Julian Nagelsmann tem 32 anos e ainda não era nascido sequer quando, em Maio de 1987, o FC Porto venceu o Bayern Munique na final da Taça dos Campeões, em Viena. Era ainda um bebé de colo em 1988 e 1989, anos em que o Benfica esteve pela sexta e sétima vezes na final da competição a que agora se chama Liga dos Campeões. Mas para alguém que conhece a história do futebol, que atribui um peso e um significado às camisolas, faz alguma confusão ver o treinador da moda do futebol alemão referir-se ao Benfica como David e ao RB Leipzig como Golias. Os alemães são a indiscutível melhor equipa do Grupo G mas recém-chegados ao futebol de primeiro nível e Bruno Lage, que na segunda metade da década de 80 já jogava à bola com os amigos e deve ter visto aquelas três finais em direto, seria um autista se não aproveitasse o momento de soberba do adversário para motivar os seus. Mesmo que, depois, isso possa não chegar.
Os sucessivos passos em falso do Benfica nas quatro jornadas já disputadas levam a que os encarnados cheguem ao jogo de hoje encostados à parede e proibidos de voltar a falhar. E para tal é importante que Lage junte duas coisas à indiscutível competência que revela no trabalho semanal: convencer os jogadores do peso histórico das camisolas do Benfica e levar para o relvado a melhor equipa possível de forma a conseguir um resultado que mantenha os encarnados vivos. Porque não basta o treinador dizer, como disse ontem, que escolhe sempre a melhor equipa para cada jogo entre os 26 jogadores que compõem o plantel. É normal que se um jogador está em condição física periclitante e não aguenta dois jogos por semana ele seja poupado num dos dois jogos – o que se pede, depois, é gestão, de forma a que homens como Pizzi ou André Almeida possam ser poupados em jogos menos exigentes, da Taça de Portugal ou até da Liga portuguesa, para poderem aparecer nos grandes palcos da Liga dos Campeões. E é isso que não tem sido feito.
Não me parece que faça qualquer sentido a teoria da montra, a tese que diz que Lage tem levado os miúdos para a Champions para que Luís Filipe Vieira e Jorge Mendes possam depois vendê-los por milhões. A começar porque nenhum tubarão europeu compra por milhões jogadores que fazem má figura – e os miúdos do Benfica chegam à quarta jornadas da Liga dos Campeões em má posição. João Félix, por exemplo, foi vendido por 126 milhões de euros porque tinha o agente que tinha a comandar as negociações, mas sobretudo porque, depois da entrada em funções de Bruno Lage, em Janeiro, se assumiu como titular absoluto e fez 17 golos em 29 jogos até final da época – incluindo um hat-trick ao Eintracht Frankfurt, nos quartos-de-final da Liga Europa. Ao contrário do que muitos pensam, os clubes endinheirados não compram jogadores só porque eles aparecem na ficha dos jogos da Champions ou nas primeiras páginas dos jornais. Têm de provar. E os miúdos que Bruno Lage tem chamado para os jogos europeus deste ano ainda não provaram.
Hoje, em Leipzig, já sabendo o resultado do Zenit-Ol. Lyon, o Benfica só tem uma hipótese. Tem de ganhar. E para ganhar precisa dos melhores em campo. Não os melhores no dia de hoje em função do desgaste que tenham sido levados a acumular em partidas anteriores. Do que precisa é dos melhores em absoluto. Porque se era preciso geri-los, era em Vizela que eles tinham de repousar.