A aposta de Frederico Varandas e Hugo Viana em Rúben Amorim, somada à forma indigna como foi tratado Jorge Silas, que teve de anunciar sozinho que ia embora do Sporting, chegando até a confirmar o nome do substituto, mostram o total desespero que vai ganhando espaço em Alvalade. É que pagar dez milhões de euros por um treinador que tem dois meses de carreira ao mais alto nível já é, em si, discutível, sobretudo num clube que fez meio ano sem um ponta-de-lança por falta de liquidez. Fazê-lo neste momento, a dois meses do final da época, correndo o risco de ver esse investimento espatifado se o novo técnico não for pelo menos capaz de manter o quarto lugar, chega a ser insano.
Esta será apenas a terceira época da história do Sporting com quatro treinadores, o que se já é a prova de algo, é da incompetência de quem os escolheu. Ou da falta de convicção. Ou de um instinto de sobrevivência que leva a que eles sejam sucessivamente sacrificados. Porque, como disse Neto após a derrota em Famalicão, “há coisas que não se compram”. Ou, como explicou Silas, na conferência de imprensa mais digna que me lembro de ver a um treinador que vai sair em 30 anos de carreira, “Rúben Amorim vai precisar de muito apoio”. Silas até chegou a dizer que o seu sucessor precisaria do apoio que lhe deram a ele, mas bastaria olhar em volta para perceber que só podia estar a ser irónico. Porque da ausência de responsáveis pelo desastre que tem sido a política desportiva da SAD leonina naquele momento tão solene têm de se retirar conclusões.
Sim, os treinadores que o Sporting teve esta época não eram os melhores do Mundo. Keizer era um tipo limitado, que foi contratado em nome de uma ideia de que abdicou assim que se viu apertado, mas o currículo que (não) tinha já falava por ele. Cerca de um ano depois de se sentar no cadeirão da presidência e de demitir Peseiro, que ia a dois pontos do topo da tabela na Liga, para apostar no holandês, Varandas já disse que só o manteve no cargo no último defeso porque ele tinha ganho a Taça da Liga e a Taça de Portugal. Após a derrota com o Rio Ave, a 31 de Agosto, coincidindo com o fecho do mercado, Keizer foi mesmo despedido. Ao mesmo tempo, o Sporting não conseguia vender Bruno Fernandes, não contratava substituto para Bas Dost – trazendo, ao invés, uma mão cheia de extremos de utilidade nula – e tentava impor Leonel Pontes, treinador dos sub23, como técnico principal. Pontes ficou à frente da equipa durante um mês, com um empate e três derrotas. Ao fim de um mês, com tempo para ponderar, para perscrutar o mercado, para estudar perfis e fazer contactos, o Sporting apresentou Jorge Silas.
Silas não foi uma escolha feita sob pressão. Tinha de ter sido uma escolha segura. Contudo, cinco meses depois, está também fora do Sporting. Fê-lo, aparentemente, por iniciativa própria, por sentir que aquilo que ele queria não era partilhado pela estrutura. Por ver o trabalho minado por notícias constantes nascidas dentro dessa mesma estrutura – que mudava demais, que não apostava nos miúdos. E se há razão para essas duas questões lhe serem apontadas, se é unânime que o trabalho de Silas não foi brilhante – longe disso… – também é verdade que, tal como o treinador afirmou, o Sporting está melhor hoje do que há cinco meses. Ainda que, mais uma vez, a venda de Bruno Fernandes tenha voltado a ser um filme, concretizada apenas em cima do apito final do mercado de inverno, e que o plantel continue a ter lacunas flagrantes, nas laterais da defesa, na posição de médio-centro, no ponta-de-lança, até na baliza, onde Maximiano vai alternando o melhor com o pior.
Não é possível agora dizer se o Sporting ganhou menos vezes porque o treinador entretanto tinha perdido a equipa ou se o treinador já tinha perdido a equipa porque o Sporting estava a ganhar menos. Certo é que não cabe na cabeça de ninguém que os leões vão disputar um jogo fundamental, fora, contra um adversário direto na luta por uma vaga europeia, depois se saber que o treinador ia sair e que para o seu lugar chegaria Rúben Amorim. E faz pouco sentido que, nesta altura, a dois meses do final da época, com quase nada para ganhar e tanto para perder, o Sporting invista dez milhões de euros – os mesmos dez milhões que nunca teve para um ponta-de-lança, por exemplo – num treinador contratado a um rival, correndo o risco de queimar esse investimento tão avultado se as coisas não correrem bem.
Este “all in” de Frederico Varandas e Hugo Viana pode até render. Basta que Rúben Amorim tenha em Alvalade o mesmo sucesso instantâneo que experimentou em Braga. Mas uma coisa é certa: em Junho, ou o Sporting está realmente muito melhor, ou de quem lá está agora não sobrará ninguém para contar a história.
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