Se o que queria era chamar a atenção da administração da SAD, Jorge Silas fez bem em mudar quase toda a equipa do Sporting do jogo com o Moreirense para a deslocação a Linz, na Liga Europa. E nem vou sequer alongar-me acerca das questões físicas ou da pertinácia de dar oportunidades aos mais jovens neste tipo de jogos, onde, como o próprio técnico leonino disse, “há pouco a perder”. Acho que Silas fez bem porque conduziu uma espécie de exame do algodão a um plantel que voltou a mostrar que, em termos de segundas linhas, está abaixo do do SC Braga, brilhante vencedor em Bratislava, e terá mesmo dificuldades em bater-se com o do Vitória SC, igualmente entusiasmante na vitória em Frankfurt.
Das quatro equipas portuguesas que ontem jogaram, só o FC Porto ainda tinha por resolver a situação relativa à qualificação e, por isso, Sérgio Conceição entrou com tudo no jogo com o Feyenoord, chamando até de volta à titularidade Uribe e Luís Díaz. Dos jogos propriamente ditos, falei na edição de hoje do Futebol de Verdade (pode ver aqui). Por agora, detenho-me no tal exame às segundas linhas. E até admito que me digam que a tarefa do SC Braga era mais fácil, pois o Slovan é pior equipa do que o Lask Linz. Mas então a do Vitória SC seria muito mais difícil, já que os alemães do Eintracht são mais fortes do que os austríacos – e o decorrer normal da prova vai mostrá-lo, mesmo estando a formação de André Silva, Gonçalo Paciência e Bas Dost no segundo pote do sorteio.
Em relação à vitória frente ao Moreirense, Silas mudou nove jogadores em onze – e o facto de os dois que mantiveram a titularidade serem Borja e Jesé, eles próprios segundas escolhas em situação normal, conferia um caráter ainda mais alternativo à equipa titular. Ricardo Sá Pinto foi mais comedido, é verdade: manteve Esgaio, Bruno Viana, Pablo, Fransérgio e Ricardo Horta do onze que perdeu nas Aves. E o facto de ter tido mais um dia de recuperação face a esse desaire é mitigado noutro, o de agora beneficiar de um dia a menos face aos leões, que jogam nos Açores na segunda-feira. Por sua vez, Ivo Vieira foi igualmente revolucionário em Frankfurt e mudou nove titulares em relação à vitória sobre o Portimonense – só ficaram o central Pedro Henrique e o médio Pepê.
Ora foi no rendimento das segundas linhas e na avaliação da falta que fizeram os habituais titulares que esteve o ponto mais interessante de três jogos que já não definiam nada em termos de apuramento – Sporting e SC Braga já estavam nos 16 avos de final, o Vitória SC já não podia lá chegar. Do Sporting, já se sabia que dependia em demasia de Bruno Fernandes, mas se somarmos à ausência do capitão as de Vietto, Wendel e Acuña, o que se vê é um deserto de ideias ofensivo, ao qual o desacerto individual no detalhe de enigmas como Rosier não ajuda nada em termos defensivos. Os 3-0 que os leões apanharam do Lask Linz vieram mostrar mais do que o facto de os austríacos terem sido a melhor equipa do grupo. Vieram mostrar que há ali gente que não faz por merecer oportunidades nem por justificar aquilo que neles foi investido.
Nesse aspeto, foram bem mais felizes Sá Pinto e Ivo Vieira. O treinador bracarense viu gente como João Novais, Trincão ou Rui Fonte justificar a oportunidade de jogarem como titulares – os dois avançados marcaram mesmo cada um o seu golo e o jovem Trincão foi a figura da partida. E, mesmo tendo obtido a reviravolta já com mais titulares em campo e beneficiado da continuidade de Pepê, dominador a meio-campo, o técnico vitoriano recebeu também boas indicações de quase toda a gente, com destaque para Al Musrati, Poha ou Rochinha. Se esta quinta-feira foi o exame do algodão e o algodão não engana, o que ele disse foi que as segundas linhas do Sporting deixam muito a desejar. E que Silas não pode mexer muito, sob pena de ser severamente punido.