O Sporting volta a jogar hoje, em Brugges, e Bruno Fernandes voltará a estar no onze e a inspirar a manobra ofensiva da equipa de Marcel Keizer. Um alívio para o holandês, que viu a equipa crescer em torno do brilho do seu médio mais influente, mas ao mesmo tempo uma angústia, por não saber se está a trabalhar para coisa nenhuma na criação de rotinas com vista à época que se avizinha – e para tal bastará que Bruno Fernandes acabe mesmo por sair de Alvalade, obrigando o treinador a refazer 90 por cento do processo ofensivo. Afinal, o que é melhor para o Sporting? Que Bruno fique ou que ele seja transferido? E o que explica que os mesmos que anseiam pela continuidade do melhor jogador do último campeonato roam as unhas de incredulidade por não o ver atingir no mercado valores de que o acreditam tão merecedor?
Para responder à primeira pergunta seria preciso decompô-la em duas vertentes. O melhor para a equipa é que Bruno Fernandes fique, como é evidente. O melhor para a SAD e, por inerência, para o clube, até pode ser que ele seja transferido, mas nunca ao desbarato. E a verdade é que, da forma como está o mercado, as grandes operações já dependem mais dos agentes do que dos clubes ou dos jogadores. Não há 120 milhões por João Félix sem Jorge Mendes. Não há 85 milhões por De Ligt sem Mino Raiola. E por aí a fora. Por outro lado, numa era de informação global, a liquidez de quem compra já é tão importante como a falta de liquidez de quem vende: e a perceção geral dos compradores é a de que o Sporting precisa de vender, pelo que quanto mais esperarem mais em conta ficará um eventual negócio. O que, ainda por cima sem um agente de topo a pressionar para subir os valores, de forma a ganhar dinheiro e lastro, mais ainda contribui para que a transferência vá demorando até ao ponto de eventualmente não se fazer ou se fazer em saldo.
Vamos ser realistas. Estando Bruno Fernandes em venda pública há tanto tempo, se fosse para sair por um camião de dinheiro já teria saído. Por ele não haverá os 120 milhões de João Félix e muito provavelmente também não haverá os 75 milhões que os jornais têm dito que são o mínimo que Frederico Varandas aceita para perder o seu jogador-bandeira. Ora, a não ser que venha ao mesmo tempo dizer que está a vender por puro desespero – e que isso seja verdade – também me parece que o Sporting não deve vender abaixo dos 70 milhões e que deve aproveitar para ver o copo meio cheio em vez de o ver meio vazio: a verdade é que com os 30 golos/ano que vale Bruno Fernandes a equipa de Keizer tem mais condições para ser competitiva na Liga, de lutar pelo título e de fazer melhor figura na Liga Europa. E, além de ser uma vantagem competitiva, isso acaba por ser um fator de valorização dos jogadores que tem em casa com vista ao mercado da próxima época… se os cofres aguentarem mais um ano sem um grande balão de oxigénio.
Outra hipótese seria o Sporting – e o FC Porto, já agora… – recorrer à Gestifute para ver os seus ativos devidamente valorizados no mercado internacional. Acontece que a relação que Jorge Mendes tem com o Benfica é bem diferente das que vão sendo mantidas pelos outros agentes de topo no mercado do futebol mundial com os clubes cujos jogadores transacionam. É uma parceria estratégica, com canal aberto entre o empresário e o presidente Luís Filipe Vieira e com vantagens nas vendas mas também “obrigações” nem sempre interessantes nas compras. O deve e o haver são vantajosos para os dois lados, mas é evidente – no Sporting terão entendido isso durante o período de presidência de Godinho Lopes, quando Mendes foi chamado a dar uma ajuda e a equipa começou a definhar – que ninguém pode ser parceiro estratégico de duas empresas competidoras no mesmo mercado, porque terá de deixar uma ficar para trás.
Resta aos que se empenham tanto no campeonato das transferências como na Liga a sério ver a coisa pelo lado positivo. Em vez de se empenharem tanto em negar a evidência do talento de Félix – há ali muito “hype”, mas o jovem do Atlético de Madrid é o melhor produto da formação em Portugal desde Cristiano Ronaldo… o que não quer dizer que vá ser tão bom como o CR7 – aproveitem para gozar o talento de Bruno Fernandes e o facto de, havendo coragem na gestão, poderem usufruir dele por mais uma temporada.