso que o Benfica tenha sido campeão fazendo apenas três pontos nos quatro jogos entre grandes, pois já tinha sido batido pelo Sporting na Luz e perdeu também os dois jogos com o FC Porto.
Antes, esta incoerência tinha acontecido três vezes seguidas, mas na década anterior, após a normalização competitiva que significou a saída de José Mourinho para o Chelsea e a onda de destruição que desabou sobre o FC Porto campeão europeu. Em 2004/05, o FC Porto foi o melhor entre grandes – sete pontos, contra seis de Sporting e quatro de Benfica – mas o campeão nacional foi o Benfica de Trapattoni, precisamente porque se impôs ao Sporting de Peseiro no jogo decisivo, o 1-0 na Luz com golo de Luisão. Na época seguinte, o campeão foi o FC Porto de Co Adriaanse, mas o melhor dos grandes foi o Sporting de Peseiro e Paulo Bento: tal como o Benfica de Trapattoni, esse FC Porto também foi o pior dos três grandes nos jogos entre eles. Menos significativa foi a incongruência de 2006/07, quando o campeão foi o FC Porto de Jesualdo Ferreira, mas as três equipas acabaram empatadas, todas com cinco pontos nos confrontos diretos, tendo o Benfica sido o melhor quando se aplica o critério da melhor diferença de golos.


Mais invulgares são os extremos, 100 por cento vitoriosos ou perdedores. E se nos meandros portistas já se fala na possibilidade de igualar o recorde que nenhum dos grandes alcança em Portugal desde o FC Porto de Mourinho, mais surpreendentes são os resultados da busca pela última equipa que perdeu todos os clássicos de uma temporada, porque ela esteve à beira de ser campeã nacional. Para este FC Porto, o ano pode ser histórico: bastar-lhe-á ganhar no Dragão ao Sporting para somar 12 pontos nos quatro confrontos entre grandes. A última equipa a fazê-lo foi o FC Porto de 2002/03: bateu o Benfica por 2-1 nas Antas à sétima ronda; ganhou ao Sporting em Alvalade por 1-0 na 17ª; derrotou o Benfica na Luz por 1-0 na 24ª e acabou o plano impondo-se ao Sporting nas Antas por 2-0 no último dia do campeonato. Aliás, o FC Porto de Mourinho não perdeu nenhum dos nove clássicos que disputou na Liga: já se tinha imposto por 3-2 ao Benfica nas Antas em 2001/02 e obteve duas vitórias em casa e dois empates em Lisboa em 2003/04. Mérito da equipa? Também. Mas convém não esquecer que o único clássico disputado pelo treinador no Benfica também acabou com vitória: 3-0 ao Sporting que na altura (2000/01) ostentava os galões de campeão nacional.


Já a busca pela última equipa a perder os quatro clássicos numa só Liga é mais tortuosa e leva-nos até 1993/94, ano em que o Sporting de Robson e Queiroz somou zero pontos nesses jogos tão especiais. E, no entanto, entrou para o último como favorito para ser campeão. Ainda com Robson aos comandos, esse Sporting começou por perder com o FC Porto em Alvalade por 1-0 à 12ª jornada. Já com Queiroz, numa altura em que a equipa chorava o acidente de Cherbakov, foi batido pelo Benfica na Luz, à 13ª. À 27ª, saiu derrotado por 2-0 pelo FC Porto nas Antas (com três expulsões). Contudo, algumas escorregadelas do Benfica permitiram aos leões entrarem para o dérbi, em casa, na 30ª jornada, a apenas um ponto dos líderes. O resto da história conta-se nos famosos 6-3 e numa tarde de inspiração de João Pinto, que resolveu o campeonato a favor dos encarnados.
Comentários 1