Pelo que se viu do Sporting ontem, nas Aves, se há coisa que Jorge Silas agradece é ter agora umas semanas para trabalhar, para modelar os jogadores ao futebol que quer, de forma a que além de mais algum acerto posicional nos momentos defensivos, eles possam entender as ideias do novo treinador para as ocasiões em que têm bola, que é para não se notarem tanto as dificuldades de progressão. Silas, no entanto, será dos poucos a aplaudir a paragem estapafúrdia que a Liga portuguesa vai ter: jogou-se ontem, 30 de Setembro, o último desafio da sétima jornada, estando o primeiro da oitava marcado para 25 de Outubro. Isto não é uma paragem. São umas férias, um cataclismo para quem quer criar hábitos de consumo.
É verdade que, pelo meio, GD Aves e CD Tondela ainda vão jogar o confronto entre ambos que respeita à nona jornada, que a Liga encaixou a meio da semana, numa quarta e numa quinta-feira (30 e 31 de Outubro), entre a oitava e a décima. O que é outra bizarria: os jogos a meio da semana, quando os potenciais consumidores do espetáculo não estão disponíveis para se meterem à estrada e acompanharem as suas equipas nos estádios. Têm sempre a TV? Certo. Mas se isso já não é bom no ideal romântico do futebol com gente nas bancadas, também é mau na perspetiva do negócio, porque o dinheiro da TV já está garantido e aquele que falta garantir é o dos adeptos predispostos a irem aos estádios, a pagar bilhete, comprar merchandising, comer e beber nos bares dos estádios.
Mas esqueçamos essa dimensão da coisa – os tesoureiros que tenham aprovisionado verba para pagar salários num mês em que as equipas não jogam… – e foquemo-nos antes nos treinadores e no trabalho que eles têm de fazer para manter ligadas equipas que, depois de um período de competição tão intensa como foram os meses de Agosto e Setembro, se deparam agora com um Outubro que mais parece um mês de férias. Podem dar uma segunda pré-época? Afinal conceitos que não estão devidamente assimilados? Certamente que sim – e isso em alguns casos, com o do Sporting à cabeça, nem há-de-ser mau, mesmo tendo em conta que durante uma destas três semanas de paragem os principais jogadores estarão nas suas seleções.
E aí está: dirão os que concordam com a interrupção que a coisa nem é assim tão estranha, pois há datas FIFA pelo meio e nunca se poderia jogar no fim de semana 12 e 13 de Outubro. Além de que a 19 e 20 de Outubro se joga a terceira eliminatória da Taça de Portugal, que é a primeira com as equipas da I Liga, o que pode permitir-lhes uma reentrada competitiva mais suave, com equipas tendencialmente mais fracas – e isso acho muito bem. O que está em causa, portanto, é apenas o próximo fim-de-semana, no qual não se joga porque no dia 6 de Outubro há eleições, a 5 boa parte das equipas não poderiam jogar (porque estarão a disputar a Liga Europa a 3) e a 7 também não, porque terão de entregar os jogadores às seleções. E é isso que não faz sentido nenhum.
Já o disse ontem no Futebol de Verdade: se algum dia conseguirem explicar-me por que razão não se podem marcar jogos de futebol para dia de eleições, aplaudirei com entusiasmo. É para desmotivar abstencionistas? Mas, meus amigos, vão fechar centros comerciais, jardins, cinemas, teatros, parques de diversões, restaurantes para as comezainas de família e amigos? Não, pois não? Então por que carga de água é que o futebol tem de parar? Pior: vão impedir a transmissão dos jogos das Ligas estrangeiras nos canais especializados? Também não? O quê? o Flamengo joga às 15 horas? Tal como o Atlético Madrid? O Manchester City com o Wolverhampton às 14 horas? O Manchester United vai a Newcastle às 16h30? Há Inter Milão-Juventus às 19h45? E Barcelona-Sevilha às 20 horas?
Claramente, a Comissão Nacional de Eleições ainda não percebeu que o futebol, em Portugal, cada vez mais se vê na TV e não no estádio. Toca a restringir, se fazem favor, que vendo bem ainda encontram aí justificação para mais uns pontos percentuais na taxa de abstenção.