Há dias, em conversa com o Rui Pedro Silva, para o seu Vamos Falar de Futebol (pode vê-la aqui, a propósito), recordei o lema do Europeu de 1992, na Suécia, o primeiro grande evento que acompanhei ao vivo como jornalista. Marcado pelo milagre dinamarquês, o Euro’92 foi o último com apenas oito seleções, antes dos alargamentos sucessivos para satisfazer mais e mais clientela, e jogou-se em estádios relativamente pequenos, aos quais toda a gente podia chegar a pé partindo do centro das cidades. O mote da organização era “Small is Beautifill” [“Pequeno é Belo”, em tradução literal], uma ideia roubada ao economista germano-britânico Ernst Friederich Schumacher, o criador da teoria que favorecia as tecnologias ou as políticas mais capazes de favorecer a proximidade em vez da despersonalização cada vez mais vulgar com a chegada da economia de grande escala. E a ideia de que não há um só caminho para o progresso foi agora recuperada pelo Farense, que já anunciou que no regresso à I Liga não vai querer jogar no Estádio do Algarve, preferindo antes manter os seus jogos caseiros no mítico e pequenino São Luís.
É curioso que o Farense escolha o mesmo caminho que em tempos chegou a ser estudado pelo Beira Mar, antes da sua queda nos distritais. O caminho cuja possível inversão tanta polémica provocou em Setúbal, por exemplo, quando se falou no abandono do Bonfim e na construção de um novo estádio, bem mais longe do centro da cidade – ainda que nesse caso as confusões imobiliárias associadas também tenham ajudado. E um caminho contrário ao que seguiu, por exemplo, o Olhanense, que andou a jogar no Estádio do Algarve e não se fixou na I Liga, andando agora pelo Campeonato de Portugal e tendo regressado ao José Arcanjo. A possibilidade de a reta final da Liga 2019/20 vir a dar alguma utilidade aos muitos elefantes brancos que o Europeu de 2004 deixou no tecido infraestrutural desportivo português – além do Algarve há os casos de Aveiro e Leiria – não chega para mascarar o erro de análise que foi cometido nesse tempo de vacas gordas, quando se achava que tudo o que afastava a gente dos estádios eram as más condições em que estes estavam.
Antes de 2004, foram feitas algumas perguntas certas pelos decisores. Por exemplo? Quem quer passarinhar em poças de urina se precisar de ir à casa-de-banho a meio de um jogo? Ou quem quer passar duas horas com o rabo sentado na pedra dura e fria e à chuva para ver um jogo de futebol? Quem é da minha geração e não se lembra pelo menos de uma molha mítica a ver um jogo de futebol não viveu os anos 70, 80 e 90 como tinha de o fazer… A questão é que também foram dadas algumas respostas erradas. A modernização impunha-se, mas a escala de que o futebol português necessitava não era a da grandiosidade imposta por um Europeu. Sobretudo porque para se encontrar espaço para erguer estádios de uma dimensão para a qual nem sequer temos gente foi preciso deslocalizá-los para os arredores das cidades, onde a pouca gente que temos depois tem dificuldades em chegar. Foi um erro. Agora até pode parecer um desperdício deixar às moscas um estádio tão grande e bonito como o do Algarve, enquanto o Farense joga no pequenino e antigo São Luís. Mas desperdício foi decidir construí-lo ali e com aquele tamanho para clubes cuja dimensão aconselha a que se siga a teoria de Schumacher e se dê o poder às pessoas em vez da escala.
e as subidas e descidas do cp !!!
souberam das mudanças no futebol feminino tambem
…….sem os adeptos, futebol e’ nada!…….o Farense faz muito bem jogar em casa…….parabens!…….Steve Wayne (socio do Estoril Praia zangado com o facto que meu clube foi prohibido jogar as ultimas 10 jornadas)
Também não gostei e já escrevi que a II Liga devia ser concluída.