Bruno Lage tinha dito que em Lyon queria ver um Benfica à altura dos pergaminhos do clube, mas quando tratou de escalonar o onze inicial voltou a recuar. E se a questão à volta de André Almeida me pareceu apenas mais um equívoco de gestão, a que rodeia Pizzi é, para mim, um autêntico mistério, mesmo (ou sobretudo) tendo em conta a regularidade com que o criativo do meio-campo vem alternando titularidade e banco de reservas. Nestas condições, convinha que alguém nos esclarecesse: o que se passa com Pizzi, que para a grande maioria dos adeptos encarnados é não só o melhor jogador da equipa como até do nosso campeonato, para que ele não possa fazer dois jogos seguidos como titular?
Num desafio de tudo ou nada, o treinador fez duas alterações ao onze que se vira frente o Rio Ave. Trocou basicamente o corredor direito, com Tomás Tavares em vez de André Almeida e Gedson no lugar de Pizzi. A questão de André Almeida, Lage explicou-a com a dificuldade que o lateral tem sentido desde o regresso de lesão, sobretudo quando tem de fazer jogos consecutivos e enfrentar adversários mais rápidos, como era claramente o caso de Aouar (e tinha sido o de Nuno Santos). Mas a ver a forma como o franco-argelino ultrapassou o jovem e fogoso Tomás Tavares no lance do segundo golo do Ol. Lyon é inevitável que se pense que a questão é mais complexa. Que se, por um lado, a experiência é melhor do que a juventude quando se trata de mascarar a desvantagem de velocidade – ali fazia falta antecipar que no momento em que Aouar abrandou, era para acelerar de novo, de forma a usar o corpo para o impedir –, por outro, é difícil de explicar as razões pelas quais não se poupou André Almeida contra o Rio Ave, de forma a poder tê-lo em Lyon.
Mais complicada de entender é a questão de Pizzi. Pizzi é claramente o jogador mais influente deste Benfica. Soma, ao todo, 12 golos e cinco assistências, sendo que muito a ele se devia o facto de, perto do final do jogo de ontem, a equipa ainda estar viva na Champions. Tinha sido ele a fazer o golo da vitória em casa contra este Ol. Lyon e a devolver a esperança, depois de entrar, na partida de ontem, ao descobrir Seferovic para este reduzir para 1-2, a meio da segunda parte. E, no entanto, ultimamente, Pizzi não faz dois jogos seguidos a titular do Benfica. Jogou de início contra o CD Cova da Piedade, para depois ser suplente na receção ao Ol. Lyon; foi titular na visita a Tondela, para depois ser suplente em casa com o Portimonense; foi titular frente ao Rio Ave, para ontem voltar a ser suplente em Lyon, num jogo decisivo para a continuidade europeia da equipa.
É uma questão tática? Não creio, pois dificilmente se encontram similitudes entre os jogos nos quais Lage o remete para o banco: os dois com o Ol. Lyon e a receção ao Portimonense. É uma questão física? Mais possível, até porque isso ajudaria a explicar as razões pelas quais Fernando Santos, por exemplo, sempre foi renitente a reconhecer em termos de seleção a proeminência que Pizzi tem no Benfica e na Liga portuguesa. Mas Pizzi tem 30 anos, não é um veterano, não esteve lesionado, não está em recuperação… Tê-lo em boas condições não devia ser uma prioridade. Devia ser a prioridade. Se o Benfica queria fazer uma Champions ao nível dos seus pergaminhos, já sabendo que não pode ter Rafa, o outro desequilibrador por excelência que possui no seu plantel, precisa de Pizzi. E não é no banco. É a jogar.