Houve um momento bizarro na cerimónia da entrega do Prémio de Jogador do Ano para a UEFA. Como se previa, o defesa-central holandês Virgil van Dijk, do Liverpool FC, acabou por levar o troféu para casa, mas antes do anúncio do vencedor o palco foi roubado por Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, os dois outros candidatos, a quem a entrevistadora fez muito mais perguntas e a quem deu muito mais tempo de antena na transmissão internacional. Van Dijk, sentado ali ao lado, parecia um figurante, quando o show devia ser dele. Hoje, quando os três voltarem a encontrar-se, agora para definir quem vai ganhar o prémio The Best, de Melhor Jogador do Ano para a FIFA, a cena bem pode repetir-se: van Dijk é o favorito, beneficiando também de uma oportunidade única que a federação internacional tem de fazer o futebol parecer um desporto muito mais inclusivo, no qual também se premeiam defesas, mas toda a gente vai querer saber sobretudo o que dirão acerca disso Ronaldo e Messi.
Os apaixonados das teorias da conspiração encontrariam aqui muita matéria para se irem entretendo, mas a verdade é que a emissão de finais de Agosto foi bem conduzida. Tanto Messi como, sobretudo, Ronaldo estavam particularmente bem dispostos – foi dali que saiu o tal “convite” do português ao argentino para irem jantar juntos… – e, quando isso sucede, a condição que os dois partilham, de maiores astros do futebol desde a retirada de Maradona, há uns 30 anos, tem mesmo de ser aproveitada. Pergunta-se então: mas por que razão não ganhou um deles o prémio? Há duas razões. A primeira é que, além de terem passeado nas Ligas internas, tanto o FC Barcelona como a Juventus fracassaram na Liga dos Campeões, muito porque os seus principais jogadores não chegaram em momento eufórico à altura das decisões. A segunda – e fundamental – é que quem atribui estes prémios vive estigmatizado com a ideia de que o futebol só premeia atacantes. Tornou-se, por isso, politicamente correto distinguir defesas, porque geralmente estes troféus são entregues a avançados, a médios-ofensivos ou, no limite, a defesas, mas só se atacarem muito bem.
Se olharmos para a lista dos vencedores da Bola de Ouro, troféu que foi entregue pela primeira vez em 1956, ao extremo inglês Stanley Matthews, encontramos lá um guarda-redes (Yashin, 1963), um líbero particularmente ofensivo (Beckenbauer, 1972 e 1976) e um defesa central à italiana (Cannavaro, 2006) entre uma resma de avançados e de médios ofensivos. O The Best, que durante alguns anos esteve unido a este prémio da France-Football, também viveu sempre encostado ao palmarés do galardão mais reputado. E a verdade, 13 anos passados, é que se olha para trás e é perfeitamente legítimo que quem não esteve lá para ver, agora pergunte: “Canna-quem?” Fabio Cannavaro, importante na conquista do título de campeã mundial pela Itália em 2006, não foi nem pouco mais ou menos um jogador do calibre dos que o antecederam e lhe sucederam na conquista da Bola de Ouro. Como van Dijk não vai ser, quando se olhar para trás daqui a uns dez ou quinze anos. Não quero dizer que o prémio que provavelmente vai receber hoje não seja justo – muito se falou do ano e tal que van Dijk aguentou sem ser uma única vez superado em drible, por exemplo, e é de factos como esse, do valor da sua transferência ou da imponência física nas bolas paradas que se alimentam os mitos.
Mas a verdade está nas palavras de Ronaldo, há um mês e picos: “Nós [ele e Messi] partilhámos o palco durante 15 anos. Nunca antes isso tinha acontecido na história do futebol”, disse o português. E é por isso que o prémio vai para van Dijk mas os melhores do Mundo são os outros dois. O holandês é apenas o figurante que leva o troféu.