A seleção nacional joga hoje em Kiev uma partida que, correndo tudo normalmente, não vai definir mais do que quem será primeiro ou segundo classificado no Grupo B de apuramento para o Europeu de 2020. O que é como quem diz que não vai definir nada de importante a não ser aquela coisa de que se fala quando é preciso apimentar um jogo, que é o “prestígio”. E foi isso que saiu das conferências de imprensa de Fernando Santos e Andriy Shevshenko, os dois selecionadores. Diz o treinador português que para os seus jogadores “não há jogos nem joguinhos”, responde o ucraniano que um jogo contra a seleção campeã da europa “é muito importante para a Ucrânia mostrar o seu nível”. Por isso, mesmo sem a pressão, ambos vão fazer subir ao campo onzes competitivos, com a ideia de se precaverem defensivamente e de não darem espaço aos adversários – o que provavelmente representará uma alteração na equipa de Portugal que venceu o Luxemburgo.
Vamos a contas. A Ucrânia tem 16 pontos e faltam-lhe só dois jogos, este e a deslocação a Belgrado, para defrontar a Sérvia, no último dia. Portugal tem 11, mas três jogos por efetuar: além do de hoje, resta-lhe receber a Lituânia e jogar no Luxemburgo, ao mesmo tempo que sérvios e ucranianos se defrontam. A Sérvia, que em bom rigor ainda não pode ser arredada, tem sete pontos, joga hoje na Lituânia e encerra a qualificação recebendo o Luxemburgo e a Ucrânia. O que isto quer dizer é que Portugal se qualificará mesmo perdendo hoje, desde que depois ganhe a lituanos e luxemburgueses. E que a Ucrânia também se qualificará, mesmo perdendo hoje e na Sérvia, desde que, ganhando todos os seus jogos, os sérvios não anulem a desvantagem de 14 golos com que seguem neste momento. O que equivale a dizer que os sérvios só se qualificam ganhando sempre, atingindo o máximo possível de 16 pontos e, das duas uma, ou Portugal não ganhe pelo menos dois jogos daqui até final, ou Portugal ganhe hoje e eles consigam mesmo anular esses 14 golos de desvantagem para os ucranianos. Difícil, mas o suficiente para ter a Sérvia a torcer por nós hoje.
O que deixa toda a gente pendente de um outro fator: o timing. E o timing favorece Portugal. Os ucranianos até podem garantir a qualificação já hoje, desde que pelo menos empatem com a seleção nacional. Ao mesmo tempo, para Portugal assegurar desde já a presença na fase final precisaria de ganhar hoje em Kiev e de esperar que, ao mesmo tempo, a Sérvia perca na Lituânia – o que também é altamente improvável. A questão é que isso nem é mau. Daqui pode concluir-se que, pesando o tal jogo do prestígio e as necessidades imediatas, o empate hoje até poderia satisfazer as duas equipas. Os ucranianos festejariam desde já a qualificação, mantendo a face perante o campeão europeu em dia de feriado nacional; os portugueses ficariam a saber que, ganhando os dois jogos que lhe faltam, só não seriam primeiros se a Ucrânia, já apurada, fosse vencer fora uma Sérvia desmotivada mas ferida no orgulho e a precisar de ganhar balanço para um “play-off” que também pode levá-la à fase final do Europeu de 2020.
E o que é que isto significa para a equipa portuguesa? Provavelmente um onze mais tímido e mais preocupado com equilíbrios defensivos mais atrás do que aquele que Santos apresentou frente ao Luxemburgo. A entrada de Gonçalo Guedes em vez de João Félix pode ser uma ideia a reter, porque o atacante do Valência é mais dado a ataques rápidos e contra-ataques, mas a colocação de um quarto médio também não deve ser desprezada – e aí, João Mário ou Rúben Neves, que já jogaram também os últimos minutos na sexta-feira, também são, um ou o outro, hipóteses sérias. Não creio, mesmo assim, que Fernando Santos sacrifique mais do que um jogador do seu onze de sexta-feira. Ou mantém o 4x3x3, trocando Félix por Guedes. Ou, numa versão mais recuada e que obrigaria a mais adaptações, troca o miúdo do Atlético Madrid por Rúben Neves, mudando Bruno Fernandes para a esquerda. Ou chama João Mário e constrói um 4x4x2 com Bernardo e Ronaldo à solta na frente, com o jogador do Lokomotiv numa das alas e Bruno Fernandes na outra. Acredito mais na primeira possibilidade.