Mattia Perin já chegou a Lisboa para fazer testes médicos e assinar pelo Benfica, que está disposto a pagar bem pelo seu passe e, depois, pelo seu salário. É a forma da SAD encarnada assumir que a baliza era um ponto a melhorar na equipa do ano passado e, ao mesmo tempo, a assunção de que não é só o dinheiro – que neste momento nem será tema assim tão urgente na Luz – a fazer a diferença entre a capacidade de convencer apresentada pelos clubes portugueses e pelos que estão nos primeiros mercados do futebol europeu: mesmo pagando bem, o campeão nacional só chega a um guarda-redes promissor mas de carreira estagnada no futebol italiano. Ainda assim, o que mais ressalta desta operação é a inversão de agulha naquela que tem sido a política (sempre bem sucedida) do Benfica no que toca a guarda-redes.
Concordo que se é possível ao Benfica pagar 20 milhões por um avançado não há drama algum em pagar 12 milhões por um guarda-redes. Uma equipa faz-se de tudo isso e a baliza é dos seus pontos mais sensíveis. Depois, apesar das dúvidas físicas em torno de Perin, que em alguns aspetos faz lembrar o caso Juventus-Sporting-Sturaro de há um ano, não vejo nas lesões que o guarda-redes sofreu na temporada passada e que o impediram de dar mais luta a Szczesny na sucessão de Buffon um fator determinantemente impeditivo do seu sucesso na Luz. É para isso que há avaliações médicas e o facto de ter feito uma rotura de ligamentos do joelho em 2016 e outra em 2017 não terá rigorosamente nada a ver com a lesão no ombro que o afetou em 2019 e o vai impedir de se bater com Vlachodimos pelo direito à titularidade desde o início da época.
Depois, ainda que considere que Vlachodimos é um bom guarda-redes – é verdade que deixa um pouco a desejar nas saídas a cruzamentos por alto, mas entre os postes é dos melhores da nossa Liga – também acho que não há nada nas regras não-escritas de gestão de uma equipa que diga que não há margem para melhorar qualquer posição. Certo que a baliza é um lugar muito específico. Quando se contrata um defesa-central ou um médio, não fica desde logo garantido que o lugar de um determinado jogador está em causa. Mas na baliza só joga um de cada vez e é evidente que se joga Perin não joga Vlachodimos – e vice-versa. Porém, ainda que haja treinadores que prefiram ter um titular absoluto, para ele não começar a duvidar de si mesmo, isso não é ciência certa e também aqui podem aplicar-se as virtudes da evolução pela competição interna. Até por isso, o grego não pode levar a mal. É possível que a chegada do italiano o faça sentir-se como aquele avançado que falhou três oportunidades seguidas de golo e vê levantar-se para aquecer o suplente que joga no lugar dele, mas o que ele vai fazer com essa sensação só depende dele: tanto pode estimulá-lo como pode destruí-lo.
Em potencial, Perin é o melhor dos guarda-redes à disposição de Bruno Lage – ainda que me digam maravilhas de Zlobin. E é esse o aspeto para mim mais interessante em todo o caso: a aparente mudança de política do Benfica relativamente às balizas. Quando Luís Filipe Vieira disse, há tempos, que há posições que o Seixal ainda não consegue fabricar, até podia estar a referir-se à baliza, mas o histórico recente dos encarnados tem passado por outro tipo de operações, pela aquisição e valorização de guarda-redes jovens e desconhecidos. Oblak e Ederson, por exemplo, chegaram à Luz para ser terceiras opções e saíram de lá a valer milhões. É esse facto que pode até baralhar aquilo que o Benfica vai fazer com o excedente de guardiões no plantel: Perin, Vlachodimos, Svilar, Zlobin… A lesão de Perin pode funcionar como dissuasor da venda imediata do grego, a não ser que Lage se sinta confortável para começar a época com o russo na baliza. Os jogos nos Estados Unidos certamente já darão uma ideia do que aí vem.