Há na polémica em torno do Marítimo e do regresso da Liga uma questão que não tem a ver com o futebol. Carlos Pereira, presidente do clube madeirense, recusa-se a mudar a equipa verde-rubra para o continente, alegando que o novo estádio do clube é o mais moderno da I Liga, e nisso tem razão. Mas quando diz que impugnará o campeonato caso seja forçado a jogar sempre longe do Funchal já está a ir muito além do razoável, porque nem a Liga, a FPF nem quem quer que seja do futebol pode ultrapassar as barreiras criadas pelo executivo de Miguel Albuquerque. Foi no governo regional que nasceu a quarentena obrigatória de 15 dias para qualquer pessoa que chegue à Madeira, uma medida que tem sido apontada como um dos segredos do sucesso para a contenção da Covid19 no arquipélago. Sim, caso tenha de se mudar para o continente até final de Julho, o Marítimo poderá estar a pagar os custos da insularidade, mas eles são a razão que justifica o apoio financeiro do governo regional aos clubes da Madeira.
As razões apontadas por Carlos Pereira para se queixar do desfavorecimento ao Marítimo – e ao Santa Clara, já agora, que no entanto não se queixa e já aceitou mudar-se por dois meses para a Cidade do Futebol, em Oeiras – têm a ver com duas ordens de fatores. Há a perda do fator-casa nos jogos propriamente ditos e há ainda uma questão psicológica causada pelo distanciamento imposto entre os jogadores e as suas famílias se forem forçados a mudar-se nestes dois meses para o continente.
O fator-casa é muito mais do que a presença do público nas bancadas, algo de que nenhuma equipa vai beneficiar nas derradeiras dez jornadas da Liga. Mesmo sem o apoio dos seus adeptos, há no conhecimento do relvado, nas condições climatéricas (que no Funchal são muito próprias) ou na barreira do oceano e nas limitações que o voo provoca a quem tem de o fazer vantagens competitivas para o Marítimo se lhe for permitido jogar no seu estádio – e desvantagens caso tenha de se mudar para outras paragens.
A possibilidade de passar o período entre jogos em ambiente familiar tem igualmente de ser vista como benéfica para o equilíbrio mental dos jogadores – algo que as equipas que podem viver no seu habitat natural vão continuar a ter e o Marítimo perderá se tiver de montar quartel-general no continente. Muito antes de a Direção Geral de Saúde ter redigido o código de conduta para o regresso do futebol, eu até já tinha levantado aqui a hipótese de todas as equipas terem de ficar em estágio e isolamento durante o mês e meio de que a Liga precisaria para acabar. A DGS, porém, não foi tão restritiva, mas a realidade vem impor essa limitação a jogadores de duas equipas apenas, que são o Marítimo e o Santa Clara.
Ora se o estádio do Marítimo é moderno e, por isso, estará certamente ao abrigo de qualquer surpresa que uma vistoria das autoridades sanitárias pudesse vir a causar, e se além disso o presidente do Marítimo tem razão quando defende que “com o trajeto aeroporto, hotel, jogo e retorno, sem existir contacto com outras pessoas, apenas com intervenientes estritamente necessários, não há nenhuma consequência negativa para a região”, quais são as razões que sustentam a proibição de se jogar para a I Liga na Madeira? Não é por causa da viagem de avião – ainda que fretar um avião para evitar expor a equipa aos demais passageiros fique bem mais caro do que fazer a viagem no autocarro do clube. Não é por causa do estágio de véspera num hotel, porque isso presumo que as equipas continuem a fazê-lo nos jogos que se disputem no continente, pelo menos sempre que a deslocação for mais longa. A meu ver, há apenas uma razão a justificar esta proibição: a quarentena obrigatória de 15 dias que o governo regional decretou a 23 de Março e renovou a 30 de Abril.
É que, para todos os efeitos, os jogadores que cheguem do continente para defrontar o Marítimo podem até nem estar com mais ninguém a não ser com os adversários, mas estes, depois, poderão contactar com diversos setores da vida local. Só Miguel Albuquerque poderá responder às exigências de Carlos Pereira. E as últimas declarações conhecidas ao presidente do governo regional acerca do regresso do futebol, que ele via com ceticismo, não permitem acreditar na criação de uma exceção.
SIM O CLUBE DO REGIME TEM DE JOGAR NA MADEIRA ESSE É O PROBLEMA KKKKKKKKKK