Ontem, quando falou aos jornalistas, depois da derrota do Sporting em Alverca, Jorge Silas ouviu a pergunta que se impõe, feita nem sei por quem: “Não seria melhor assumir já que este Sporting não é candidato a coisa nenhuma?” O treinador recusou, disse que a sua equipa entra para ganhar em todos os campos, mas a questão é que raramente o consegue e esta constante incapacidade de cumprir expectativas não ajuda no trabalho que tem de ser feito. É claro que meter na cabeça dos adeptos – e dos jogadores ou dos patrocinadores… – que os sete meses que ainda faltam de temporada servirão apenas para preparar a próxima pode ter consequências desastrosas em aspetos tão importantes como a capacidade de gerar receita ou de fazer crescer a equipa, mas se há coisa que também não ajuda é a lição de humildade a que todos são sujeitos com periodicidade semanal. Basta uma equipa do terceiro escalão. Uma equipa bem montada e rigorosa, é certo, como foi este FC Alverca de Vasco Matos, mas do terceiro escalão.
O Sporting está neste momento fora da Taça de Portugal, a oito pontos do FC Famalicão e a sete de Benfica e FC Porto no sexto lugar da Liga e a precisar de ganhar os dois jogos que lhe faltam – e de que o Rio Ave não ganhe ao Gil Vicente – para poder seguir para a final four da Taça da Liga. Tudo muito complicado, deixando a Liga Europa como único oásis onde os leões ainda poderão respirar, muito por força de uma vitória contra o Lask Linz que foi bem mais injusta do que a derrota de ontem com o FC Alverca. Até por isso, o jogo da próxima quinta-feira, em casa com os noruegueses do Rosenborg, derrotado nas duas rondas que leva o grupo, assume foros de jogo do ano. Tudo o que não seja uma vitória – e conclusiva – ali será o equivalente ao caos total. E as vitórias não tem sido abundantes no Sporting desta época: a equipa soma apenas quatro em doze jogos, com seis derrotas e saldo de golos negativo (16-22). Só se encontra paralelo em 2012/13, época na qual os leões ganharam apenas dois dos primeiros 12 jogos (com cinco derrotas) e iam por esta altura no segundo treinador – Oceano Cruz substituíra Ricardo Sá Pinto após a derrota por 3-0 na Hungria com o Videoton e ainda esperou por Novembro pela chegada de Frankie Vercauteren.
Silas viu coisas boas na equipa, ontem. Foram dez minutos de coisas boas, diria eu. Dez minutos em que a equipa mostrou capacidade para sair a jogar sob pressão desde trás e criou umas três situações de perigo médio. Depois o FC Alverca marcou – e aí começaram os 80 minutos de coisas más. Não foi só o facto de o FC Alverca ter baixado as linhas, tornando irrelevante essa capacidade que os leões mostravam a sair de trás. Foram ainda a passividade defensiva, a constante perda nos duelos físicos, a incerteza no passe, os cruzamentos sem nexo, muitas vezes de posições precipitadas… Esteve tudo lá, no manual dos horrores. E não melhorou quando entraram Bruno Fernandes, Acuña e Bolasie. O que a equipa passou a ter foi melhores jogadores em campo, por isso mesmo capazes de solucionar alguns problemas do ponto de vista individual. Claro que não poderá culpar-se o treinador de nada a não ser de começar o jogo sem seis titulares, sendo que o facto de eles terem passado as duas semanas anteriores nas seleções serve de atenuante mas não aliviar o fardo da irresponsabilidade da escolha.
E é aqui que a pergunta faz sentido: a diminuição da responsabilidade faz falta a Silas para ganhar tranquilidade e poder trabalhar melhor? Sim e não. Sim porque isso aconteceria – se os dirigentes assumissem a época como perdida e deixasse de haver adeptos, deixaria também de haver pressão e o trabalho sairia melhor. Não porque o preço a pagar seria muito mais elevado, até no (baixo) grau de exigência a que se habituariam os jogadores. Admitir que o Sporting este ano não é candidato a nada não deve ser um ato estratégico, mas a simples constatação de uma realidade, que não tem (ainda, pelo menos) a ver com o trabalho de um treinador, mas sim com a incapacidade revelada por toda a estrutura do futebol liderada por Frederico Varandas. É certo que contestado muito pelo necessário tratamento que está a dar às claques depois dos incidentes de Alcochete, o presidente já passou do irónico “não estejam preocupados, que eu também não estou” que disse a seguir ao 0-5 da Supertaça para o “estamos envergonhados” de ontem, mas ainda não assumiu o mais importante: que esta época foi muito mal preparada, que o plantel – sobretudo depois dos últimos acertos de fim de Agosto – é o mais desequilibrado de que há memória em Alvalade e que nesse aspecto toda a estratégia delineada por ele e pela sua equipa tem estado errada.
O que tem de ser assumido é isso. O resto – que o Sporting não é candidato a nada… – é consequência.