Está de parabéns o SC Braga por ter tomado a iniciativa de propor as bases de um calendário de contingência para o futebol português, mesmo que as contas não sejam muito difíceis de fazer. Outra questão é se aquele calendário pode ser cumprido. Creio que será difícil, porque o final da temporada em tempo útil implicaria o fim da quarentena, no máximo, dentro de um mês e meio, antes de Maio. E isso transporta a questão para a necessidade de concertação social, de um acordo que permita prolongar a presente época para lá do final dos contratos dos jogadores, a 30 de Junho. É aqui – e não na decisão de quem vai ser campeão – que nos falta uma diretiva internacional. Sendo que, mesmo que ela surja, aconselhando os jogadores a aceitar o que vier dos Sindicatos, é duvidoso que tenha poder legal para ser compulsiva. Daí que esta, sim, seja a urgência do futebol internacional.
O sonho de um calendário concertado em termos europeus é uma espécie de quimera, porque da mesma forma que chegou aos diversos países em alturas diferentes, o Covid-19 também será derrotado em fases diferentes em cada local, o que naturalmente implica fins diferenciados de quarentena de território para território. Cai assim pela base a ideia que muitos chegaram a defender, de uma decisão da UEFA acerca do que cada Liga ou Federação devia fazer: essa ideia radicava sobretudo na vontade de ver uma entidade superior arcar com o odioso de defender esta ou aquela solução, de a legitimar acima dos interesses particulares deste ou daquele clube e de impedir a contestação popular a tudo o que não fosse a conclusão da época realizando os jogos que faltam. Que é, naturalmente, o mais justo. Essa solução global, porém, não vai acontecer. Quem tinha dúvidas teve a resposta devida de Aleksandr Çeferin.
Era importante, no entanto, que a FIFA e a FIFPro começassem a falar acerca do problema que se vai colocar dentro em breve e que, ele sim, deverá ser o fulcro do debate. A questão não está nos calendários. A questão está na necessidade de se reconhecer a injustiça de ser decretada a anulação dos jogos que já se fizeram ou dos que resta fazer e a necessidade de concluir a temporada, muito provavelmente para lá dos limites que o calendário laboral estabeleceu. Bem como a injustiça de se forçar clubes a concluir a temporada sem alguns dos seus jogadores mais influentes, que entretanto terminarão contrato. Ou a injustiça de pedir a estes jogadores que fiquem mais um par de meses, adiando transferências, salários mais elevados, melhores condições de trabalho e sonhos de passar para Ligas mais vistosas e apelativas. Legalmente, duvido que até à FIFA, mesmo com o acordo da FIFPro, seja permitido estender artificialmente a duração dos contratos, porque aqui há direitos individuais a serem salvaguardados. Mas já ficava descansado se visse que estes organismos mostravam tanta proatividade como o SC Braga.