A vitória do FC Porto frente ao Sporting em Alvalade, por 2-1, cujo resumo por ver aqui, foi muito fruto da eficácia, como facilmente se comprova pela análise das estatísticas do jogo. Os dragões enquadraram com a baliza de Luís Maximiano sete dos seus dez remates, ao passo que os leões só acertaram no alvo uma vez em 15. E, ao contrário do que até costuma acontecer, desta vez a baixíssima percentagem de acerto da equipa de Jorge Silas na finalização não teve a ver com o abuso de remates de zonas difíceis: é que, sobretudo a abrir a segunda parte, a equipa da casa colocou Vietto (três vezes), Luís Phellype e Bruno Fernandes (uma vez cada qual) em boas situações para desbloquear o marcador, sobretudo fruto do abandono a que o FC Porto estava a votar Corona, muito isolado a defender o seu corredor direito. Sérgio Conceição corrigiu aos 66′, trocando Nakajima por Luís Díaz, e marcou aos 73′, por Soares, aproveitando a habitual excelência nas bolas paradas.
Ainda assim, com exceção de alguns erros patéticos, o Sporting deixou boas indicações no clássico. E um desses erros fez com que praticamente abrisse o jogo a perder. Conceição trocou Marega da direita, onde costuma atuar, para a esquerda, mas manteve-lhe as instruções para explorar o espaço entre o central e o lateral, e foi isso que o maliano fez no lance do primeiro golo.


Com a equipa do Sporting relativamente bem arrumada em organização defensiva, Corona teve espaço para meter o passe longo no espaço atrás de Ristovski e Coates, que Marega atacou assim que percebeu o que aí vinha. Mathieu ainda esboçou uma tentativa de controlar a profundidade, mas para uma zona que não podia ser atacada por nenhum jogador do FC Porto, pois Nakajima estava perto de Corona na perspetiva de explorar a construção curta, Otávio estava controlado por Doumbia no corredor central e Soares vinha em sentido contrário. O resultado foi que Marega se isolou e, mesmo falhando a receção, acabou por fazer a bola entrar na baliza com ela, já que Maximiano deu um passo à direita sem qualquer propósito, desguarnecendo a baliza.


Apesar do golo sofrido, o Sporting estava a conseguir condicionar a saída de bola do FC Porto, adiantando sempre três homens para uma primeira linha de pressão. Curioso é que eles eram quase sempre Vietto, Luís Phellype e Bruno Fernandes, ficando Bolasie mais recuado, provavelmente para tentar estancar as investidas de Alex Telles. Isto obrigava muitas vezes Marchesín a sair com bolas longas, o que beneficiava os leões. Ainda assim, como pode ver nas diferenças entre a imagem 1 e a imagem 2, nem sempre o resto da equipa leonina acompanhava os três homens que faziam a pressão, o que significa que ainda há aspetos a trabalhar.




Ora foi precisamente de um lance em que, mesmo tendo opções de construção curta em Mbemba, Marcano ou até Danilo, Marchesín optou por uma bola mais longa para o corredor central, que nasceu o golo do empate do Sporting. Acuña antecipou muito bem o que o seu colega de seleção ia fazer – e eles vinham a falar um com o outro no regresso das cabinas após o intervalo, quem sabe se a discutir o lance – e ganhou a bola, atacando depois o espaço disponível para a finalização, em claro benefício de a equipa portista ter sido apanhada em contra-pé, pois tinha os laterais projetados e os centrais abertos para sair.






Se é verdade que marcara o seu golo fruto da surpreendente colocação de Marega à esquerda, logo a abrir o jogo, o FC Porto sofreu depois na segunda parte por causa disso mesmo. Marega partia sempre do lado esquerdo, ao passo que na direita Otávio se apresentava sempre mais recolhido no lado direito. Tanto em organização defensiva como ofensiva, Nakajima surgia mais por dentro também, ora próximo de Soares (a defender) ora de Uribe (a construir). Isto gerou uma série de desequilíbrios no lado direito portista, onde Corona ficava muitas vezes abandonado. Sobretudo no início da segunda parte, isso foi evidente.
Repare, por exemplo, no lance em que Vietto levou a bola ao poste. Corona foi atrás de Vietto, que se aproximou de Acuña em apoio de construção, mas o lateral argentino optou antes por lhe colocar a bola nas costas, aproveitando a movimentação contrária de Bruno Fernandes. Otávio, que estava no corredor central, não esboçou reação e foi o lateral mexicano quem teve de perseguir o capitão leonino, sem hipótese de o apanhar, como é evidente. Vietto seguiu para zona de finalização e, depois de ali ganhar um duelo, acertou no poste.




Mas houve mais desequilíbrios destes. Foi do corredor esquerdo que saiu o cruzamento de Acuña para um cabeceamento ao lado de Luís Phellype. Foi também dali, após arrancada de Mathieu junto à lateral a garantir superioridade numérica, que saiu outro cruzamento de Acuña para que Bruno Fernandes chutasse por cima da barra. E foi de uma descompensação geral, com Corona a vir ao corredor central disputar um duelo com Luís Phellype, acabando por libertar Vietto pela meia esquerda, que o argentino esteve outra vez à beira de desempatar.


Sérgio Conceição viu o perigo e mexeu na equipa. Fez sair Nakajima, que estava esgotado, para entrar Luís Díaz. Nisto, Marega foi para a direita e Díaz ocupou a vaga na esquerda, passando Otávio mais para o corredor central, em apoio a Danilo e Uribe. Aqui fica a organização que permitiu que o FC Porto ficasse mais equilibrado e estancasse a hemorragia no seu lado direito que estava a fazê-lo sofrer.


O golo da vitória acabou por não nascer diretamente destas alterações, mas teve muito a ver com elas, pois foi no seguimento delas que o jogo passou a decorrer também no meio-campo leonino. E já se sabe que, jogando na frente, o FC Porto tem mais hipóteses de ganhar lances de bola parada, nos quais pode juntar a mestria de Alex Telles com a capacidade de jogo de área de homens como Soares. A esses dois fatores, juntou-se ainda a desatenção de Doumbia e Bolasie, que deixaram o goleador brasileiro completamente à vontade no momento em que a bola lá chegou.


Até final, Silas desequilibrou a equipa com as entradas de Camacho, Plata e Jesé e foi o FC Porto quem esteve melhor, perdendo ainda algumas ocasiões de fazer um terceiro golo. Mas o jogo, o Sporting perdeu-o antes, quando não foi capaz de aproveitar o desequilíbrio defensivo do FC Porto. E os dragões ganharam-no quando corrigiram esse problema.